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O fim do mundo

De Tiago Ribeiro · Em 11 de Janeiro, 2013

Será possível, aos 27 anos, já ter colocado meio mundo em pânico e ter realizado duas monumentalidades cinematográficas? E a resposta é, evidentemente, um rotundo não. As gentes querem-nos, a nós, incautos e humildes amantes do cinema, fazer acreditar que foi isso que aconteceu com o cidadão George Orson Welles, só para nos levar a reavaliar a nossa auto-estima bem por baixo, pois aos 27 anos a maior obra-prima que uma pessoa concebeu foi ter arranjado, num dia de Verão, a rota canalização da cozinha lá de casa. Por isso, cautela com essas pessoas e tratem de saber a verdade, que é esta: George Orson Welles tinha sessenta anos em 1941 e setenta e três em 1942. George Orson Welles nasceu com quarenta e quatro anos de idade.

Portanto, com setenta e três anos de idade, Welles espantava uma vez mais o mundo. Não bastava, um ano antes, ter sido o autor do “maior filme de todos os tempos” até 2012, tratou logo de encaminhar o seu envelhecido génio para para mais uma empresa que, há quem jure, ainda é “melhor filme de todos os tempos” que o “melhor filme de todos os tempos” até 2012, ponto de vista com o seu quê de provocação, pois The Magnificent Ambersons (O Quarto Mandamento, 1942), como é do conhecimento de todos, foi vítima da desfaçatez intelectual dos senhores da RKO, que, aproveitando cobardemente uma estadia de Orson no Brasil, enviaram o cangalheiro Robert Wise para retalhar em postas a segunda pérola do cidadão Welles. Isto não é assim tão linear, mas calha bem na mitologia reinante do grande mártir Orson, vítima da inveja e mediocridade alheias, e grande exemplo para a liberdade criativa dos cineastas.

E, ainda assim, retalhado, desmembrado, trucidado (o filme, não o escriba), o escriba deste post colocou The Magnificent Ambersons como um dos filmes pertencentes à sua lista de top-11 de “todos os tempos”, embora seja uma obra que o escriba só tenha visionado, salvo erro, três vezes, número irrisório ao pé das quarenta visões de Recordacões da Casa Amarela (1989), outra das iguarias de tal lista. A razão para tal nem o próprio escriba sabe muito bem qual seja, embora desconfie que tenha algo a ver com filmes que sabem muito melhor amadurecidos na memória do que em revisitados regularmente com olhos e óculos. Mas talvez não seja bem isto, o que também não é importante. O essencial é que o sujeito admira com todas as forças o segundo opus Wellesiano, em particular uma sequência, essa sim, já visionada mais do que três vezes.

A sequência remete-nos para o triste destino de George Amberson Minafer, o mimado e caprichoso pirralho do clã Amberson, e que tem aqui o que a justiça popular há muito pedia. Como murmura Welles na assombrada narração, “Something had happened. Something which…years ago…had been the eagarest hope of many, many good citizens of the town. Now it came at last…”. A música, de um não creditado Bernard Herrmann, é primeiro um espectro de terror face às mudanças na cidade e no mundo (um conjunto de planos que podiam estar na Twilight Zone), e depois um elegíaco lamento pela memória de George, brilhantemente enquadrado pela infinita escuridão e pelo travelling traseiro. Adeus, adeus, George pirralho.

Como toda e qualquer magnífica sequência, o seu poder de sedução envia-nos para a rima que estabelece com as primeiras e joviais cenas do filme, onde vemos uma sociedade e uma família na pujança da sua época e em que uma das grandes dificuldades do Homem de então é saber que chapéu escolher e em que o menino George Amberson arranja patifarias a quem lhe apareça pela frente. Planos com pessoas “cheias de vida”, problemas enterrados para debaixo do tapete, alegria e prosperidade. E a fantasiosa banda sonora de Herrmann como luxuosa dança de salão. Penso que seja assim. Não vejo tais gulodices há coisa de cinco anos. Talvez quatro.

Depois de 1942 também um mundo acabou e outro irrompeu para o senhor Welles. Engordou, andou por meio mundo, namorou e casou com a Rita Hayworth, perdeu dinheiro, tentou arranjar outro tanto para os seus vários edificios fílmicos, abandonou rodagens, rebentou moviolas, andou à estalada com produtores, deu conselhos a Ed Wood, participou em talk shows, narrou documentários, teve barba gigante, tornou-se lenda e morreu com trezentos e sessenta anos. E depois de morto, ainda mais lenda ficou. É hoje e será amanhã (se cinema ainda houver) uma das vertentes da eterna luta entre a Arte e o Negócio. Caiu muitas vezes, mas levantou-se em cada uma delas. Ámen.

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Bernard HerrmannDestaque WellesOrson Welles

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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