Diga-se em abono da verdade que quando queremos homenagear alguém há coisas bem mais baratas e bem mais à mão do que realizar um filme. Não parece, contudo, ter sido essa a opinião da dúzia de produtores e co-produtores ingleses, franceses, suecos, belgas e moçambicanos por detrás de Diana (2013). O resultado é um desses retratos assépticos de masturbação histórica sobre a “princesa do povo”, em concreto, sobre os seus últimos anos de vida antes do acidente de viação em Paris que a vitimou, durante os quais manteve um caso amoroso atribulado com o cirurgião paquistanês, o Dr. Hasnat Khan.
Se a ideia de homenagem já de si é propensa a turvar o julgamento artístico criativo, era possível rearranjar os clichés de forma a tornar tudo isto muito menos penoso. Mas o alemão Oliver Hirshbiegel, que veio do espectro diabólico [Der Untergang (A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich, 2004)] para o espectro da santidade absoluta, não parece querer fazer-nos a vontade, e isto, apesar de começar relativamente bem com as pernas, passos e hesitações da princesa nas sequências iniciais, com o passar do tempo, rapidamente se instala uma clareza maçadora fazendo com que afinal todo o filme se resuma a três ideias centrais.
Um: Diana foi uma pessoa extremamente boa e caridosa. Não o pomos em causa. Apenas e unicamente ficamo-lo a saber através de lamentáveis sequências, vazias e ilustrativas. Diana que nem série Anita. Diana com os pretinhos, Diana abraça os sofredores, Diana vende vestidos em segunda mão, etc.
Dois: Diana é uma pessoa que, apesar de princesa, é extremamente normal. Logo, vê séries de televisão e tira os sapatos e faz torradas e, como todas as pessoas, tem telemóvel (aliás, tem quatro).
Três: esta é uma história de amor. Diana apaixona-se pelo dito cirurgião, que fala por parábolas charmosas, e ambos vivem uma paixão intensa: partilham fast food, caranguejos nas costas e jantares onde Diana tem de usar uma peruca para se disfarçar de morena. Depois as coisas correm menos bem e Diana, para fazer ciúmes a Hasnat, começa a envolver-se com Dodi Al-Fayed. Tudo isto em terreno soap opera, diálogos hirtos que nem barras de ferro (Naomi Watts e Naveen Andrews fazem o que podem), onde pontuam exortações crísticas como: “someone has got to go out there and love people”. Tudo, tudo, para inglês ver, claro.