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A quarta dimensão do Senhor Hou

De Tiago Ribeiro · Em 11 de Fevereiro, 2013

Para variar um pouco, neste texto não serão feitas parcas elucubrações sobre determinada música num determinado momento num determinado filme. Para escapar à rotina, serão efectuadas parcas elucubrações sobre toda a música em todos os momentos de um filme total, por sinal um dos melhores dos últimos cento e cinquenta anos. Mas antes de começar, há que deixar bem claro um aspecto que me parece essencial, e que é: a madeira de pinheiro arde muito mais rapidamente do que a do sobreiro. Por isso, se têm lareira e desejam poupar na lenha e no bolso, vão pela do sobreiro. Têm é de não se deixar enervar pela demora em pegar fogo.

O cinema de Hou Hsiao-Hsien é de grande utilidade intelectual e fisiológica. A sua languidez provoca belo e merecido relaxamento corporal, tal e qual como se tivéssemos acabado de sair de um banho a vapor. Se a populaça não fosse ignorante, em vez de xanaxs e demais produtos pecaminosos, o seu método de aliviamento do stress passaria por visões parcelares e quotidianas da obra de Hou, sobretudo do Hai shang hua (Flores de Xangai, 1998), porventura o maior filme-sauna da “história do cinema”. Ver o Hai shang hua às escuras, com lareira acesa e cigarro na mão, bate aos mil pontos qualquer ervazita da treta que se venda no Bairro Alto.

Não tão sauna quanto Hai shang hua mas igualmente hipnótico é Bei qing cheng shi (A Cidade da Dor, 1989), filme que se debruça sobre um tema muito importante, mas do qual que não tenho vontade de escrever. Prefiro destacar, antes de chegar às músicas, as propriedades odoríficas do que por ali vai: filme 4-D, fumos no ar, ora saindo de panelas, de chávenas, de pratos, de chaminés. E as questões essenciais de Taiwan de 1945 para diante são discutidas à mesa, autênticos tratados de como falar civilizadamente sem que para tal seja negado o prazer de enfardar o bandulho. Hou já tem o seu lugar junto do Senhor Nosso Salvador, só por nos proporcionar belas contemplações como estas. Desculpem, prometi que não iria chorar muito hoje.

Bei qing cheng shi tem dos primeiros minutos mais evocativos da “história do cinema”, um registo quente e de bela moleza onde se misturam a voz do imperador Horohito, os gritos de uma mulher prestes a dar à luz (é o novo Taiwan, mamã!), os gritos da criança acabada de nascer, luz de velas, e de repente, sem respeito e sem licença, um deslumbramento sonoro a preencher o ecrã (ou a “magia da tela”, se preferir e se for um verdadeiro cinéfilo), com o título do filme a ser magnificamente atropelado pela melodia muito bonita.

A grande mais valia da banda sonora neste filme é a sua escassez. Como Hou, ajuizadamente, prefere dar relevo aos sons quotidianos e anti-espectaculares, como isso se conjuga com o silêncio das personagens (não quer dizer que não existam bulhas e gritarias, mas tal como nos filmes do Rohmer ou do Kiarostami, os ataques de nervos nunca se parecem como tal) e com os planos fixos (a minha tese de doutoramento será sobre as diferenças do plano fixo do Hou para o do Haneke), o judicioso e inesperado uso da música aparece sempre com o critério do maravilhamento, provocando grandes e extraodinários arrepios de alegria.

Há um momento onde Hou pode terminar Bei qing cheng shi “em beleza”, em possível happy ending e que resultaria num climax absolutamente incomportável para certos corações, a começar pelo meu, que eu nesse momento onde se tira uma fotografia a um desgraçado casal já estava em graves sobressaltos emocionais. Mas Hou não quer isso, e vai daí, em pleno freeze-frame da foto tirada, começa a narração das desgraças futuras de quem está nessa mesma foto. No espaço de segundos vai-se de um extremo emocional a outro. E depois continua a vida. Um plano de uma família a comer. Uma família em que, ironicamente, escaparam os mais inaptos. E a música serpenteante em background. “Taipei torna-se provisoriamente a capital”. Novo maravilhamento sonoro e já estamos derreados.

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Hou Hsiao-Hsien

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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