• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Recuperados 1

Showgirls (1995) de Paul Verhoeven

De João Palhares · Em 21 de Julho, 2013

“What happens in Vegas, stays in Vegas.” Malfadada a pessoa que, de uma forma ou doutra, ouse impedir que certas coisas “stay in Vegas”. Paul Verhoeven talvez já se tivesse habituado por esta altura a ser enxovalhado de todos os lados e de todas as frentes e, em Showgirls (1995), vêmo-lo completamente exposto (como disse Jacques Rivette, um dos poucos fãs deste filme), marimbando-se do princípio ao fim para as legiões do decoro, que têm muitas máscaras e muitas peles. Muito poder, também.

Da recepção a Showgirls sabe-se tudo, portanto não vale a pena estar a re-contar esses assuntos. Águas passadas. Vale a pena é olhar para o filme, tentar ver se não será o culminar de uma carreira, em que se vê tudo (temas, formas) diluído e concentrado sob a luz dos neons da noite de Vegas. Neons tão mentirosos e retumbantes como é mentirosa e retumbante a Nomi de Elizabeth Berkley (fabulosa Elizabeth Berkley). E tão retumbante como é a câmara de Verhoeven. Vem ela (Nomi) do nada – quantas vezes não terá ouvido dizerem-lhe “não és nada” e “não vais ser nada” -, dum fundo negríssimo que dispensa explicações ou palavras, de costas para a câmara e num plano que vale mil Van Sants, a trezentos e poucos quilómetros do deboche do Nevada e, até já podemos adivinhar, disposta a tudo. Desafio qualquer pessoa a chamar misógino a quem apresenta assim uma personagem. A conquistar e rasgar paisagens e céus, como dantes se fazia.

O carro do primeiro cabrão do filme faz os mesmos zigue-zagues na estrada do Turks fruit (Delícias Turcas, 1973) e do Spetters (Viver Sem Amanhã, 1980) da fase holandesa, asfalto demonizado e a lembrar ao de leve as rudimentares e sábias experiências dos pioneiros dos anos 30 ou um jovem Iosseliani, ou um jovem Fregonese. Tudo no fio da navalha, atravessa-se uma rua e pode ser a última vez, vidas desesperadas e desenfreadas. Que importa, não é? Para eles, nada. A estrada é o espelho deste mundo bárbaro e selvagem, que Verhoeven não acredita em contos de fadas. Incumbiu-se de mostrar o mundo que via e pagou caro por isso. Por alturas dos filmes de ficção-científica, que fez como artesão faz, sabia pouco dos USA e usou pedaços do que foi conhecendo e vendo [os media de Robocop (Robocop – O Polícia do Futuro, 1987), a corrupção ao mais alto nível de Total Recall (Desafio Total, 1990)]. Em 95, já sabia demais e saiu-se com coisa perigosa, mordaz, frontal e sem rodeios.

É esta frontalidade mais do que qualquer outra coisa, que incomoda. Faz mossa, leva a choques complicados com as nossas convicções. Qualquer coisa perto da máxima oliveiriana do “ninguém gosta de se ver ao espelho”. Pode ser isso ou o não haver um ponto de vista esmiuçado, descortinado, mas só matéria em estado bruto. Realidade. Porque o olhar de Verhoeven sobre este pedaço de mundo (e um mundo por si só) que são os U. S. of A. se calhar não é, ou não é só, um olhar denunciador, mas um de completa admiração. De quem percebe que é um país que vive e se alimenta de paradoxos fascinantes, de extremos que se confundem e se cruzam constantemente. Nomi ama e abomina aquela indústria e aquela gente, às vezes ao mesmo tempo. Como de resto parece sentir o mesmo sobre si própria. Fugiu duma alhada para entrar noutra bem parecida. Com gente bem mais requintada, bem mais prestigiada e que sabe pronunciar Versace, mas que lhe diz “You’re a whore (…), we all are. We take the cash, we cash the check, we show them what they want to see…”

Ela alinha neste jogo de “foder o próximo” e contamina-se e farta-se dele. Jogos que vão dando luzes sobre as suas inseguranças, os seus terrores e os seus fantasmas. Danças e beijos da morte, coreografias do fim do mundo, uma batalha do tudo ou nada com a diva do Stardust e do espectáculo lá residente, Goddess. Nomi e Cristal Connors (Gina Gershon) duas faces da mesma moeda, até ver. Até Nomi ver que era quem não tinha paciência para estes jogos quem tinha razão. Directores de entretenimento e chulos são a mesma coisa… “What is he, a pimp? Only people I know got pimp cars, are pimps.”, diz James, o coreógrafo frustrado. Mas até esse só a queria foder, que dizer a mulheres com sede de sucesso que têm talento é foda certa. Sem rodeios, sem escrúpulos. A vida e o sucesso são jogos de sobreviventes. E querem-me convencer que o filme e o realizador foram queimados porque são maus… Quê, esteticamente? Eticamente? Mostram é coisas que custam a engolir. A câmara até faz questão de no fim sobrevoar um poster que anuncia “Nomi Malone is Goddess” e aproximar-se de um sinal que diz que Los Angeles é a 280 quilómetros. Valha-me Deus… “Sátira”? “Big-budget exploitation movie”? Não, é uma declaração de guerra. “Hey, hey, let’s kick out the trash”…

“So, did you gamble?”

Nomi, agora Polly Ann Costello, acena que sim.

“Did you win?”

Volta a acenar.

“What did you win?”

“Me”

De Garth Brooks para Siouxsie and the Banshees e para a estrada do início do filme. Foi preciso passar por muito para se encontrar, foi preciso ver a cara inchada de Molly (Gina Ravera) para perceber. Mas Nomi agora endureceu e vai assombrar os nossos sonhos. Vingar-se como Polly Ann Costello na meca do cinema. Las Vegas como em Los Angeles como em Amsterdão como em Lisboa (como em…), que é tudo o mesmo. Um dos melhores filmes dos anos 90. É só passarem mais uns anos e as feridas sararem, que ainda ninguém se recompôs…

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1990'sElizabeth BerkleyGina GershonGina RaveraHugo FregoneseJacques RivetteManoel de OliveiraOtar IosselianiPaul VerhoevenSiouxsie and the Banshees

João Palhares

"You are truly a pile of dog shit, Cardinal."

Artigos relacionados

  • Contra-campo

    “Aftersun”: a tensão suave da memória

  • Cinema em Casa

    “Time to Love”: amor, um caminho interior

  • Críticas

    “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

1 Comentário

  • o meu amigo john doe diz: 25 de Julho, 2013 em 15:08

    Sim acho que Las Vegas é tudo o que lemos neste texto inspirado.

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

      9 de Janeiro, 2023
    • “Vendredi soir”: febre de sexta-feira à noite

      5 de Janeiro, 2023
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.