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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Carol (2015) de Todd Haynes

De Carlos Natálio · Em 3 de Fevereiro, 2016

Em 1945, o britânico David Lean realizou Brief Encounter (Breve Encontro, 1945) sobre um affair vivido por um casal, homem e mulheres casados, no final dos seus trintas, entalado numa vida de pseudo felicidade. Quem o viu sabe que esse momento de amor era um comboio súbito que apenas passa uma vez na estação (curioso que no filme de Haynes os comboios, sendo o símbolo masculino por oposição às bonecas, são também esse sinal de viagem idílica). Mas quem o viu, sobretudo não esquecerá a mão que Trevor Howard coloca no ombro da sua amada Celia Johnson em jeito de despedida — “I felt the touch of his hand on my shoulder and then he walked away” —, impedidos que estavam de se despedirem propriamente. Esta mão, este gesto do adeus possível é como começa Carol (2015), o último filme de Todd Haynes.

Carol (2015) de Todd Haynes

Se há aqui uma ressonância ela é demasiado forte para se explicar numa mera curiosidade cinéfila. Seguramente que se pode começar por aqui, pela dimensão neoclássica do cinema do norte-americano que, à parte os seus filmes “musicais” [Velvet Goldmine (1998) e o mais recente I’m Not There (Não Estou Aí, 2007)], se foi aproximando do trabalho arquetípico sobre o dilema da mulher desamparada, embatendo no muro das convenções sociais. É certo que Safe (Seguro, 1995) ainda é um filme independente (na forma e no conteúdo) mas há nele o iniciar de um caminho que vem inquirindo as mulheres americanas bem vividas e melhor casadas. Acerca das suas perturbações psíquico químicas, questões raciais e de adultério [o melhor dos seus filmes, Far From Heaven (Longe do Paraíso, 2002), inspiração tirada de All That Heaven Allows (Tudo o que o Céu Permite, 1955) de Douglas Sirk] e agora o problema de uma mulher poder amar outra em plenos anos 50 de uma América pós Guerra, a braços com uma perseguição homossexual (o dito “lavender scare” por relação com o “red scare” comunista).

O dito no não dito, a sugestão do toque, da cor e da textura são os sinais de uma lava proibida num filme que retrata um período em que o lesbianismo era, ou uma questão de moral, ou uma questão de psicoterapia.

Carol é a adaptação de um romance de Patricia Highsmith intitulado The Price of Salt, escrito em 52 sob o pseudónimo de Claire Morgan. E nele a escritora assume uma relação com uma mulher mais velha, casada. É aqui o papel de Cate Blanchett que seduz uma jovem (Therese Belivet, interpretada por Rooney Mara) que encontra numa loja, durante o Natal, envergando um belo chapéu alusivo à época. O filme de Haynes centra-se narrativamente no encontro, desencontro e reencontro do casal, tendo como fundo um processo de divórcio de Carol e a luta pela custódia da sua filha. Se ao casal se juntar, a ex-amante de Carol, a agora confidente Abby (Sarah Paulson), percebemos que o trio feminino deste filme (ao qual poderíamos juntar a figura da própria escritora da história) é não só o seu centro, como se escuda de um conjunto de homens não muito inteligentes, largueirões na fisionomia e no pensamento.

A história é simples e simples a mantém Haynes. Perante isto há que interpretar qual o sentido do gesto dessa simplicidade. Os mais apressados dirão: Carol é uma história de amor ponto, nem procura sequer filmar uma especialidade qualquer no retrato daquele amor homossexual. Carol e Therese são dois seres humanos que se desejam e nem sequer falam do mundo que as rodeia, é a aproximação que as define. Esse argumento procuraria trazer a realidade retratada para a norma (esforço que aplaudiríamos caso correspondesse ao filmado). Do outro lado, igualmente apressado, vê-se em Carol a entrada subtil na corrida oscarizável com três etiquetas: o filme de qualidade; o filme sobre questões sociais importantes que o discurso liberal da academia costuma anualmente premiar; e, finalmente, o filme que, depois de Blue Jasmine (2013) de Woody Allen, poderá vir a dar em anos consecutivos o prémio de melhor actriz a Blanchett.

Mas convenhamos, mais importante do que tudo isto é o gesto sobre o ombro de Rooney Mara em que Haynes cita Lean. Ou o plano em que esta surge enquadrada à noite com um candeeiro de rua antes de apanhar o taxi (outra citação, neste caso de Sirk). Estes indícios mostram-nos que Carol não quer ser um filme bandeira de nada, sequela no feminino de Brokeback Mountain (O Segredo de Brokeback Mountain, 2005). E chegamos ao neoclassicismo no qual Carol é uma evocação de Katharine e Belivet de Audrey. Ambas Hepburn. Chegamos ao verde e ao vermelho, cores deste “Christmas Carol”, captadas pela imagem granulada da película super 16mm com que o filme foi captado. Chegamos à banda sonora que alterna o piano e o violino ternos de Carter Burwell e o jazz intimista de Billie Holiday e Georgia Gibbs. E finalmente ficamos com os sorrisos subtis, entoações e olhares de Blanchett que procuram sair de uma contenção da qual não pode sair. Esse dito no não dito, a sugestão do toque, da cor e da textura são os sinais de uma lava proibida num filme que retrata um período em que o lesbianismo era, ou uma questão de moral, ou uma questão de psicoterapia.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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1 Comentário

  • QueerLisboa 2016: ante-visão | À pala de Walsh diz: 15 de Setembro, 2016 em 4:44

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