Após o encerramento dos cinemas Londres e King, de a Cinemateca Portuguesa ter anunciado o seu iminente fecho e de ter terminado 5 Noites, 5 Filmes na RTP2, os portugueses já devem estar preparados para más notícias no domínio da sua vida cinéfila. Pois então agora o espectador nacional diz adeus ao único canal onde era possível ver filmes anteriores à sua data de nascimento, estrelando os grandes fantasmas eternos do cinema clássico, narrando memoráveis aventuras em preto-e-branco ou em Technicolor, desenroladas em infinitas paisagens no alto-mar, no Oeste, nas selvas urbanas, lugares que nunca nos cansamos de revisitar, lugares que nunca cessam de nos revisitar… Da noite para o dia, tudo isto foi varrido do mapa televisivo português. No dia 3 de Dezembro, o TCM deixou de transmitir os velhinhos filmes que já não encontrávamos em mais lado nenhum na nossa antena. Morre com ele um pedaço de mim e, por arrasto, um bom pedaço da razão de ser desta crónica. Antes do apagão, guardámos dos dois últimos filmes exibidos as orações literalmente metralhadas por Robert Mitchum, na pele de um dos mais sacrílegos padres da história do cinema, e o rosto jovem de John Wayne tal como as acrobacias do seu cavalo alter ego, “Duke”.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.