• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Crónicas, Ecstasy of Gold 0

Dopamina rodoviária

De Tiago Ribeiro · Em 11 de Novembro, 2012

É tão bonito estar apaixonado. E desde que não seja por uma mulher ou homem, ainda melhor. Assim se poupam desgraças do coração e desesperadas tentativas para se cortarem os pulsos, clamando por mil injustiças e lançando maldições para o ente amado. Se se quer lançar nessa aventura do desejo, abrace antes algum objecto aparentemente inanimado: uma banana, um alicate, um Cavaco, um qualquer livro do George Orwell ou do Pedro Juan Gutierrez. Garante-se reciprocidade absoluta e nenhuma dessas questiúnculas que por vezes separam duas pessoas da mesma espécie humana, uma lástima. Repare bem neste belíssimo exemplar fumarento por quem pode despejar mil cantigas de amor:

Já palpita o seu coração, certo? Mas tenha atenção: esta bandalha, de seu nome Christine (O Carro Assassino, 1983), destroçou a vida a muitos dos seus anteriores amantes, hipnotizando-os com mil encantos até à destruição fatal, “um autêntico rasto de destruição”, como afirmaria um “jornalista” televisivo enviado para qualquer cenário onde haja mais do que um ferido. Belas e nostálgicas canções no rádio, o flamejante vermelho, assentos de cabedal, jantes de puríssimo branco: tudo isto o pode levar à loucura. A si, não ao “jornalista” televisivo. A esse já basta qualquer dia sem acidentes para lhe fazer explodir a cabeça. Agora vamos escrever coisas sérias.

Escolher um momento musical na obra de Carpenter tem a dificuldade da abundância, tal é a  quantidade e qualidade com que o compositor/realizador nos tem brindado nos quase, quase quarenta anos de filmografia musical. Uma pessoa pensa no John e vem logo à mente um amontoado de barbas br…perdão, aquele registo musical minimal, marcial, metálico, quatro palavras começadas por m e todas umas atrás das outras, não se via tal coisa desde aquele filme que estreou no início do ano. Carpenter também conseguiu essa proeza de, em The Thing (Veio do Outro Mundo, 1982), ter transformado a partitura de Morricone em algo indistinguível do que Carpenter fez antes ou do que faria depois. Isso sim, algo digno de um Homem.

Posto isto, escolher Christine e um dos seus (vários) momentos memoráveis tem a condição do sentimento. Primeiro filme visto do Senhor, ainda os 80 não tinham terminado, numa noite chuvosa (serial killers alert) de Sábado. Numa altura da vida onde os filmes “ainda metiam medo” e em que qualquer imagem fora da normalidade quotidiana encravava-se na cabeça até à próxima imagem fora da normalidade quotidiana a deitar ao lixo. Como um carro a reconstruir-se a si próprio, depois de estar todo partidinho. Coisa parva para contar na escolinha, no dia seguinte. Mas na altura era apenas isso, um carro a reconstruir-se. Absurdo, mas apenas isso.

Só mais tarde, quando comecei a desenvolver pensamentos pecaminosos e perversidades que me enchem de vergonha, é que essa cena me pareceu conter mais coisas. Um strip-tease automobilístico a que só faltam as ligas, as rendas, etc a cobrirem o capot. Um arranjo musical apropriadamente fumegante e a cheirar a whisky e a mulher fatal renascida das cinzas. E o “show me” de Keith Gordon não é mais do que um pedido guloso para o deboche do seu amor. Vergonhoso.

E assim terminamos. Não sem antes enviar um grande bem haja e beijinhos aos responsáveis das revistas de automóveis. Têm efectuado um trabalho meritório e inaudito na consolação de inúmeros machos. Tal como aqueles senhores responsáveis por aquelas revistas das ferramentas e tecnologias, com as suas capas oleosas e informativas. São pessoas como estas que garantem o equilíbrio emocional de grande parte da população masculina. Viva estes senhores. Viva as tecnologias. Viva as carripanas. Viva o Carpenter. Viva a Cristina de lingerie vermelha. Vergonhoso.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Ennio MorriconeJohn Carpenter

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

Artigos relacionados

  • Crónicas

    Apocalypse Now: as portas da percepção

  • Crónicas

    A medida das coisas

  • Crónicas

    O sol a sombra a cal

Sem Comentários

Deixe uma resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • “Time to Love”: amor, um caminho interior

    31 de Janeiro, 2023
  • Apocalypse Now: as portas da percepção

    30 de Janeiro, 2023
  • A medida das coisas

    26 de Janeiro, 2023
  • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

    25 de Janeiro, 2023
  • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

    24 de Janeiro, 2023
  • O sol a sombra a cal

    23 de Janeiro, 2023
  • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

    18 de Janeiro, 2023
  • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

    17 de Janeiro, 2023
  • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

    16 de Janeiro, 2023
  • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

    13 de Janeiro, 2023
  • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

    11 de Janeiro, 2023
  • “Broker”: ‘babylifters’

    10 de Janeiro, 2023
  • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

    9 de Janeiro, 2023
  • “Vendredi soir”: febre de sexta-feira à noite

    5 de Janeiro, 2023
  • “The Fabelmans”: ‘in the end… you got the girl’ 

    3 de Janeiro, 2023
  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • “Time to Love”: amor, um caminho interior

    31 de Janeiro, 2023
  • Apocalypse Now: as portas da percepção

    30 de Janeiro, 2023
  • A medida das coisas

    26 de Janeiro, 2023
  • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

    25 de Janeiro, 2023
  • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

    24 de Janeiro, 2023

Etiquetas

1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.