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Críticas, Noutras Salas 2

La double vie de Véronique (1991) de Krzysztof Kieslowski

De João Araújo · Em 15 de Dezembro, 2013

La double vie de Véronique (A Dupla Vida de Veronique, 1991) parece um estudo, ou um daqueles esboços que vemos em museus sobre versões anteriores da mesma obra. Como que um ensaio, é um preâmbulo ao que Kieslowski alcançaria nos seus filmes seguintes, na trilogia Trois couleurs: Bleu (Azul, 1993), Blanc (Branco, 1994) e Rouge (Vermelho, 1994). Longe do cinema imaculado dessa trilogia, mas muito próximo dos jogos de metáforas e símbolos desses filmes, deixa antever muitos dos elementos que Kieslowski utilizaria mais tarde, ao mesmo tempo que sinaliza um vislumbre de um cinema de emoções.

O filme, que começa com um plano invertido de um céu nocturno, em que as luzes longínquas e desfocadas da cidade substituem-se às estrelas, evoca desde logo a noção de um universo paralelo. La double vie de Véronique conta a história de duas personagens, que poderiam ser a mesma, interpretadas aqui pela mesma actriz, Irène Jacob: Véronique é francesa, e Wéronika é polaca. Será através dos pontos de contacto entre a vida de cada uma, tal como as diferenças mais e menos subtis, que Kieslowski avançará a narrativa. Se a personagem polaca, que marca a primeira parte do filme, é mais emotiva e ingénua, cede às tentações e age sobre os impulsos, ou seja, é a versão dionisíaca, a personagem francesa, que aparece na segunda parte do filme, é mais racional, contemplativa e cuidadosa, como uma versão apolínea.

As diferenças que formam a base das escolhas diferentes destas duas personagens ao longo do filme são sublinhadas por Kieslowski, para justificar os seus diferentes destinos. Mas ao mesmo tempo, Kieslowski é suficientemente enigmático, através dos seus jogos de sugestões e simbolismos, para nunca ficar demasiadamente claro se se trata realmente de duas vidas paralelas, ou de vidas alternativas da mesma personagem, duas diferentes possibilidades de existência. Aliás, é possível até interpretar a segunda parte do filme como uma resposta à primeira, e ver nas acções da segunda versão como que uma segunda vida, um reajustamento depois de conhecer o que acontece à primeira versão.

O encanto do filme, essa falta de respostas, é ao mesmo tempo o seu ponto fraco, pela ambiguidade que exige do espectador uma interpretação subjectiva. Kieslowski procura transcender as limitações de uma narrativa linear, recorrendo a uma sucessão de pistas abstractas, não para chegar a uma conclusão lógica, mas antes a um mapa emocional – só que acaba sempre por voltar à necessidade de uma narrativa base. Essas pistas, gestos e sons, objectos e imagens, permitem no entanto um prenúncio de uma ideia de filme-poema, sensorial.

O filme apoia-se fortemente em dois elementos, que surgem também na trilogia posterior com grande importância. A música e, mais especificamente, as diferentes formas que a música pode assumir dentro de um filme são aqui claramente exemplificadas: quer como pano de fundo em várias cenas, quer com o tema central que surge repetido ao longo do filme, quer como som único que segura a cena, quer mesmo como um factor decisivo na história das duas personagens, a música domina a encenação. O outro elemento é a presença de Irène Jacob e a sua dupla interpretação, que coloca a actriz como elemento central da criação artística.

Sobre o som, a música e a importância da actriz, há uma sequência que exemplifica com claridade o contributo de cada um. Véronique, a personagem francesa, recebe um envelope com uma cassete de uma gravação enviada por um desconhecido. Primeiro vemos Véronique enquanto ouve a gravação, uma sequência de sons enigmáticos e captados por alguém na rua, enquanto esta deitada na cama imagina as suas possibilidades e significados. Depois, assistimos a Véronique na rua, a perseguir as pistas deixadas pela gravação, enquanto ouvimos outra vez os sons agora associados a imagens, até ela chegar ao tal desconhecido. A relação de simbiose do realizador com o espectador – por depender do significado que este atribui aos símbolos – é aqui expandida à relação de simbiose do realizador para com a sua actriz, por depender das suas expressões faciais para aludir a sentimentos.

Há um plano vertiginoso de 360 graus, sensivelmente a meio do filme, em que a câmara dança à volta de Wéronika, porque esta acaba de ver Véronique ao longe, e este encontro de poucos segundos vai abalar o seu mundo. Da mesma forma, La double vie de Véronique dança à volta da história de uma e de outra, e Kieslowski, através de símbolos e diferentes sentimentos, apela a que na nossa interpretação do filme, acreditemos que estamos próximos da nossa própria realidade – esta é a ilusão do filme, a ilusão de Kieslowski.

La double vie de Véronique será exibido pelo Cineclube de Guimarães, dia 17 de Dezembro às 21h45 na Blackbox – Plataforma das Artes.

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1990'sIrène JacobKrzysztof Kieślowski

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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2 Comentários

  • Vítor Barreira diz: 24 de Dezembro, 2013 em 3:47

    As infinitas vidas de Véronique

    1. Arrastado pela «vaga revolucionária» de 1989, que levou à substituição traumática do regime de matriz comunista que vigorava então na Polónia, pelo regime de matriz europeia actual, Krzysztof Kieslowski (1941–1996), um dos mais ilustres representantes da Escola de Cinema de Lodz, teve de aproveitar o reconhecimento internacional que lhe havia trazido o Dekalog / O Decálogo, 1988-90, uma série de 10 filmes realizados para televisão, e aceitar os subsequentes convites para participar em projectos cinematográficos de âmbito europeu, para não ficar diminuído, senão mesmo paralisado, na sua actividade de cineasta. La double vie de Véronique / A dupla vida de Veronique, 1991, foi o primeiro filme de Kieslowski a ser realizado no âmbito do referido regime de co-produção, vindo o mesmo regime a aplicar-se à Trilogia das Cores: Azul (1993), Branco (1994), Vermelho (1994), os três filmes seguintes, e últimos, da carreira cinematográfica de Kieslowski.

    2. Sendo geralmente considerado um filme discreto e menor, consideração que poderíamos estender ao próprio Kieslowski, que pressinto ter caído no esquecimento e no vazio e na escuridão da história do cinema, La double vie de … deve, no entanto, ser apreciado com todo o «cuidado» possível, devendo, neste contexto, a palavra «cuidado» ser tomada no seu sentido genuíno e profundo de «reflexão e pensamento que se exerce sobre», por um lado, e, «interesse, zelo e estima», por outro. E porquê esse «cuidado»? Por duas razões ponderosas e cheias de significado:

    Em primeiro lugar, porque La double vie de … é um filme charneira, um filme que na filmografia de Kieslowski articula um conjunto de valores e temas que ele já havia experimentado nos seus filmes anteriores, sobretudo no seu filme-conceito Przypadek/ Blind Chance, 1987, e no já referido Dekalog/ O Decálogo, com um novo idioma audiovisual, marcado sobretudo pela combinação de prodigiosas bandas sonoras, de matriz sinfónica, e bandas cromáticas, que vão muito para além do seu valor perceptivo e psicológico comum;

    Em segundo lugar, e mais substantivamente, porque La double vie de … escrito por Kieslowski em co-autoria com o advogado e escritor polaco Krzysztof Piesiewicz, realiza temática e filosoficamente uma espécie de experiência de laboratório, submetendo a personagem Véronique, que dá o título ao filme, e magnificamente interpretada pela actriz francesa Irene Jacob, uma mulher belíssima, aos regimes e efeitos dos três padrões ou estruturas fundamentais da realidade – O ACASO, O LIVRE-ARBÍTRIO e O DESTINO –, e fá-lo de uma forma que convoca as melodias e os motivos musicais da composição para orquestra, o Verso il cielo, do talentoso compositor polaco Zbigniew Preisner, e a banda de cores – o amarelo, o verde e o vermelho – omnipresente em todos os planos do filme, que é superiormente fotografado pelo director de fotografia polaco Slawomir Idziak, como elementos fundamentais na construção do significado do filme.

    3. Assim, e começando a concretizar, La double vie de … é um filme que incorpora as ideias filosóficas – O ACASO, O LIVRE-ARBÍTRIO e O DESTINO do filme Przypadek/ Blind Chance; e utiliza a estrutura do Dekalog/ O Decálogo, no qual os 10 mandamentos bíblicos são representados por 10 filmes que exploram os seus sentidos e as suas aplicações possíveis no contexto da Polónia no fim da década de 80 e início da década de 90 do século passado. No filme La double vie de … as referidas três ideias filosóficas, no entanto, vão assentar numa estrutura mais simples e reduzida; e a matriz de referência deixa de ser abstracta e religiosa, e passa a ser concreta, sensorial e psicológica, ou seja, são cores – o amarelo, o verde e o vermelho. Estas três cores são associadas e ganham sentido na sua referência ao ACASO, ao LIVRE-ARBÍTRIO e ao DESTINO; e estas três ideias filosóficas, por sua vez, adquirem concretização visual e percepção afectiva nessas três cores. Este esquema, como é sabido, teve a sua concretização plena, com outras ideias e outras cores, na prodigiosa Trilogia das Cores, que encerrou a filmografia e a vida criativa do genial cineasta polaco.

    Dir-se-á não haver nesta codificação cromática nada de original; ela teria já sido realizada, por exemplo, pelo director italiano Michelangelo Antonioni, no filme o Mistério de Oberwald / Il mistero di Oberwald, 1981, em que a cada personagem e respectivo temperamento corresponde uma cor, ou, mais recentemente, no filme Fausto/ Faust, 2011, do director russo Aleksandr Sokurov, que realiza a aplicação na tela-ecrã da Teoria das Cores / Zur Farbenlehre, 1810, do filósofo e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, e autor da obra literária homónima que serviu de base ao referido filme; assim será, mas não seguramente ao nível do grande cineasta polaco; Kieslowski, que poderá, sem qualquer concessão, ser considerado um dos maiores autores do cinema europeu e mundial, na constelação de filmes anteriormente referida, com o filme La double vie de … no seu centro, colocou o cinema, o seu cinema, num patamar demasiado elevado, num patamar em que cinema é uma forma de arte que penetra as mais profundas camadas da realidade e exprime as suas estruturas fundamentais, e dessa forma define o estatuto e a condição que nos está reservada, a nós simples humanos, no plano geral da vida.

    4. Agora sim, meus senhores, começaria a recensão do filme La double vie de …, que para ser minimamente competente teria de ser realizada plano a plano, cena a cena, sequência a sequência, e explicitar o modo como Kieslowski tratou narrativamente as três estruturas fundamentais da realidade, o ACASO, o LIVRE-ARBÍTRIO e o DESTINO e lhes submeteu a personagem Véronique, e o seu duplo, ou seja, qualquer um de nós, e a sua LIBERDADE.

    * Agradeço pessoalmente a António Araújo ter trazido para a montra de filmes do blog À pala de Walsh o filme La double vie de …, assim impedindo que, pelo menos durante uma certa parcela de tempo, um filme importante de um dos maiores cineastas da história do cinema caia no esquecimento; Krzysztof Kieslowski e os seus filmes são demasiado preciosos para serem esquecidos.

    Um feliz Natal e um bom ano de 2014, cheio de felicidades e realizações, para todos os colaboradores e leitores deste blog.

    Inicie a sessão para responder
  • Luís Mendonça diz: 25 de Dezembro, 2013 em 19:25

    Sem querer passar por cima de mais esta densa e estimulante reflexão que nos deixa na nossa caixa de comentários, permita-me que retribua os votos de um bom 2014.

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