Há uma ideia muito interessante em The Loneliest Planet (Um Planeta Solitário, 2011), a de que o fim do amor pode dar-se num segundo, em que o que era unidade se separa na distância de dois corpos. Nada de novo, o tema foi explorado, por exemplo, em Le mépris (O Desprezo, 1963), adaptação do romance de Alberto Moravia mas, de qualquer forma, um assunto com pano para mangas. E, de resto, o filme de Jean-Luc Godard não se resumia a ele. Já o de Julia Loktev, sim. De tal forma que o espreme ao longo da mais de hora e meia de duração, deixando o espectador sem sumo que lhe sacie a sede.
É que por trás dos aparentes minimalismo (de facto, quase nada se passa, vazio que o agreste cenário da cordilheira do Cáucaso e os apontamentos musicais sobre longos planos longos enfatizam) e subtileza (realmente, os sentimentos nunca são declarados verbalmente), características imprescindíveis ao cinema mais “artístico”, mostra-se a mão pesadíssima da realizadora russo-americana. The Loneliest Planet (o título parece ser um jogo de palavras com o guia de viagens Lonely Planet, uma vez que os protagonistas são turistas numa terra estranha, no duplo sentido da palavra, mas também com a condição solitária de qualquer ser humano) não é verdadeiramente subtil, já que Loktev obriga os actores (um enfastiado Gael García Bernal e uma ruivíssima Hani Furstenberg), se não ao overacting, a uma representação em traço grosso (Bernal, no momento fulcral do filme, faz quase pantomina), e só pode ser considerado minimalista porque, como escrevi antes, não tem muito mais para dar, a não serem uns esboços de pensamentos sobre a incomunicabilidade, representada na Babel das personagens – uma americana, um sul-americano, um georgiano -, ainda que toda a gente fale inglês e se entenda, e a masculinidade – será que o guia interpretado por Bidzina Gujabidze é mais “homem” do que Bernal? E que importância isso tem para uma mulher do Primeiro Mundo, sofisticada e viajada? [só com esse material, Sam Peckinpah erigiu uma obra-prima: Straw Dogs (Câes de Palha, 1971).]
No entanto, há essa ideia muito interessante em The Loneliest Planet, a do fim do amor, que se coadunaria melhor com uma curta-metragem ou, pelo menos, com um filme mais curto. Da mesma maneira que um conto de Raymond Carver não poderia ser maior (poderia e seria talvez, não fosse o editor, mas isso são contas de outro rosário), Loktev deveria ter comprimido o seu filme, adaptado também ele de um conto, de Tom Bissell, com o evocativo título Expensive Trips Nowhere, até encontrar a medida certa. Ou, paradoxalmente, poderia ter decidido estendê-lo, tivesse o espírito obsessivo de outros cineastas. Ao invés, Loktev desliza na superfície da sua premissa, comprazendo-se na repetição, cansando depressa o espectador, que percebe para onde o filme vai ainda este não sabe que para lá caminha. The Loneliest Planet mais parece um Antonioni de fancaria.
Julia Loktev como que emula a personagem da sua primeira longa-metragem Day Night Day Night (2006) [que, como The Loneliest Planet, teve estreia portuguesa no IndieLisboa], uma terrorista com a missão de se fazer explodir no centro de Nova Iorque que não chegava a accionar a bomba que carregava: fica-se pelas meias tintas.