Depois de 2 Days in Paris (2 Dias em Paris, 2007), comédia romântica muito tagarela com laivos do díptico Before Sunrise (Antes do Amanhecer, 1995) e Before Sunset (Antes do Anoitecer, 2004) de Richard Linklater, em que Julie Delpy contracenava com Ethan Hawke, a actriz/realizadora ensaia uma sequela para a vida de Marion e sua inconveniente família francesa.
Em 2 Days in New York (2 Dias em Nova Iorque, 2012) só muda o parceiro: em vez de Adam Goldberg, Chris Rock. No resto, é outra vez a história do choque de “civilizações” entre a disfuncional família de Marion e o namorado americano (que agora é afro-americano, imagine-se o potencial…). Na verdade, o cenário, como se percebe pelo título, também se altera — os americanos, desta vez, “jogam em casa” —, mas como a acção decorre quase por inteiro num apartamento, pouco se dá por isso. A não ser na sequência final no Central Park, podia ser Nova Iorque como podia ser Tondela.
O pior é que o estudo das relações — as tensões, os ciúmes, os receios, os ex, a família —, que era o que dava mais interesse a 2 Days in Paris (uma espécie de sub-Linklater), é substituído por… não, não é substituído por nada, apenas desaparece. Assim, 2 Days in New York reduz-se a um festival de estereótipos: os franceses, mal cheirosos, obnóxios, sexualmente “livres” e desbocados; os americanos, com os seus politicamente correcto e regras para tudo, eternamente perplexos com as atitudes dos franceses. As personagens nem caricaturas são, destituídas de qualquer função que não seja a de reforçarem estes preconceitos (e Delpy é particularmente maldosa para com os seus compatriotas). É o estereótipo pelo estereótipo; Delpy, se tenta encontrar a piada nas situações, já de si extremamente previsíveis, contenta-se com a primeira que lhe aparece, que, não espanta, ocorreu a inúmeras pessoas antes dela e é, portanto, batidíssima.
O mesmo se aplica ao pequeno sub-enredo da exposição de Marion, uma sátira ao mundo das artes, que, como tudo o resto, não passa de um rodízio de lugares comuns: críticos, artistas, galeristas, italianos (vá-se lá saber porquê) são representados da forma mais básica possível (mais uma vez o cliché). Nem a inesperada presença de Vincent Gallo como comprador da alma de Marion (que só se pode dever à beleza de Delpy, já que não se acredita que Gallo tenha aceitado entrar no filme por outra razão), nem os pequenos sit-downs (porque está sentado) de Chris Rock, monólogos que se transformam em diálogos com, adivinhe-se…, Barack Obama (em cartão), conseguem ter graça ou salvar, ainda que por instantes, esta inanidade. (A única coisa que tem piada é aquela campainha estridente e só porque tenho uma e sei o que custa; de qualquer forma, nem esse gag é bem aproveitado.)
É tudo muito pobre. 2 Days in New York é uma comédia rasteirinha. É como se Delpy tivesse trocado Linklater por Dany Boon. E, apesar de tudo, entre isto e Bienvenue chez les Ch’tis (Bem-Vindo ao Norte, 2008), que também se estrutura à volta dos estereótipos, mais vale o segundo. Ao menos, tem a inteligência de os usar ironicamente, de partir deles para chegar a outra coisa. Julie Delpy limita-se a eles. E acaba com um filme que é ele mesmo um estereótipo de um certo tipo de cinema.