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À pala de Walsh
Crónicas, Em Série 0

Um caminho finito

De João Lameira · Em 29 de Março, 2013

Em E Unibus Pluram: Television and U.S. Fiction, David Foster Wallace perora contra os malefícios da televisão. O escritor americano não escolhe o discurso óbvio (raramente o fazia) de atribuir à televisão poderes diabólicos ou sobrenaturais sobre a sociedade (como parecem fazer alguns, por exemplo, o crítico de cinema João Lopes), até porque o ensaio trata sobretudo da literatura americana contemporânea (a da sua geração). O que preocupa realmente Wallace são algumas qualidades da criação artística deste tempo (embora o texto seja do início dos anos 90 não perdeu a actualidade, muito pelo contrário) que a televisão ajudou e ajuda a exponenciar: a ironia pós-moderna e a meta-referencialidade.

Pegando em boa parte das séries mais interessantes (e as melhores) da última década (principalmente, as sitcoms) – Arrested Development, Community, 30 Rock -, é difícil negar que exploram esse caminho. Qualquer delas joga numa distância que afasta o espectador do sentimentalismo, da ingenuidade, da sinceridade (apanágio dalgumas das piores memórias televisivas), reservando-lhe um lugar de superioridade face ao próprio género da sitcom (e à própria televisão, que tem uma capacidade infinita de absorver as tentativas de subvertê-la). Por outro lado, para se poder usufruir deste humor, é necessário ter um conhecimento assinalável da cultura popular recente (gerada em boa parte dos casos na dita televisão). Esta questão é especialmente problemática para a minha pessoa (repare-se como eu mesmo faço uso da ironia distanciadora, quando me proponho escrever sobre algo que me é caro; e como estou completamente enamorado pelas possibilidades dos parêntesis), uma vez que sou o que os americanos chamam um sucker pela pós-modernidade e tenho, ao mesmo tempo, de reconhecer a verdade nas palavras de Wallace: no fim da ironia e da meta-referência não há nada, apenas o vazio; esta energia não é criadora e acaba no absoluto marasmo em que se encontra a cultura ocidental, como demonstra o crítico musical Simon Reynolds no notável Retromania: Pop Culture’s Addiction to Its Own Past. (Claro que este fenómeno não é exclusivo da televisão: veja-se Tabu (2012), eleito o melhor filme de 2012 no À pala de Walsh, a que podem ser apontadas exactamente as mesmas características.)

Tanto palavreado para chegar a uma série de que gostei tanto (ou não fosse a resposta portuguesa ao que “de melhor se faz lá fora”): Odisseia, criada por Bruno Nogueira, Gonçalo Waddington e Tiago Guedes. Lá se encontram a distância irónica (desde logo, a inclusão do próprio processo criativo no corpo da história: o escritório onde os autores discutem os episódios é um dos cenários e mesmo as filmagens fazem parte da narrativa) que faz implodir os momentos de tensão dramática bastante poderosos (lembro o final do terceiro episódio, provavelmente o melhor) e “desculpa” as situações menos conseguidas, como a participação de Rita Blanco (mas não apaga o facto de que o quarto episódio é mesmo o pior), ou põe o espectador completamente fora do enredo (a cena com os bonecos que traz à memória o episódio em claymation de Community) e as dezenas de referências a outras obras [em todos os episódios existe uma homenagem a um filme, recordo-me de Blade Runner (Perigo Iminente, 1982) e de The Deer Hunter (O Caçador, 1978)]. A originalidade de Odisseia em relação às suas congéneres estrangeiras será a “portugalidade” que orgulhosamente ostenta: a figura tutelar de toda a série é António Variações – que canta a canção do genérico (que é, diga-se, absolutamente brilhante) e é representado como o deus de uma estranha seita -, o músico português que tentou encontrar um lugar entre Braga e Nova Iorque e é talvez o nosso ícone pop mais interessante (e que, nesse sentido, nunca foi seguido). Não deixa de ser uma referência, mas mais do que do bom gosto dos autores diz muito da sua inteligência.

E Odisseia é uma série inteligente. Ainda que não fuja dos momentos mais baixos e grosseiros, o chamado low brow (não é uma crítica, as citadas séries estrangeiras também o fazem, e será neles que se anda mais longe da pós-modernidade), não envereda sequer pelo caminho da derisão a alvos fáceis, como me parece que acontecia com O Último a Sair, com a qual partillha alguns protagonistas e autores, cuja comédia vivia da improbabilidade das escolhas e do reconhecimento de situações dos verdadeiros reality shows (a par da telenovela, provavelmente o alvo mais fácil que há). Aqui quem se expõe são os próprios autores-actores, Nogueira e Waddington, mas também Tiago Guedes (autor-realizador) e Nuno Lopes, Rita Blanco, a equipa de filmagens, a direcção da RTP, etc. Todos se interpretam a eles mesmos, à semelhança do que acontece em Louie, a série do cómico americano Louis C.K, um dos maiores no humor auto-depreciativo. Para além de ser (ou parecer) mais honesta, a auto-depreciação costuma ser fonte de boa comédia, porque mais à flor da pele, mais arriscada (posso estar enganado, mas parece-me uma corrente da comédia pouco explorada pelos nossos stand-up comedians, que não têm pejo em ver os defeitos dos outros e bastante dificuldade em descortinar os próprios, o que resulta geralmente em piadas gastas e estafadas sobre políticos e outras figuras da sociedade). E em Odisseia também é fonte de excelente drama que, apesar de sabotado de mil e uma maneiras, é forte o suficiente para a estruturar: há uma tristeza que perpassa (e vai passando) durante toda a viagem naquela roulotte, uma melancolia que vem também do universo de Wes Anderson [até fisicamente, Bruno Nogueira faz lembrar Adrien Brody em The Darjeeling Limited (2007)], outro que esconde mágoas em sorrisos amargos. É a sinceridade possível nos tempos que correm e talvez por isso seja tão comovente.

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João Lameira

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Sem Comentários

  • paulofrancomartins diz: 1 de Abril, 2013 em 0:10

    Boa peça.
    E seria provavelmente excelente se se explica-se porque é que a meta-referência e a ironia pós-moderna não prestam um bom serviço ao humor.
    Por outro lado, fez-me também notar que a auto-depreciação (a honesta, porque aqui também há muita estratégia) manifesta-se normalmente em indivíduos inteligentes, cultos e talentosos. O que em parte explica porque a generalidade dos comediantes e humoristas portugueses da nova geração são incapazes da praticar.

    Inicie a sessão para responder
    • João Lameira diz: 1 de Abril, 2013 em 14:40

      Paulo, não é que a meta-referência e a ironia pós-moderna não prestem um bom serviço ao humor, até prestam, assim como ao cinema, à música, à literatura, etc. O problema é para lá delas não há nada. Ou seja, a continuar assim, daqui a uns anos vamos estar a regurgitar referências de referências de referências, porque já não vai haver nada não digo original mas genuíno para pegar. E estou em crer que para criar algo que não seja parasitário de outras coisas (no melhor e no pior dos sentidos), é preciso deixar a ironia descansar um bocado. E correr o risco de nos espetarmos num movimento sincero. Aliás, é o que o David Foster Wallace escreve, e bem, no seu ensaio. E o que de nalguns momentos os autores do “Odisseia” conseguem fazer.

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      • paulofrancomartins diz: 1 de Abril, 2013 em 17:33

        Caro João, não é que eu estivesse a discordar contigo, só queria conhecer melhor o teu argumento – o que agora é mais claro.
        Na verdade, concordo contigo, ou até iria um pouco mais longe afirmando com convicção que a meta-referência é uma verdadeira praga – um cobarde subterfúgio pseudo-intelectual. Se não mesmo uma demonstração da fraqueza dos autores/escritores – mesmo quando estes sejam gente tão talentosa e capaz como Tina Fey.
        Muita da produção americana para TV, especialmente em comédia, está carregada de auto-meta-referência, o que para mim, rapidamente, se torna insuportável.
        Acredito que a boa ficção, até para televisão, deverá aspirar à mesma universalidade que se diz da verdadeira grande literatura. A meta-referência toma o caminho precisamente inverso e por isso exclui-nos.
        Acho que era o próprio Harold Bloom dizia uma coisa parecida da literatura americana moderna, que era excessivamente auto-indexada à cultura americana – ou foi um tipo inglês que disse não me recordo ao certo. Obviamente o caso em televisão é de longe mais grave.

        Quanto à ironia já tenho mais dificuldades em imaginar o que se poderá encontrar para lá dela mesma. Como é que isso se materializa?

        Deparei-me muitas vezes com essa questão ao escrever um guião para um sitcom que acabei recentemente. É uma coisa que apresenta uma visão cínica sobre o emergente mundo das celebridades de uma determinada indústria – um ambiente que conheço bem. Articulo a minha ironia e sátira através dos personagens que criei e é claro, para quem a lê, que eu tenho uma opinião tão forte e crítica como informada sobre o mundo que estou a escrever (se o consigo escrever bem ou não é outra questão). Mas depois disso, depois de cumprido o meu programa politico, fico muito bem sem saber se existirá mais alguma coisa para além desta ironia. E a existir o que será? Como se materializa?
        Tenho dificuldades em compreender que o que deverá existir para além da ironia pós-moderna é a originalidade da forma (que sem dúvida a Odisseia tem) porque isso é muito vago. Mas se, por outro lado, o problema residir na falta de originalidade da ironia em si então isso quer dizer que não é a ironia que está errada mas sim a maneira como ela é trabalhada.

        Mas vou tentar ler esse ensaio do DFW (de quem gosto muito) e talvez ai fique a compreender melhor.

        Inicie a sessão para responder
        • João Lameira diz: 4 de Abril, 2013 em 16:45

          Paulo, o melhor é mesmo ler o ensaio do David Foster Wallace, não só porque explica bem melhor essa questão do que eu posso fazer mas também porque é um texto muito bonito. Muito bonito, porque acaba a dizer qualquer coisa como “é preciso voltar a usar da sinceridade, da ingenuidade, do sentimentalismo na criação artística para sair deste círculo vicioso de citações e referência, de uma certa pose e afectação, que não leva nada a sério” (isto é uma interpretação muito livre, sou muito mau em citações). A ironia é uma postura fácil, que nos coloca à distância do objectivo, mais, que arrasa o objecto (ou seja, não traz qualquer mudança ou criação, é apenas “destrutiva”). De certa maneira, a tua pergunta “quanto à ironia já tenho mais dificuldades em imaginar o que se poderá encontrar para lá dela mesma. Como é que isso se materializa?” responde à tua pergunta: nada, não se materializa. Mas mais uma vez digo: contra mim falo, pois gosto muito da ironia e da meta-referência.

          Inicie a sessão para responder
  • Uma sitcom para o povo | À pala de Walsh diz: 7 de Maio, 2013 em 21:26

    […] empresa de C.K. poderia considerar-se mais um acesso de pós-modernidade, só que o comediante criou Lucky Louie assim por amor ao formato popularizado em All in the Family […]

    Inicie a sessão para responder
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