Nagisa Ôshima, desaparecido ontem, deixou, além de centenas de extraordinários artigos sobre a praxis do cinema, uma vastíssima filmografia. No seu último documentário, Nihon Eiga no Hyaku Nen (Cem Anos de Cinema Japonês, 1995), um fast forward de cinquenta e dois minutos pela História do Cinema Japonês encomendado pelo British Film Institute, faz o invulgar exercício de historicizar a sua própria obra e define-a, sem falsas modéstias, como um momento de charneira, uma ruptura violenta com o cinema clássico do seu país. Na voz off que enforma a leitura dos excertos escolhidos, ouvimos, na primeira pessoa, Ôshima contar: “Eu sentia que os filmes japoneses até então estavam repletos de assuntos ligados ao sofrimento nacional durante a guerra, à pobreza e à natureza feudal das relações no contexto da família e da sociedade japonesas. Para as pessoas comuns, era normal verem-se como vítimas, mas eu achava fundamental que os realizadores evitassem esta linha de pensamento. Então os cineastas não devem procurar os caminhos da liberdade? Mesmo se forem difíceis ou penosos?”
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.