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Crónicas, O Movimento Perpétuo 0

A vantagem de ser invisível

De Francisco Valente · Em 18 de Dezembro, 2012

Passados alguns anos, a cinefilia traz um sentimento saudosista que também é conhecido da vida: uma saudade, tal como nas relações de amor duradouras, do momento inicial em que nos apaixonámos. Na duração, a paixão torna-se num conhecimento contínuo, numa aprendizagem mútua entre amantes. Por isso, ao abrirmos a porta ao cinema para este nos dizer algo sobre nós, amá-lo – como amar alguém – leva-nos igualmente à projecção de um momento inicial: quando nos sentámos, pela primeira vez, na sala de cinema escura e nos deixámos levar por histórias que nos diziam tanto. Como um espelho para onde olhamos e vemos, no nosso simples rosto mudo, face a face, tudo o que se resguarda sobre aquilo que vivemos.

A paixão por um filme, de certa forma, é também olhar para o nosso rosto. Mas o cinema não é apenas aquilo que somos: é o que fantasiamos para nós, tanto o ideal como o seu impossível. Por isso, esse momento inicial da cinefilia é também um encontro, como aquele em que nos apaixonamos por um outro rosto em que vemos tudo o que desejamos ser e que ainda não conseguimos, algo que nos olha de volta e nos faz abrir, finalmente, todo o campo do nosso coração.

Dizia Gatsby, olhando para o seu horizonte: So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past. Assim caminhamos sempre, leitores e cinéfilos, em busca da inocência perdida apenas resguardada na memória do nosso tempo. Passado esse momento inicial, a cinefilia irá também viver com uma rotina: ir ao cinema já não será a descoberta pura de um filme que irá falar para nós, directamente, e fazer-nos crescer num sonho que nunca antes tínhamos tido. Mas insistimos – o cinema não se fica pelo presente palpável que aprendemos a conhecer e a amar. Porque o seu tempo é sempre o do sonho, é onde nos projectamos para aquilo que desejamos ser.

O momento inicial da descoberta cinéfila torna-se, assim, num outro momento ao longo da vida: o de se ter um refúgio quando esta parece desistir de nós, voltando ao único outro lugar que conhecemos – a sala de cinema. Abstrair-nos daquilo que a nossa vida não nos dá e deixar que seja o cinema, de novo, a dar-nos aquilo de que precisamos para de lá sairmos revigorados, inspirados, outra vez apaixonados. E perante a efemeridade de onde a vida tira a sua essência, deixar-nos dizer: when I fall in love, it will be forever.

O cinema salva-nos, então, dessa desistência: a de mergulharmos na desilusão de nos sentirmos invisíveis dentro da nossa vida. Como um espelho para onde já não olhamos timidamente em desespero, mas que nos faz reflectir um reconhecimento que dávamos por perdido. Aí, ir ao cinema já perde a sua função rotineira: saímos da casa que já não nos parece proteger para podermos, de novo, fazer um caminho apenas com o olhar, sem que se dêem passos (pois perdemos o nosso rumo). E sairmos depois da sala, uma outra vez, tal como na primeira, porque nos reencontrámos e alguém nos soube dizer: let’s go home, Debbie.

Fica então a lição que guardamos para a nossa vida, para acabar com as desilusões: se nos sentimos invisíveis, essa ilusão traz também vantagens. Porque o cinema ensina-nos a ver que o que é verdadeiramente importante, muitas vezes, não está no que vemos à nossa frente – está entre as coisas que vemos. Aquilo que é invisível. E que o valor que a vida ganha vem do momento em que soubermos traduzir isso para os nossos dias. E que podemos voltar sempre ao cinema sem rotinas, nem instruções, para reencontrar o momento inicial que nos aponta, de novo, um caminho. Que podemos sempre sair do mundo quando este não nos corresponde e olharmos de novo para nós próprios pela inocente projecção de uma história e dos seus gestos. E ver que essa ficção mágica, afinal, inspira-se sempre na vida, onde poderemos de novo voltar.

Como a vida surge sempre maior na tela, podemos também exagerar um pouco e dizer: se nos sentimos invisíveis na vida, é porque nos esquecemos de olhar para o que não se consegue ver nela. E podemos também dizer, com ternura, que o cinema c’est l’art de faire faire de jolies choses à de jolies femmes.

When I fall in love, it will be forever.

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Francisco Valente

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