• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Crónicas, O Movimento Perpétuo 0

Tendre et cruel, réel et surréel

De Francisco Valente · Em 19 de Abril, 2013

Acordar a meio de um sonho terá um efeito semelhante ao de interromper um filme no qual estamos totalmente imersos: um choque que nos leva a uma indignação, algo que nos impossibilita de regressar imediatamente, e sem transição, ao mundo real, sem as suas projecções, sem as imagens que vemos à nossa frente e que personificam os nossos desejos e fantasias.

Acordar a meio de um sonho pode ser, nesse aspecto, o início de um dia perdido. Longas horas são necessárias até a visão recuperar a sua profundidade e concentração. Um peso marca as nossas pálpebras e impõe o ritmo dos nossos passos quando estes se lançam na rua ao encontro das obrigações quotidianas.

Outras vezes, mas raras, os sonhos encontram um fim – não somos interrompidos pelo nosso acordar ou por qualquer barulho exterior que quebra a sequência de imagens, mas a narrativa que nós criámos pelo nosso subconsciente encontra, de facto, um fim, e as imagens fecham-se quando ainda estamos de olhos cerrados, imersos nessa dimensão exclusiva da nossa imaginação.

Quando assim acontece, a transição para para o dia claro e verdadeiro também é longa, mas sem o peso da história que não acabou. Vimos um princípio, um meio, e um fim – não  necessariamente por essa ordem, como diria Godard -, que nos mostrou (mas não explicou – pois tal como no cinema, essa também não é a natureza dos sonhos) de que eram feitas as nossas angústias, os nossos desejos, o cinema que se fecha dentro de nós e que se revela durante a noite.

Ontem mesmo, a minha estranhíssima noite colocou-me numa sala branca, como uma casa, em que várias pessoas se sentavam para ver a projecção de um filme, entre as quais Wim Wenders, o realizador alemão, que se virou para o lugar onde eu estava sentado e fez sinal de reconhecer-me. Ou reconhecer a pessoa que eu aí colocara dentro do meu próprio sonho.

A luz da sala mantém-se, mas a visão do filme ocupa a totalidade do enquadramento do sonho. Mar e mais mar, o seu som tão quente como o sol que por cima fazia brilhar as suas ondulações. E uma narração omnipresente que fala de alguém que chega a esse local – a sua casa, ouve-se -, lugar que ama tanto como a sua vida mas que não sabe fazê-lo seu, não sabe amá-lo. Alguém, talvez, que não sabe amar-se a si próprio para poder viver nesse lugar como se lhe pertencesse (e pertence-lhe).

A água do mar é substituída, de seguida, pelas lágrimas do espectador sentado nesse lugar. Os outros rodeiam-no e perguntam-lhe – o que se passa para se sentir tão comovido por um filme, por estas imagens, pela sua narração que as transporta como se fosse poesia? O espectador explica-lhes, dentro do possível, pelas palavras que o próprio filme lhe deu mas que não ouvimos no nosso sonho antes que este termine definitivamente.

Pois é no regresso à vida real que esse sonho encontra o seu fim – em que podemos acrescentar as palavras nas quais pensamos na duração do dia e que nos levam à criação do movimento e da narrativa subconsciente. Pegamos então em palavras também de Godard, retiradas a um sonho reencarnado chamado Pierrot le fou (Pedro, o Louco, 1965): “Ah, la vie est peut-être triste mais elle est toujours belle.” Assim acreditamos, regressando então às horas do dia que por agora nos esperam.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Jean-Luc GodardWim Wenders

Francisco Valente

Artigos relacionados

  • Crónicas

    Apocalypse Now: as portas da percepção

  • Crónicas

    A medida das coisas

  • Crónicas

    O sol a sombra a cal

Sem Comentários

Deixe uma resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

    3 de Fevereiro, 2023
  • “Aftersun”: a tensão suave da memória

    1 de Fevereiro, 2023
  • “Time to Love”: amor, um caminho interior

    31 de Janeiro, 2023
  • Apocalypse Now: as portas da percepção

    30 de Janeiro, 2023
  • A medida das coisas

    26 de Janeiro, 2023
  • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

    25 de Janeiro, 2023
  • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

    24 de Janeiro, 2023
  • O sol a sombra a cal

    23 de Janeiro, 2023
  • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

    18 de Janeiro, 2023
  • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

    17 de Janeiro, 2023
  • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

    16 de Janeiro, 2023
  • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

    13 de Janeiro, 2023
  • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

    11 de Janeiro, 2023
  • “Broker”: ‘babylifters’

    10 de Janeiro, 2023
  • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

    9 de Janeiro, 2023
  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

    3 de Fevereiro, 2023
  • “Aftersun”: a tensão suave da memória

    1 de Fevereiro, 2023
  • “Time to Love”: amor, um caminho interior

    31 de Janeiro, 2023
  • Apocalypse Now: as portas da percepção

    30 de Janeiro, 2023
  • A medida das coisas

    26 de Janeiro, 2023

Etiquetas

1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.