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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

V Tumane (2012) de Sergei Loznitsa

De Carlos Natálio · Em 11 de Julho, 2013

Tal como Arquimedes pedia um ponto de apoio para levantar o mundo, assim o cinema contemporâneo parece reclamar a necessidade de planos longos, lentos, sérios, onde assentar uma atmosfera de gravidade e neutralidade que lide de forma adulta com os “problemas do mundo”. Talvez essa mostragem minimal, que pouco compromete, seja talvez ainda a dor do grande trauma, a herança do dito de Adorno que prognosticava a impossibilidade da arte depois dos horrores de Auschwitz.

Essa gravidade está presente no trabalho de documentarista bielorrusso Sergei Loznitsa mas torna-se mais evidente na sua incursão na ficção, quer com a sua obra de estreia Schastye moe (A Minha Alegria, 2010) quer agora com V Tumane (No Nevoeiro, 2012), vencedor do prémio Fipresci em Cannes. Esta reclama um olhar de observação vindo do registo documental, apenso a uma herança literária trágica russa e claro com um propósito de exorcismo das memórias e feridas da Ucrânia vistas à luz da ocupação alemã.

Baseado num romance de 1989 de Vasili Bykov, Loznitsa ensaia uma reflexão sobre a culpabilidade e amizade em tempos de guerra. Numa fronteira ocidental da URSS ocupada pelo exército alemão, Sushenya, trabalhador dos caminhos de ferros, recusa-se a participar na sabotagem de um comboio com os seus colegas. Quando estes são enforcados pelo facto, este também se escusa a um acordo colaboracionista com o investigador nazi. Essa nova recusa – “I cannot do that”, responde ao oficial nazi – coloca-o num limbo, entre trincheiras morais, prestes a ser executado por um partisan amigo de infância que o acusa de colaboracionismo.

É aqui que entra a própria realização “em limbo” de Loznitsa. A estratégia realista constrói uma atmosfera de nevoeiro (onde todos podem ser vítimas ou culpados, executores e salvadores dos próprios amigos) de uma floresta-espaço-existencial por onde os seus personagens caminham indistintamente carregando a pá para a sua própria execução ou transportando às costas o seu próprio carrasco. Ou onde permanecem em monólogo como que atingidos pela amnésica gravidade de uma condição sem esperança, sem lutarem por aí além pela sua própria sobrevivência [é o inverso da personagem de Vincent Gallo em Essential Killing (Matar para Viver, 2010) de Jerzy Skolimowski]. E aqui desenha-se o interesse da indecidibilidade de tomada de posição do seu protagonista, como um novo Bartleby.

Mas como já acontecia com a odisseia do camionista em Schastye moe todo o percurso narrativo parece caminhar desse realismo ao simbolismo demonstrativo: a simplicidade de ambos os finais, a gestão explicativa dos flashbacks, a oposição entre a crueldade do mundo e a santidade com que os seus protagonistas nele evoluem.

Por causa desta indecidibilidade entre realismo e discurso, ver V Tumane é observar uma máscara do mundo que cai, é ver a lentidão dos planos a servir uma ambição metafísica que no final se desvanece ante a mais trágica clareza: em tempos de guerra quem não consegue ser morto, deve matar-se. Perante isto, a densidade da vida sob a ocupação transforma-se numa espécie de culpa na sobrevivência que não se sabe bem porquê Loznitsa aborda do ponto de vista de um nihilismo traumático um tanto bafiento. É pena que assim seja quando a atenção ao detalhe, à construção do plano-sequência o colocam como um cineasta virtuoso, muito acima da média.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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2 Comentários

  • l815 diz: 16 de Agosto, 2013 em 3:01

    Belo texto.

    Inicie a sessão para responder
  • Krotkaya (2017) de Sergei Loznitsa | À pala de Walsh diz: 6 de Junho, 2018 em 19:59

    […] Depois, V Tumane (No Nevoeiro, 2012) era uma espécie de filme de guerra metafísico sob o lema “em tempos de guerra quem não consegue ser morto, deve matar-se.” Agora, com Krotkaya, Sergei Loznitsa inspira-se no conto homónimo de Fiódor Dostoiévski, que […]

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