Ainda jovem, o grego Constantinos Gavras emigrou para França, onde estudou cinema, se tornou realizador e tomou o nome Costa-Gavras (para facilidade dos locais, presume-se). Eden à l’Ouest (Paraíso a Oeste, 2009) é uma espécie de tributo a esse seu passado de imigrante, embora tenha como protagonista não um rapaz de classe média mas um pobre coitado sabe-se lá de onde – Costa-Gavras nunca o revela, de modo a criar um “imigrante universal” que encaixe da melhor forma nesta fábula frouxa e didáctica sobre os problemas da imigração ilegal na Europa (o tal paraíso a oeste). Uma fábula que se situa num território muito, muito distante de Le Havre (2011) de Aki Kaurismäki, resvalando para momentos de puro mau gosto (como aquele da Torre Eiffel a brilhar). E, em termos de relevãncia e acutilância, não andará longe daquela famosa canção de Dino Meira (outro imigrante em França).
Como se já não bastasse o título do filme para criar a alegoria, o primeiro terço de Eden à l’Ouest passa-se num resort para turistas endinheirados (numa paradisíaca ilha grega, subentende-se) chamado Eden Ouest. É até lá que o herói Elias nada, depois do barco em que ia ter sido abordado pela Guarda Costeira. As primeiras imagens que vê são de corpos nus, de belos homens e mulheres, ou não fosse este o “paraíso” (não sou eu que me repito, é o próprio filme). No entanto, nem neste Eden se livra da polícia, que o perseguirá durante todo o filme, sinal de que os imigrantes não são bem vistos na Europa Ocidental, uma ideia que se percebe à primeira mas em que Costa-Gavras insiste até ao final. O espectador também dá conta desde logo que Elias (interpretado pelo italiano Riccardo Scarmacio) é objecto de desejo de todos homens e mulheres que encontra. Esta analogia é mais difícil de compreender: será que Costa-Gavras quer dizer que, embora indesejados, os imigrantes são bastantes desejáveis? Pelo exotismo, talvez?
Seja essa a sua intenção ou não, o certo é que Gavras acaba a retratar a própria Europa Ocidental (primeiro sob a capa do tal resort, depois na estrada, culminando numa Paris em que quase nenhum local é capaz de dirigir palavra a um estranheiro) como um lugar exótico, uma Torre de Babel (fala-se inglês, russo, francês, alemão, etc.) em que ninguém se entende e cujas gentes se dividem entre as boas – as que ajudam Elias: a MILF alemã, a vendedora de pássaros grega, os camionistas alemães -, e as más – as que o tentam enganar ou o usam: o gerente do resort, o denunciante junto aos barcos, os franceses que o fazem trabalhar numa fábrica (um episódio que serve demonstrar os horrores desses novos escravos, os imigrantes ilegais, que, como o resto do filme, é somente ilustrativo), até o próprio mágico que Elias procura em Paris e apenas lhe havia dito umas palavras de circunstância.
Como filme, Eden à l’Ouest é bastante pobrezinho, e nem como denúncia serve. É daquelas obras que se nunca tivessem estreado (esteve três anos para chegar a Portugal) ninguém daria por isso. Tendo estreado, ninguém se lembrará dela daqui a um mês.