Salvo uma ou outra excepção – Melinda and Melinda (Melinda e Melinda, 2004) e Stranger than Fiction (Contado Ninguém Acredita, 2006) -, a “autoria” dos filmes de Will Ferrell pertence ao actor, um pouco como acontece com outros cómicos americanos, casos de Adam Sandler ou Jerry Lewis (com as devidas distâncias entre os três), embora Ferrell e Sandler, ao contrário de Lewis, nunca se tenham aventurado na realização.
Com um tipo de humor sempre no limite do suportável (quando corre mal, corre mesmo muito mal), Will Ferrell construiu com o co-argumentista e realizador Adam McKay os seus dois filmes mais bem conseguidos – Anchorman: The Legend of Ron Burgundy (O Repórter: A Lenda de Ron Burgundy, 2004) e Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby (As Corridas loucas de Ricky Bobby, 2006) – mas, no entanto, o resto da obra (mesmo os tais filmes que falham redondamente) não difere muito, independentemente de quem sejam os argumentistas e os realizadores com quem trabalha. Assim, Casa de mi Padre (A Casa de mi Padre, 2012), uma paródia ao estilo exagerado da ficção sul-americana inteiramente falada em castelhano (o único actor não-sul-americano é Ferrell, com um sotaque compreensivelmente sofrível), é distintamente um filme de Will Ferrell, que apenas o protagoniza (e produz, é verdade).
O papel do realizador Matt Piedmont, tal como McKay e o próprio Ferrell (e, já agora, Sandler), um produto da escola Saturday Night Live, parece bastante reduzido: uma dúzia de piadas visuais – falhas gritantes de raccord, frames a saltar, interpretações cabotinas – sem metade da graça das de Machete (2010) [embora o filme de Robert Rodriguez não seja propriamente do mesmo género de Casa de mi Padre, é também, à sua maneira, uma paródia aos excessos latino-americanos]. Ainda assim, entre cenários ridiculamente artificiais a contrastar com paisagens verdadeiras, actores a falhar a regra dos 180º, zooms acelerados, efeitos especiais estapafúrdios, é estranho o peso do meta-cinema neste filme, como se não houvesse muito mais para dar (apesar das presenças de Diego Luna e Gael García Bernal, que se encontram mais uma vez).
Parece que me contradigo, e que afinal Casa de mi Padre é mais de Piedmont do que de Ferrell. Não será assim, o humor pode surgir mais destes pequenos apontamentos do que das situações ou dos diálogos, que de tanto quererem brincar com os lugares comuns acabam no mesmo sítio – a dado passo, quase se vê o filme como uma tentativa séria de emular aquilo que supostamente pretendia parodiar (e isto não é um elogio ou uma maneira de dizer que Casa de mi Padre é um objecto pós-moderno de excepção, muito pelo contrário) -, mas o maior problema é o cansaço visível de Will Ferrell, que aparenta estar apenas a cumprir um encargo. E isso não é muito engraçado. Mais, o cansaço depressa passa para o espectador. Ou seja, este é um daqueles que correu mesmo mal: quando uma comédia não faz rir ainda é uma comédia?