Começa amanhã mais uma edição do Queer Lisboa, aliás a décima sexta (deixo assim por extenso para que se tome noção do tamanho), fazendo deste o mais antigo festival de cinema da capital. Mas se outros festivais irmãos, ao fim de poucas edições, se espalhavam por múltiplas salas ao longo de Lisboa (com um machibombo a fazer estafetas entre todas elas) o Queer manteve-se, desde muito cedo, na casa mãe de (quase) todos os festivais lisboetas: o cinema São Jorge. Este ano não será diferente, as duas salas do mítico cinema receberão mais de 90 filmes entre 21 e 29 de Setembro. Como são muitos filmes (e hoje em dia ninguém tem tempo para nada) dou umas dicas.
Comecemos pelos portugueses. Há este ano presença de mãos nacionais na secção Queer Art com O Rei dos Gnomos (King Ghob, 2012) um projecto vindo de Guimarães – Capital Europeia da Cultura que toma o caso que saiu nos jornais de um homem (da zona da Lourinhã) que praticava um religião alternativa e seduzia jovens para a sua casa macabra decorada com gnomos de louça. Os artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira partem dos vídeos que Francisco Leitão (o dito Rei Ghob) publicou na internet e montam uma longa constituída por vários segmentos independentes [22 à 00h no Teatro do Bairro]. Ainda nesta secção convirá tomar atenção à sessão de curtas [27 às 17h15] onde passarão alguns dos títulos mais conhecidos (e recentes) de realizadores portugueses de temática queer, nomeadamente O Que Arde Cura (2012) de João Rui Guerra da Mata (premiada recentemente no Festival de Locarno) e Parabens! (1997) de João Pedro Rodrigues (onde cada um dos realizadores protagoniza a curta do outro); esta sessão será sucedida de um debate sobre o cinema de temática queer em Portugal.
Na competição para a melhor curta-metragem posso destacar António da Silva e José Gonçalves. O primeiro apresentou o ano passado Mates (2011) recebendo grandes elogios, e regressa este ano de novo com a questão do sexo casual auxiliado pelas aplicações de telemóveis, Pix (2012) e Bankers (2012) [27 às 23h30 e 23 às 00h] e ainda com Julian (2012) [27 às 17h15]. A acompanhar as curtas de António da Silva está a longa I Want Your Love (2011) de Travis Mathews cujo documentário In Their Room: Berlin (2011) estará também presente na programação [28 às 00h e 24 às 21h30] observando as vidas de vários berlinenses.
Ainda na competição para a melhor curta-metragem não poderá escapar o musical The Man That Got Away (2012) de Trevor Anderson em que se conta a história do tio-avô do realizador através de 6 canções [26 às 19h30] ou La Santa(The Blessed, 2012) de Mauricio López sobre uma menina intersexual que se vê obrigada a representar a virgem Maria para se curar [27 às 17h15 e 25 às 21h30] ou ainda Tsuyako (2012) de Mitsuyo Miyazak, um filme de época sobre uma mulher presa entre a sua família e o amor por outra mulher.
Na competição de longas de ficção temos vários títulos de sobejo interesse (para além do filme de abertura, Weekend (2011) de Andrew Haigh [21 às 22h e 23 às 17h15] que recebeu inúmero louvores o ano passado e está fora de competição) entre eles Skoonheid (Beauty, 2011) que esteve na secção Un Certain Regard de Cannes o ano passado vencendo a palma Queer [28 às 22h e 29 às 15h] temos Mosquita y Mari (2012) sobre duas adolescentes (filhas de emigrantes mexicanos em Los Angels) que se apaixonam [26 às 22h, competição em Sundance], Keep the Lights on (2011) vencedor do prémio Teddy na Berlinale [22 às 22h e 25 às 17h15], A Novela das 8 (Prime Time Soap, 2011) de Odilon Rochae sobre os anos da ditadura fascista em que a vida de discoteca conheceu um boom com a (versão original da) novela Dancin’ Days [27 às 22h e 28 às 17h] e finalmente Noordzee Texas (North Sea Texas, 2011) filme belga sobre a descoberta sexual de um adolescente numa pequena localidade rural [22 às 17h15 e 24 às 17h15].
No que aos documentários diz respeito a competição para melhor longa documental esconde alguns títulos que despertam o apetite: Olhe Pra Mim de Novo (2011) uma viagem pelo sertão brasileiro narrada por um Syllvio um transexual prestes a concretizar a mudança cirúrgica de sexo [25 às 21h30 e 27 às 17h15], Habana Muda (2011) que acompanha a vida de Chino um operário surdo (cuja mulher é muda) que mantém uma relação com um mexicano rico [27 às 21h30, esta sessão é precedida de outra também relacionada com a temática da mudez] ou Jaurès (2011) uma espécie de filme diário, a actriz Eva Truffaut e o realizador Vincent Dieutre comentam as filmagens que este fez a partir da janela de casa do amante (que acompanha a conversa e as imagens ao piano) [28 às 21h30].
Regressando à secção Queer Art não podia deixar de referir mais dois filmes, Marina Abramović: the Artist is Present (2011) [22 às 19h30] e Joshua Tree, 1951: A Portrait of James Dean (2011) [23 às 22h e 27 às 17h], ambos primeiras incursões na longa para os seus realizadores e ambos sobre artistas (os do título). A artista está presente corresponde ao nome da exposição que o MoMA – The Museum of Modern Art lhe dedicou em que ela, a artista, estava presente todos os dias numa instalação em que defrontava o olhar de qualquer visitante. O retrato de James Dean é um exercício sobre o se não aconteceu podia ter acontecido, visitando o homem que viria a ser o actor que todos conhecemos.
Para terminar em força noto que na secção Noites Hard convém não deixar passar ao lado Fucking Different: XXX (2011) quarta investida do projecto Fucking Different que vem fazendo longas de antologia com curtas ligadas por um tema comum (uma resposta à longa comunitária Paris, je t’aime (2006) e as outras que se fizeram e hão de fazer), ao início foram as cidades (New York, Tel Aviv e São Paulo) agora é o gosto pelo cinema onde o sexo é explícito [8 curtas entre Paris, Berlin e São Francisco, dia 22 às 21h30]; nem do programa dedicado a Peter de Rome (com colaboração do BFI – British Film Institute) com várias curtas deste cineasta que ajudou a fundar a pornografia gay [23 às 23h30 e 27 à 00h].
Claro que será o leitor a fazer as suas escolhas e descobertas num festival que tem ainda muito por desvendar.
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