O filme era grande e o nome do seu autor ainda maior. A responsabilidade de pôr a história do primeiro em diálogo com o cinema – e os cinemas à volta – do segundo foi enfrentada com reverência por parte dos quatro fundadores do À pala de Walsh. Mas foi com reverência que tornámos a história do assassino em série “mais procurado do Japão” numa divertida conversa em torno de modelos de cinema, que – convenhamos… – não conhecem fronteiras. [E, no fim, já ninguém se lembrava como foi renhida a votação entre esta escolha do Luís Mendonça e o Django (1966) de Sergio Corbucci, título sugerido pelo Carlos Natálio que, por ora, pomos no congelador.]
Fukushû suru wa ware ni ari (A Vingança é Minha, 1979) de Shôhei Imamura é um dos primeiros filmes feitos na ressaca de quase dez anos dedicados à realização de documentários. E isso nota-se: baseado em “factos verídicos” (ah, cuidado com o “spoiler falado”!), esta é um filme que evita reduzir a “origem do mal” do seu protagonista a uma exegese psicanalítica, deixando o espectador em suspenso quanto à finalidade do que é mostrado – haverá finalidade, mesmo nas cenas de sexo em que o sexo parece servir algo mais que a exclusiva exploração/erotização dos corpos? Suspensão do espectador que pode conduzir à frustração das suas expectativas induzida por preconceitos vários: poderá um filme sobre a caça a um serial killer ser um filme relativamente tranquilo, sem perseguições, onde muitas das mortes são “apagadas” na montagem e o que se mostra não explica (quase) nada? Poderá um filme chamado A Vingança é Minha só conter indícios de uma vingança nos seus muito misteriosos minutos finais? Pode, sobretudo, “servindo-se frio” à pala de um Hitchcock, Kurosawa ou Polanski. Bom proveito.
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