A propósito do Festival Córtex – dedicado às curta-metragens (primordialmente as produzidas em Portugal no último ano, mas também a algumas estrangeiras) – que irá decorrer esta semana no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, cuja sessão inaugural [quarta-feira, dia 28 de Novembro] será preenchida por cinco filmes de Antonio Campos, mais (re)conhecido pela sua primeira longa-metragem Afterschool (Depois das Aulas, 2008), o João Lameira e o Ricardo Vieira Lisboa entrevistaram o jovem realizador americano de ascendência brasileira. A forma da conversa correspondeu ao seu conteúdo (a parte dele, pelo menos: os vídeos da Internet e afins), uma vez que foi conduzida através do Skype (passe a publicidade), numa primeira instância em português (que Campos herdou do pai), para rapidamente passar para o inglês, a verdadeira primeira língua do realizador, que assim se pôde expressar à vontade.
À pala de Walsh – Parece que os teus protagonistas vão crescendo contigo: no Puberty (1997), o rapaz tem treze anos; no Afterchool, tem 16; e no teu último filme, Simon Killer (2012), que ainda não vimos, tem 21. Sentes que te estás a filmar a ti próprio, às tuas preocupações?
Antonio Campos – Fiquei preso à adolescência, contando histórias desse tempo, histórias da minha vida. Outras eram ficção, ou histórias de pessoas que conheci, ou de coisas que li. Não queria fazer outro filme sobre adolescentes, o próximo período a filmar era a vida depois da universidade. Para mim, foi uma progressão natural.
ApdW – Foste um cineasta muito precoce, fizeste a tua primeira curta-metragem, Puberty, quando tinhas treze anos. Sempre soubeste que querias ser realizador?
AC – Quando comecei, fui influenciado por filmes. Sempre gostei de ir ao cinema, representar cenas de filmes e coisas do género. E depois percebi que havia alguém que fazia os filmes e que esse alguém era o realizador. E fiquei obcecado com essa ideia. Vi um anúncio para uma escola de cinema [a New York Film Academy] e resolvi tentar. O meu irmão mais velho disse-me “não, nunca vais conseguir” e eu respondi-lhe “ai não, vais ver”. Se calhar só o fiz para demonstrar que ele não tinha razão. Quando realizei o meu primeiro filme, soube que era aquilo que eu queria fazer. Depois dessa primeira curta-metragem, comprometi-me sem qualquer hesitação. Também serviu como forma de catarse. O meu primeiro filme era acerca da puberdade e achava que podia dizer alguma coisa através dos meus filmes, que podia expressar o que sentia: a confusão, as dúvidas, as inseguranças. Ao fazer um filme, ao passar tanto tempo com as coisas que me preocupavam de uma maneira tão intensa, depois desse processo, era como que se ultrapassasse esse momento, largasse um bocado de mim com que eu queria lidar ou confrontar-me. Para mim, fazer filmes foi sempre terapêutico.
ApdW – Mas eras muito novo quando começaste, já tinhas consciência disso?
AC – Provavelmente só comecei a tomar consciência disso um pouco mais tarde na minha adolescência. Mas olhando para trás, para tudo o que já tinha feito, era sempre eu a lidar com aquilo que me estava a acontecer no momento. Eu sabia que tinha a necessidade de fazer filmes, de fazê-los de uma maneira muito pessoal, nunca tive vontade de fazer ficção-científica ou comédias românticas. Fui levado para histórias mais intimistas desde muito cedo. À medida que fui crescendo, o tamanho das histórias foi aumentando, mas na sua essência são sempre intimistas.
ApdW – Nos teus filmes, há sempre muitos ecrãs: os vídeos de Youtube, a televisor que está sempre ligado. Há uma profusão de imagens como há uma profusão de imagens no nosso mundo. Como é que as imagens que tu produzes se destacam de todas essas outras?
AC – É uma boa pergunta. Pode um filme como o Afterschool competir com um vídeo de um gatinho? Acho que não: um é como um bombom, que se consome facilmente e esquece-se depressa; com o outro tem de se estabelecer uma ligação. É uma dieta diferente. E também são meios muito diferentes. É por isso que muitas das vezes que estes vídeos aparecem nos meus filmes ficam fora-de-campo. No Afterschool é um bocadinho diferente, porque se olha de frente para esse tipo de fenómeno. Ainda assim, os sons periféricos e o que não se vê são mais importantes. Se se vai representar o mundo de hoje, tem de se reconhecer a existência destes vídeos. Não mostrá-los seria como fazer um thriller em que ninguém usasse telemóveis. Temos de lidar com o facto de que esta tecnologia existe e faz parte do nosso dia-a-dia. Ainda mais, se estamos a lidar com personagens adolescentes. Ao mesmo tempo, é um conflito interessante, entre as imagens que são vistas no filme e as imagens do filme. E também é um elemento inerente àquela história.
ApdW – Estás de alguma forma não diria obcecado mas muito curioso em relação a essas imagens que estão constantemente a ser produzidas e mostradas na internet?
AC – O que aconteceu comigo, com todos os vídeos que andava a ver… Nós consumimos estes vídeos como entretenimento. Pedacinhos da vida de outras pessoas. E era isso que me assustava. E também dar-me conta, aquando da preparação de Afterschool, que estava a ficar cada vez mais entorpecido perante os mesmos. Ao segundo mês, era capaz de ver alguém a dar um tiro na cabeça sem ter qualquer tipo de reacção. Um ou dois anos depois, já nem sequer consigo olhar para aquilo. Na preparação do Afterschool, fui perdendo a sensibilidade em relação àquilo que via, pelo que ia procurando imagens cada mais fortes e duras. É como se fosse um agarrado da internet. Quando éramos miúdos, havia o Faces of Death (1978), que todos tentávamos ver, mas agora é diferente uma vez que a internet é omnipresente, ao contrário da altura. E havia sempre a sensação de que era falso. Agora não se procura o falso, ninguém quer ser entretido com o falso, queremos ser entretidos pelo real. Uma pessoa sente-se enganada se aquilo que vê não for real. É uma dinâmica estranha, é algo que me preocupa. Mas parece-me que é assim, é algo que existe e com que temos de conviver.
ApdW – É importante para ti que essas imagens sejam reais?
AC – Não, neste momento, não me sinto enganado se não forem reais. Não vou à procura de coisas horríveis na internet. Há qualquer coisa naquilo que eu faço… quando realizo um filme, ando à procura do mais autêntico possível. Não gosto de coisas que não são verdadeiras, fico obcecado por tentar encontrar um momento de honestidade, em que as pessoas consigam ser completamente honestas, de mais às vezes, que se ponham em frente à câmara de uma maneira brutalmente honesta. Estou sempre preocupado em conseguir o genuíno e o autêntico. Estou sempre à procura de emoções reais, reacções reais. Portanto, não fico obcecado… procuro imagens noticiosas, documentários, found footage, só para perceber com que é que a realidade se parece. Vejo as reacções das pessoas, as suas emoções, o que é que acontece quando alguém perde um filho, quando alguém fala da morte, de coisas desconfortáveis, quando é confrontado com perguntas inconvenientes, para perceber como é que essas coisas se apresentam. Sabemos como é que sentimos essas coisas mas não com o que é que se parecem. Estava à procura disso. Se alguém faz um filme a que me parece real, já teve sucesso. É isso que eu tento fazer. Se me conseguirem chocar sem magoarem alguém, é uma coisa maravilhosa. As pessoas que fingem estão mais próximas daquilo que eu faço do que aquelas que fazem coisas horríveis e as põe na internet. É importante para as pessoas saberem [se é falso ou real]. O que mais me surpreendeu quando o Afterschool estava a ser apresentado em festivais foram os pais que ficavam zangados comigo por mostrar os adolescentes a verem estes vídeos. O que eu lhes dizia era: “primeiro, isto não é sobre o vosso filho; se eu pusesse aquilo que as pessoas vêem mesmo, o que os adolescentes vêem mesmo, vocês nem conseguiriam sentar-se na sala de cinema.” Fui muito prudente quanto ao que mostrava, porque a realidade é muito mais chocante. É curioso que as pessoas acreditem que, por alguma razão, estas coisas que estão por todo o lado não são vistas pelos próprios filhos.
ApdW – A parte documentário de Buy It Now (2005) [em que supostamente Campos edita o diário filmado de uma rapariga de 16 anos que vende a virgindade num leilão digital e depois se tenta suicidar] é real?
AC – Não. O leilão é real, nós pusemos o leilão na internet, deixámo-lo apenas por 24 horas e obtivemos algumas respostas. Portanto, as respostas são reais. Tudo à volta do leilão é real. O sexo e a rapariga é tudo fingimento. Estava bastante obcecado na altura em fazer as coisas parecerem autênticas. E depois isso teve um seguimento no Afterschool: a maior parte dos vídeos do Youtube fomos nós que os fizemos. Parecem merdosos, amadores, o som é mau, só se apanha uma determinada parte da informação, usa-se muitos títulos e legendas, para as pessoas acreditarem que são reais. De qualquer forma, era uma maneira natural de uma rapariga contar a sua história. Os adolescentes são obcecados em documentar as suas vidas, seria o que uma rapariga de 16 anos faria.
ApdW – Querias chocar as pessoas?
AC – Estava mesmo a tentar criar uma coisa o mais realista possível, não queria chocar alguém. Só tentei chocar intencionalmente umas duas vezes na minha vida, apenas para ver o quão chocado alguém pode ficar. Não estou interessado nisso, fico entusiasmado em criar ambientes e histórias que parecem autênticos. Às vezes, quando faço isso, as cenas e a representação são hiper-realistas, não se parecem com um documentário. São mais uma versão estranha da realidade, que parece autêntica. Desde que o objectivo seja criar algo autêntico, independentemente do resultado – quer seja um estilo próximo do documentário ou algo diferente -,está-se no bom caminho.
ApdW – Quantos aos vídeos do Youtube, preocupam-te os efeitos que possam ter nos adolescentes?
AC – Têm que ter necessariamente consequências. Seria ilógico pensar que uma geração inteira exposta a esta quantidade de imagens não censuradas não sofreria impacto algum. Eu percebo que estas coisas podem ser boas ou más, mas não se pode negar a beleza da democratização da realização de filmes, do acesso… Mas é muito estranho, agora quando as pessoas querem alguma coisa, não querem esperar por ela, e isso é parte dessa cultura. E também porque estamos tão expostos a esse constante fluir de imagens reais, a fasquia fica mais alta, é mais difícil criar algo. Mas é o que é. Só temos de documentar esse fenómeno.
ApdW – Chegaste à tua forma de filmar – a câmara muito parada, algumas panorâmicas, faz lembrar uma câmara de vigilância, já que não segue as personagens e às vezes se cortam as cabeças, manténs as distâncias também – por contraposição à maneira de filmar desses vídeos?
AC – Sim e não. Nesses vídeos, por vezes, há um desrespeito total por aquilo que uma câmara deve fazer, esta nem sempre está apontada para o que está acontecer, às vezes está virada para o chão e só se ouve a luta, outras vezes é passada de mão em mão, pela multidão. Há sempre uma obstrução da realidade, não se vê sempre aquilo que se quer ver. De alguma maneira, há uma correlação entre as duas maneiras de filmar. Nos meus filmes, a câmara parece de vigilância, e uma câmara de vigilância está fixa normalmente e as pessoas aparecem onde aparecem. E a tensão e o mistério do que não se vê é sempre mais interessante do que se vê. A maior parte das vezes, pelo menos. Eu diria que reajo menos aos vídeos do Youtube do que ao estilo MTV de câmara à mão, de falso documentário, que é a aproximação usual à adolescência. Reajo também à ideia de rapidez dos filmes sobre pessoas mais novas, que têm muita música e um maneira de filmar muito agressiva. Eu queria sondar a adolescência com um estilo muito diferente, olhando de longe. Na verdade, esse estilo vem da vontade de dar um passo atrás e olhar apenas, dando à adolescência um estilo mais de filme de autor [tradução livre de art-house].
ApdW – A sexualidade é muito importante nos teus filmes, no entanto, até ao Simon Killer, o teu último filme, que não vimos mas que, pelo que lemos, é mais explícito, não a filmas. Quando alguma coisa se prepara para acontecer, a câmara costuma fugir.
AC – O Simon Killer é mais explícito, já que é um filme sobre sexualidade; se não a mostrasse, seria desonesto. É um filme sobre sexo, ou sobre sexualidade e violência, e eu estava bastante interessado no sexo e queria que a violência fosse sentida mais do que vista. E faz parte da história. Todas as cenas de sexo que havia feito até aqui eram com miúdos, e há qualquer coisa acerca disso, no embaraço dessas cenas, que me levava a crer que era melhor não mostrar do que mostrar. No Simon Killer, muito do que interessa saber sobre a relação entre o rapaz e a rapariga revela-se no tipo de sexo que eles têm. Faz parte da narrativa, da maneira de contar a história.
ApdW – No Afterschool, Rob [o protagonista] tapa a boca de uma das raparigas que morrem, não é que ele a mate, mas ajuda-a a morrer, só que nunca é acusado por esse gesto porque não há qualquer imagem do mesmo. É como se por não haver imagens aquilo nunca tivesse acontecido. Foi intencional, como se declarasses que a realidade só existe quando é registada por uma câmara?
AC – É a única cena do filme filmada em câmara à mão, é a imagem mais ambígua e incerta. Para mim, se não foi apanhado por uma câmara, é apenas um pensamento. Não há maneira de se saber o que se passou se não está documentado.
ApdW – Mesmo na ficção? Dizes que a cena é ambígua. Quiseste que assim fosse ou é ambígua também para ti?
AC – Eu tenho a minha opinião sobre o que acontece, mas fi-lo propositadamente assim e isso chateia as pessoas.
ApdW – No Afterschool, a escola funciona como uma comunidade fechada, em que os miúdos estão a aprender a ser adultos, o que nos teus filmes significa trair a própria personalidade, ser um hipócrita de que se deve desconfiar, alguém que não quer saber dos miúdos. Essa é a tua opinião acerca do crescimento?
AC – Isso é um bocado cínico de mais comparado com o que eu penso. Há um grande afastamento entre os miúdos e os adultos nestes filmes, não têm qualquer ligação. Há duas realidades: a dos miúdos e a que adultos, os pais, supõem que é a realidade dos miúdos. Todos os adultos estão a tentar fazer o melhor possível, não é que sejam maus intencionalmente. As más decisões ou aquilo que parece cruel e insensível são apenas os adultos a dizerem aquilo que acham que devem dizer ou a fazerem aquilo que acham que devem fazer. Nunca escrevo uma personagem a pensar que ela vai fazer alguma estupidez, ao invés aquela pessoa pensa que não deve contar toda a verdade porque isso iria criar demasiados problemas. Existe uma lógica que é diferente da lógica do público; o público julga que sabe sempre tudo. Os adolescentes andam sempre à procura de um guia e descobrem-no entre os amigos. Até agora, em todos os filmes, os pais estão fisicamente distantes e desligados.
ApdW – Mas estamos a pensar no reitor do Afterschool, que quando está a ser filmado faz uma cara triste de propósito.
AC – A personagem sabe que aquelas raparigas [as que morreram] fizeram merda, que morreram por causa das drogas, e tem de fazer aquela cara. Todos nós já demos entrevistas e, se dissermos alguma coisa que não queríamos dizer, pedimos para repetir. Não é que ele seja uma pessoa horrível, mesmo se é verdade que não é particularmente simpático. Há qualquer coisa que eu estou a tentar expor nessa cena, mas não será necessariamente muito importante, é o que é.
ApdW – Não estás a julgar os adultos?
AC – De certa maneira, estou a julgá-los, mas fundamentalmente estou a contrapor os adultos ao Robert. A missão do Robert é encontrar algo verdadeiro e autêntico e os adultos põem caras tristes e fazem luto da maneira que pensam ser a melhor.
ApdW – Mesmo os outros miúdos parecem estar a querer imitar os adultos.
AC – São influenciados por eles. Os adultos estão mais interessados em lidar com a situação para poderem andar para a frente, enquanto o Robert tenta perceber alguma coisa. Quando se é adolescente, anda-se sempre à procura de respostas. Um adulto pode não querer saber as respostas e preferir aceitar as coisas como são. Da maneira como vejo, é o Robert contra toda a gente mais do que qualquer dedo apontado aos adultos.
ApdW – No The Last 15 (2007), quando o miúdo tenta o suicídio, os adultos não sabem o que fazer, a única pessoa que reage é a mãe. Essa falta de ligação parece um traição.
AC – Sim, quando as pessoas que deviam estar a tomar conta de alguém, neste caso um miúdo, e há algo que está errado na maneira como vivem, dá-se uma espécie de traição, uma traição dessa confiança. Aquilo que eles fazem não é aquilo que dizem que se deve fazer, o exemplo que apresentam está errado. É a maneira como as personagens saem quando eu as escrevo. Há uma falta de ligação, uma falta de confiança entre as pessoas, o que leva a mais mentiras.
ApdW – No The Last 15, o mundo está literalmente a cair aos bocados. De alguma maneira, é mais surrealista do que os teus outros filmes.
AC – O tecto cai literalmente nas suas cabeças. É suposto ser engraçado. Não é bem uma comédia, mas é engraçado. É muito consciente, uso umas legendas para dar informações, de uma maneira como nunca fiz. É uma piscadela de olho. E acho que resulta. Nunca se sabe se algo tão literal como o tecto a cair nas suas cabeças sem eles quase darem por isso vai resultar, tem de se fazer passo a passo, o mais realisticamente possível. E é plausível, e é suficientemente subtil. De qualquer maneira, saiu da maneira que saiu e continua a parecer-me engraçado.
ApdW – Nesse sentido, é mais engraçado do que os teus outros filmes.
AC – O Simon Killer também tem momentos engraçados, de um humor negro.
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Neste momento, Antonio Campos teve de sair de casa para ir para um casting [provavelmente uma nova produção da Borderline, a companhia que mantém com Josh Mond e Sean Surkin, pelo que a conversa foi interrompida]. Contudo, prometeu que responderia às restantes perguntas por email e assim o fez.
ApdW – Viveste em Paris durante algum tempo e filmaste o Simon Killer lá. Achas que mudou a tua maneira de ver as coisas? Como é que evitaste todos os clichés de Paris quando filmaste a cidade?
AC – Não me parece que tenha alterado a minha maneira de ver as coisas, mas a cada filme, fico melhor naquilo que faço. O Simon Killer foi uma experiência difícil, que me fez ser melhor realizador. Provavelmente libertou-me de muitas das restrições que me auto-impunha antes. Nós não filmámos os clichés, mantivemo-los fora-de-campo ou desfocados. Basicamente filmei os sítios turísticos de Paris como os pais em Afterschool.
ApdW – Sentes que fazes parte de uma nova geração de realizadores americanos, como a Kelly Reichardt, a Debra Granik ou o Lance Hammer?
AC – Não tenho a certeza. Sinto que há muita coisa excitante a acontecer no cinema hoje em dia, e sinto-me feliz por fazer filmes ao mesmo tempo que os outros jovens realizadores interessantes. Mas definir uma geração ou um movimento parece-me um trabalho para os críticos que vêem os filmes.
ApdW – Como é que funciona a tua parceria com o Josh Mond e o Sean Durkin na Borderline? Gostas de produzir os filmes dos outros?
AC – Nós trabalhamos juntos e ajudamo-nos há quase dez anos. Quando um realiza, os outros dois produzem. Quando um está a escrever um argumento, os outros dois continuam a trabalhar para sustentar a produtora e, por conseguinte, aquele que está a escrever. Mesmo agora que andamos mais atarefados, arranjámos uma maneira de continuar com esse sistema. Gosto de produzir quando não estou a trabalhar em algo meu. Mantém-me concentrado.
ApdW – Vocês têm de realizar anúncios, como o teu My Adventures in Ladies’ UnderGarments, 4th floor. Ainda assim, os temas dos teus filmes aparecem: a adolescência, a descoberta da sexualidade. Consegues ser criativo mesmo quando estás a fazer anúncios?
AC – Absolutamente. Nessa curta-metragem, foi-me dada completa liberdade desde que não houvesse nudez ou palavrões. Portanto, trabalhei dentro das minhas limitações, o que resultou particularmente bem nesta história. Na maior parte das vezes, quando se filma anúncios de televisão e não o que eles chamam curtas-metragens para as marcas [“branded” short films], nem sequer podemos ser criativos com o conteúdo. Normalmente, quem trabalha essa parte são as pessoas da agência de publicidade que representa a marca ou a companhia. Mas podemos ser criativos na execução. E, entre longas-metragens, é a melhor maneira de experimentarmos novos equipamentos, enquanto nos conseguimos sustentar financeiramente e nos mantemos atrás de uma câmara.