No ano da graça de 2013, o ainda infante À pala de Walsh vai ver os Óscares pela primeira vez, motivo de alegria, regozijo e uma ampla cobertura que contará com os préstimos dos membros fundadores, em versão escrita, no Facebook mas principalmente no Twitter (e, por quem sois, juntai-vos a nós), e em versão falada, em curtos podcasts (a serem publicados durante a longa madrugada). Em ambas as versões, comentaremos e dissertaremos essencialmente sobre coisas, o que será certamente muito interessante. Entretanto, como aperitivo para esse grande banquete, o Ricardo Vieira Lisboa e o João Lameira escrevem outras coisas (espera-se só que não as repitam depois).
Já ouviram aquela história de que o Óscar ganhou o seu nome porque não-sei-quem achou a estatueta parecidíssima com a do tio? Pois, eu também. Avancemos, então. Mesmo não tendo visto todos os filmes (terei visto menos de metade), não me escuso a mandar uns bitaites.
Percorrendo a lista dos nomeados, fico logo abananado com a presença dos nomes de Howard Berger, Peter Montagna e Martin Samuel. Não que soubesse quem eram até ao momento, apenas porque me dou conta de que são os responsáveis pela caraça de Anthony Hopkins em Hitchcock (2012), uma das criações mais hediondas da humanidade mas também um feito extraordinário, já que consegue não se parecer com o realizador nem com o actor. Não os posso culpar totalmente por não terem conseguido desfear Helen Mirren para fazer de Alma Reville (a escolha da actriz é impossível), só um bocadinho. (O mais espantoso disto tudo é não serem estes os maiores problemas do filme). Portanto, que ganhem os outros nomeados para a categoria de Melhor Caracterização (não vi qualquer dos dois).
Pegando em escolhas de actrizes impossíveis (as escolhas, não as actrizes), a pior será, e deveria mesmo receber o Óscar de Pior Casting, a de Jennifer Lawrence em Silver Linings Playbook (Guia para um Final Feliz, 2012). Ela até se agarra bem ao papel, não discuto, mas a identificação que se possa sentir pelo protagonista e os seus sofrimentos é completamente arruinada quando se vê que uma criatura com o corpo e a cara de Lawrence não o larga. Quer dizer, há destinos piores. Do mesmo modo, levanto muitas reticências em relação a Jessica Chastain em Zero Dark Thirty (00:30 Hora Negra, 2012) e não só porque ela não tem a gravidade necessária para interpretar a personagem; é também demasiado bonita. E distrai (não ajuda que o filme seja fraquinho, é certo.) Quanto aos rapazes, dava já o Óscar a Daniel Day-Lewis, porque ele é muito engraçado a fazer de grande actor em todos os filmes em que entra. Não é exactamente por este Lincoln (2012), em que ele se diverte como sempre, é pelo espectáculo em si. A verdade é que a competição não é grande coisa: o principal opositor, o irmão do River Phoenix, que também faz de grande actor, recorre a tiques e a uma corcunda que cansam depressa. (Ah, a barba de Ben Affleck merecia uma nomeação, uma oportunidade perdida para premiar pêlos faciais.)
Por esta altura, terão percebido que não tenho propriamente um favorito à vitória, simpatizo com alguns filmes – Argo (2012), Django Unchained (Django Libertado, 2012), The Master (The Master – O Mentor, 2012), Moonrise Kingdom (2012) – e é só. Não há motivo para grandes arrebatamentos. Como todos os anos, vou clamar para que a cerimónia não seja tão chata como tem sido e, como todos os anos, vai ser (acho que o ano passado foi a primeira vez que desliguei a emissão a meio). Lembro-me de um tempo, em que apesar das cançonetas e da demora dos discursos, não era. Parece que quando quiseram encurtá-la, por causa das audiências e não sei que mais, excisaram todas as partes boas. Este ano, para mal dos meus pecados, ainda acrescentaram o Seth MacFarlane. Para desenjoar e acabar em beleza (e com um cómico com graça), deixo os links para as deliciosas entrevistas de Zach Galifianakis aos nomeados (parte 1 e parte 2).
João Lameira
Para começar, um esclarecimento: como se trata de um nome (do dito tio de não-sei-quem, e dos prémios) parece-me que o tracinho em cima do ózinho não se justifica, ou seja, para mim é a noite dos Oscars (em itálico e tudo, porque é estrangeiro) e não a noite dos Óscares; porque isso faz-me lembrar as reuniões de condomínio em que os irmãos do décimo terceiro fazem questão de chatear toda a gente com o seu negócio de queijos de Nisa.
Hoje à noite combinámos uma reunião cinéfila para assistir ao Óscares (porra…) e pediram que eu levasse uns snacks porque a noite será longa e a gente não se alimente de flashs e decotes descidos. A minha grande dúvida é o que devo levar: há umas rodelitas deliciosas com sabor a nachos que garantem insuficiência cardíaca a partir dos 35 anos e também uns palitos de sésamo que alegadamente propiciam o incremento das ondas cerebrais e que só se vendem naqueles lojas do bairro alto. Eu não sei qual ganhará o prémio de melhor snack da noite, mas terão a competição renhida dos biscoitos com recheio de doce de morango que o Luís tem e da lasanha gourmet de cavalo que me prometeram. De qualquer maneira sei que ganhará o vencedor.
Mas agora falando mais seriamente, este será o primeiro ano em que antes da cerimonia dos Academy Awards, oh estúpido, não sabes que agora aquilo se chama The Oscars?, vamos poder assistir ao A Tua Cara não me é Estranha 3. Isso sim é que interessa. Quem quer saber do TED MacFarlane quando tem um Goucha de casaco estampado de tulipas liláses? Quem se interessa por Ang Lee se pode ver o Nicolau Breyner vestido de Ivete Sangalo a dançar o Tira o pé do chão, gálera? Quem no seu perfeito juízo perde horas de vida por causa de uma austríaco pervertido se pode desfrutar, em poucos minutos, de Ruth Marlene possuída pelo espírito do falecido Max, cantado A mula da cooperativa. Se é luxo e glamour que pretendem, não vale a pena estarem acordados até às quatro da manhã. Façam como eu: a partir das duas já roncarei perdidamente, embalado pelas gargalhadas saloias da Cristina Ferreira e pelo sabor a equino.
Ricardo Vieira Lisboa