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Ladies’ night

De Tiago Ribeiro · Em 10 de Maio, 2013

O terrorismo psicológico como técnica de motivação para actores aconteceu amiúde na “história do cinema”. Um dos casos mais famosos terá sido a humilhação que a Joan Fontaine sofreu durante a rodagem de Rebecca (1940). O salafrário do Hitchcock – ele próprio a sofrer calduços do Selznick – vislumbrou na timidez da jovem a oportunidade de ouro para extrair dali gloriosa interpretação. Dizendo-lhe que ninguém no set gostava dela, criou as condições necessárias para o isolamento e constrangimento (espacial, social) da Mrs. de Winter surgirem a todo o vapor na grande mansão do Olivier (que, na realidade, não gostava da Joan, o que prova que era parvo e muito mau). Entretanto, um outro cineasta inglês, em conjunto com um seu fiel escudeiro…

…andaria pouco tempo depois de Rebecca a criar os mais belos filmes britânicos já feitos, numa resposta a priori aos ataques que bandidos como Monteiro e Truffaut fariam anos mais tarde ao cinema inglês, o que nos leva a pensar o que diriam estes dois caso tivessem durado mais uns anos e assim assistissem à grande consagração académica de Boyladas, o homem que conseguiu aquilo que os três maiores cineastas ingleses de sempre nunca conseguiram. Exacto, uma “estatueta dourada”, utilizando aqui a expressão de um dos nossos críticos preferidos, de seu nome Sérgio Santos e que escreve (e muito bem!) as suas críticas no site do cinema2000.

Em 1947, Michael Powell, Emeric Pressburger e Jack Cardiff enfiaram-se nos estúdios de Pinewood e criaram um dos mais ordinários filmes que qualquer alminha pode conhecer na vida que levará. Cardiff, nos seus atentados a todo o recato e bom senso cromático, inundou de cores pecaminosas e transbordantes praticamente qualquer milímetro quadrado do campo visual, seja uma gota a cair numa folha mais verde que a própria cor verde ou o baton nos lábios da Kathleen Byron que faria corar de vergonha alguns senhores priores que também usam desse artifício nos seus escritórios particulares em dias de folga. Se a isto juntarmos um argumento diabólico, em que se misturam freiras necessitadas e homens peludos, temos a certeza absoluta que Powell e demais companheiros não estavam agraciados pelas santas práticas de São João Baptista. Mas voltando aos terrorismos psicológicos.

A já mencionada Kathleen Byron era a amante de Powell na altura da rodagem de Black Narcissus (Quando os Sinos Dobram, 1947), enquanto a outra actriz principal, Deborah Kerr, era a ex-amante de Powell. Como ficou provado cientificamente no anterior parágrafo, Powell era um desrespeitador e idólatra e, por isso, não duvidamos que andaria pelos corredores de Pinewood a cochichar segredos com cada uma das duas meninas, colocando-as uma contra a outra num vergonhoso atentado contra a amizade feminina. Mentes onde reina a blasfémia já estarão a imaginar Powell a sublinhar proezas sex….sex….isso, de cada uma, aos ouvidos de Byron e Kerr, numa ainda maior achega à imposta rivalidade. E depois a rir com Pressburger, como se nada se tivesse passado, isto enquanto Cardiff empastelava com plasticina cardboards com três quilómetros de altura, numa orgia pictórica que faria Pollock cair de bruços.

O clímax do filme, que é também o clímax da tensão entre Kathleen e Byron, foi coreografado já com um trecho musical pré-gravado e que se encontrava no interior da cabeça de Powell. Brian Easdale, o autor da banda-sonora, e também ele possuído pela loucura, descarrega para cima das imagens sons malévolos e andamentos coordenados ao ritmo de uma câmara voyeurística e de grandes planos de Byron que, juramos aqui já de joelhos, Kubrick terá visto cinco vezes por dia.

Por seu lado, Joan Fontaine continua viva, tendo sobrevivido a Selznick, Hitchcock, Olivier e Rebecca. Tem noventa e cinco anos e passa o seu tempo a tratar dos jardins e dos seus cães. Deverá formar com a Lauren Bacall um dos últimos despojos do tempo em que “como o cinema era belo”. Deborah Kerr e Kathleen Byron partiram há alguns anos para paragens paradisíacas, longe, esperamos, das tácticas incendiárias de Powell e dos delírios pastel de Cardiff.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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