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Poesia social, social poético

De Tiago Ribeiro · Em 5 de Setembro, 2013

Estou com dor de cabeça e com sono. A juntar a isto, não tenho tabaco. Será nestas condições de existência no limite do suportável que será redigido o seguinte texto, o que só prova a que níveis poderá chegar os amores pelo cinema, abençoados sejamos todos. Enquanto existir toda esta devoção, o cinema jamais acabará, nem que tenhamos todos de dar os corpinhos para que tal arte não desapareça do mapa, por mais que os Barretos Xavieres o tentem, malvados, vilões! Jamais trocaria, neste exacto momento, este amor pelo cinema por um maço de tabaco, o que só prova que esta dor de cabeça e a abstinência fumegante estão já a criar os seus primeiros sintomas. Vivó cinema!

Em 1962 Joris Ivens, cineasta holandês- o mais usual seria considerá-lo como “documentarista holandês”, o que nos leva a questionar o porquê de não catalogarem um realizador “não-documental”, por exemplo, o Paul Thomas Anderson, como “ficcionista norte-americano” – foi convidado para ir ao Chile dar aulas de cinema, onde, rezam os mitos, terá apresentado uma câmara de filmar aos seus alunos, o que grandes espantos e exclamações criou. Acrescente-se que este mito foi inventado agora mesmo e demonstra grande desrespeito pela população chilena, o que só demonstra que o autor de tal invenção tem de arranjar um cigarro quanto antes.

Com a ajuda dos seus alunos e de uns quantos personagens mais famosos, que serão daqui a pouco nomeados, Ivens deslocou-se até uma das cidades mais icónicas do Chile e da América Latina, Valparaíso, uma cidade costeira de quarenta e duas colinas e que faz passar as sete de Lisboa como mera aventura de populaça infantil em pijama e chucha. Digamos que a subida da Baixa até à Graça é, para um super-idoso de Valparaíso, uma benção providenciada por Jesus Cristo Nosso Senhor. E lá foi o Ivens, com o Patricio Guzman na câmara (um dos seus alunos na altura), a que mais tarde se juntariam, na pós produção, ilustres senhores como Chris Marker (texto), Gustavo Becerra e Georges Delerue (música), Roger Pigaut (voz off) ou Jean Ravel (edição), entre outros técnicos anónimos. E que maravilha fizeram, estes cabrões.

… A Valparaíso (1965), com a sua montagem associativa, o seu texto (típicamente à Marker, cheio de dialécticas e brincadeiras linguísticas), a voz lânguida de Pigaut, começa desde o primeiro minuto a esfumar os nossos neurotransmissores com diversos tons de emoção, sendo o da melancolia o mais evidente, interrompido por um aroma de pitoresco picaresco que sublinha as inatas particularidades da própria arquitectura da cidade, onde um jogo de futebol num pelado inclinado numa das colinas está constantemente  a ser interrompido porque a bola está invariavelmente a descer pelas colinas abaixo. São vinte e seis minutos onde o “cinema social” de Ivens está menos presente do que a “poesia” do Marker, o que pode sempre dar origem a grandes disputas sobre ideias moribundas como “autorismo” e demais patifarias que todos nós, os que gostam e amam cinema, andamos há cento e vinte anos a espalhar pelo mundo, abençoados. Com um cigarro na mão, se possível.

A banda-sonora de Becerra com orquestra do Delerue é, claro está, um dos pontos-chave da imanente tristeza de …A Valparaíso. Até nos tais momentos de maior leveza cómica a música não deixa de destilar as suas centelhas de nostalgia por algo indizível, algo que talvez já não exista numa cidade outrora próspera e repleta de aventuras de corsários e de exploradores, e que nos anos sessenta evidenciava uma pobreza franciscana, traduzida por uma inversão da regra da pirâmide, onde os pobres vivem no topo e os barões junto ao porto, o que, acrescente-se, criou grandes anticorpos nos chilenos que viram o filme na altura (cerca de seis pessoas), que ameaçaram dar uma carga de porrada no Ivens e em raptarem todos os gatos do Marker e de os enviar para a China. Já imaginamos um cineasta não-português a realizar um filme sobre uma Lisboa pobre e podre, e logo de seguida a população de Alcântara e Xabregas a lançar motins nocturnos com as suas tochas e roupas com capuzes brancos. Imaginamos muitas coisas, de facto.

Após … A Valparaíso, Ivens continuaria em terras de Marcelo Salas, onde daria cobertura e apoio a Salvador Allende nas eleições presidenciais. Quanto à própria cidade, continua a providenciar grandes explorações turísticas, com o seu porto, os seus elevadores, os seus morros, etc. Poderíamos acrescentar qualquer coisa sobre a sua actual situação económica e social, mas não temos tempo para isso, até porque falta um minuto para ultrapassarmos o prazo de entrega deste texto. Pronto, acabou agora mesmo.

(… A Valparaiso pode ser visto, na íntegra, neste link.)

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Chris MarkerJoris Ivens

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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