• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Civic TV, Crónicas 0

A culpa é mediúnica

De Luís Mendonça · Em 2 de Setembro, 2013

Mais uma muito boa descoberta na antena do canal TCM, Our Mother’s House (Todas as Noites às Nove, 1967) é uma arrepiante revisitação da infância trazida pela mão de Jack Clayton, realizador que ficou famoso graças a uma obra-prima de horror cujo título ressoa neste filme como um sussurro vindo do além. Duro, tocante e mortificador, Clayton prova aqui que não é cineasta de um filme só.

Os jornalistas e aquela sua mania de se defenderem de tudo e de todos com a expressão: “por favor, não queiram matar o mensageiro!”. Pois, mas as pessoas atentas já sabem, por esta altura, que o mensageiro é a mensagem. Em Our Mother’s House, a verdade e a inocência, a morte e o espiritismo mediúnico rasam essa ideia com dureza e muita inquietude. E, contudo, neste filme de Jack Clayton, o célebre realizador da obra-prima de terror The Innocents (Os Inocentes, 1961), é contada a história de um grupo de sete crianças que enfrenta a morte da mãe, vencida por uma doença prolongada, fingindo que nada aconteceu, para si e para os outros, lá fora… fora da casa. “A mãe está a dormir”, “a mãe partiu para um sanatório no campo, para respirar ar puro”, “a mãe isto e aquilo”, todas as crianças mentem a qualquer estranho que bata à porta, mas também mentem a si próprias. De qualquer modo, ninguém sabe, como no filme de Hirokazu Koreeda, o que de facto se passa naquela casa.

A inocência de toda esta encenação é justificada pelo receio legítimo de que esta família de pequenas meninas e pequenos meninos, habituados desde cedo a desenvencilharem-se sozinhos por causa da doença da mãe, vá parar a um orfanato e tenha que se separar para sempre. A encenação macabra, que passa pelo enterro do cadáver no jardim e a organização de sessões diárias de contacto além-morte, é o mecanismo moral que encontram para se auto-desculparem pela fachada de mentiras que erigiram de um dia para o outro. Garantir a existência, mesmo que “paranormal”, da sua querida mãe evitará, pensam as suas lógicas cabeças infantis, que a profanação e o pecado lhes  sejam cobrados por uma indesejada visita que lhes bata à porta. Quem canaliza o espírito da mãe será Diana (Pamela Franklin), a segunda líder do grupo logo a seguir à resoluta e mais adulta Elsa (maravilhosa interpretação de Margaret Brooks). Rodeada por coisas da falecida e sentada na sua cadeira de baloiço, Diana perde a inocência, oferece-se à possessão e, como uma “mestre louca”, chama a si o papel de medium.

Jack Clayton aplica a sua magistral capacidade para compor atmosferas de horror e mortificação em cada uma destas sequências, fazendo incidir sobre o rosto de Diana um jogo de luzes contrastantes, que fazem com que este, entre a luz e a escuridão, se metamorfoseie em algo terrivelmente familiar: a mãe, em intermitências “de carne e espírito”, manifesta-se na filha para ditar sentenças, administrar castigos muitas vezes cruéis e corrigir eventuais erros na “política da casa”. O uso do complemento no título, “a casa da mãe”, não é impensado, na medida em que a casa nunca deixa de ser dela, mesmo que in absentia. E a mentira canaliza uma verdade inocente: a mãe não pode desaparecer porque, caso contrário, teremos de mentir ou ir parar a um orfanato. As crianças não mentem verdadeiramente até pelo menos ao momento em que Diana assume que, numa das decisões que os seus lábios “mediaram”, não estava, de facto, a “canalizar” o espírito da mãe. A vontade e caprichos da criança começam aqui a inserir ruído, entropia, no sistema da casa.

É a partir da entrada em cena do pai desaparecido (um papel à imagem das melhores personagens, sempre cínicas e sedutoras, de Dirk Bogarde) que se começa a pressentir a definitiva “saída de cena” da ainda proprietária da casa. “Os menores não podem possuir coisas”, alerta o homem charlatão de quem a mãe desconfiava e o qual não se inibira de desacreditar junto da primogénita, Elsa. Esta não acredita numa única palavra do suposto pai e a presença ausente deste – porque não se torna presente quem simplesmente regressa passados tantos anos… – começa a revelar-se mais desconfortável que a ausência sempre presente da mãe – já que dificilmente desaparece quem esteve lá, junto das filhas, durante tanto tempo.

Não, o jornalista/comunicador avisado tem de perceber de uma vez por todas: o mensageiro é a mensagem e esta terá ele de carregar até à tumba. Diana, a medium de serviço, não poderia dissociar-se assim tão facilmente do espírito da mãe; ela, na realidade, estabelece com o pai retornado uma relação secretamente promíscua, de filha-esposa-mãe, que, nessa indecidibilidade de posse ou de possessão – as crianças não podem possuir nada, mas uma dúvida: nem mesmo quando possuídas por um adulto? -, acaba mais cedo ou mais tarde por produzir uma nova morte: afinal, possessão de quê, de quem, por quê, por quem? Resultado: que se mate a esposa, isto é, que se mate o escroque do pai (= a figura que desperta na filha o papel da esposa defunta). A filha que dera vida à mensagem de uma morta, uma mensagem de morte, responde ao choque de uma infâmia – o pai grita que a mãe era uma puta, mas não se sabe se mente… – com uma raiva que não é sua, que não possui na medida em que é a raiva (da mãe) que baixa, em legítima defesa, sobre a filha. Aqui, na casa da mãe, a culpa é mediúnica: não queiram matar o mensageiro, pois ele, criança sem infância, já entre os mortos está.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1960'sDirk BogardeJack ClaytonMargaret BrooksPamela Franklin

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

Artigos relacionados

  • Crónicas

    Apocalypse Now: as portas da percepção

  • Crónicas

    A medida das coisas

  • Crónicas

    O sol a sombra a cal

Sem Comentários

  • john doe diz: 3 de Setembro, 2013 em 18:23

    Gostei da crítica, muito bem escrita. Do filme, não é o meu género, não diria o mesmo.

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

      9 de Janeiro, 2023
    • “Vendredi soir”: febre de sexta-feira à noite

      5 de Janeiro, 2023
    • “The Fabelmans”: ‘in the end… you got the girl’ 

      3 de Janeiro, 2023
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.