• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Le passé (2013) de Asghar Farhadi

De Carlos Natálio · Em 24 de Dezembro, 2013

Quando vi Le passé (O Passado, 2013), tinha-me ficado na retina (como não?) o tal plano do vidro traseiro do carro com Ahmad (o ex-marido) e Marie (a ex-esposa) a olharem para trás para tentar descortinar em que raio tinham acabado de embater. Se olhar para trás é olhar para o passado, e é isso que vai acontecer a partir daí, o pára-brisas que varre o título inicial prolonga o simbolismo ao nível da motricidade. O carro avança ou recua (é o presente) e há uma linha que separa… (não, não é isso), dizia, há uma linha horizontal que vai acompanhado o movimento em profundidade. Esse movimento uniforme, cadente das varetas é o que procede à limpeza constante e que vai removendo os detritos (é o passado) que o constante avanço, o viver constante do presente, deixa. Na verdade, essa limpeza (física, emocional) é o que permite o carro avançar. É o que permite o ser humano viver. Agora, hoje.

Nesta tarefa de remoção, Ahmad vem de Teerão a Paris para assinar os papéis de divórcio (embora seja mais uma celebração, com uma espécie de “eu pronuncio-vos ex-marido e ex-mulher”) e instala-se na casa de Marie, onde esta vive com os seus filhos de um casamento anterior e ainda Samir (o seu novo companheiro) e o seu filho, o pequeno Fouad. Se no seu filme anterior Jodaeiye Nader az Simin (Uma Separação, 2011) a separação do casal protagonista era uma forma de Farhadi reflectir sobre essa nova figura da separação de uma sociedade iraniana toda ela cosida por dogmas religiosos, aqui essa filiação nacional está muito mais diluída. Está no prato que Ahmad cozinha para os filhos de Marie ou quando falam sobre a beleza das mulheres iranianas (sem barba). A identidade de Le passé é por isso toda ela interior, em que as feridas emocionais não conhecem país, apenas distância e proximidade entre pessoas.

Desta feita, o filme inscreve-se numa tradição rohmeriana de drama tenso entre pessoas [penso também naquele título que fez chorar muito boa gente nos anos 80 nas televisões portuguesas Kramer vs. Kramer (Kramer contra Kramer, 1979) de Robert Benton] e a partição das emoções, desfolhada por camadas: os homens digladiam-se pela posse do território, da casa, um pinta as paredes com uma tinta nova que, mal chega Ahmad, se espalha pelo chão, entornada (a pintar desordenada, o chão) e o outro arranja o lava-loiças; a adolescente não quer que a mãe mude constantemente de homens; as crianças enquanto são, elas próprias, objectos de exercício do poder masculino (a cena das prendas) querem estar no mesmo espaço, sem alterações. Ahmad é a personagem “santa”, sempre calmo, pronto a falar e a resolver os problemas, que se converte, sobretudo perto do final, em que parece haver um lado procedimental de apuramento de culpas (algo que já vem do cinema anterior de Farhadi), em inspector dos sentimentos alheios. Marie, a fabulosa actriz Bérénice Bejo (venceu o prémio para melhor interpretação este ano em Cannes), é o centro da desordenação (e da conquista), explodindo de cena em cena.

Mais do que o apuramento de responsabilidades e de quem ama quem, interessa ver como Farhadi filma o enrodilhar da coisa. Ahmad é o veículo do esclarecimento, mas é também a causa da perturbação: sente-se injustiçado pelo facto de Marie o ter feito dormir no mesmo quarto do filho do seu novo homem , ele sente o presente como uma pseudo-vingança pelo passado em que deixou aquela família, em que esteve deprimido e já não lhe apetecia viver. Também Farhadi, não pode, não consegue, filmar tudo isto de forma asséptica. As discussões, encontros de gente dorida e desorientada sucedem-se com um notável sentido de ritmo e com uma maravilhosa direcção de actores. O que se pergunta é algo semelhante ao que João Bénard da Costa inquiria acerca da representação de Ingrid Bergman e Liv Ullmann em Höstsonaten (Sonata de Outono, 1978) de Ingmar Bergman. Mas onde acabavam aquela Charlotte e aquela Eva, aquela mãe e aquela filha, em duelo, e onde começavam as actrizes com sentimentos próprios inculcados de separação e ausência de que o filme tratava? Le passé não vai tão longe pois Farhadi adiciona à claustrofobia emocional dos quartos (onde filma sempre as suas “sonatas”), a essa “casa assombrada” pelos fantasmas do passado, o thriller sentimental. A queda das máscaras surge assim contaminada pelo mistério físico. Mas não nos enganemos, o cinema realista de tradição francesa, o esquematismo do argumento surgem aqui como misleading pois todo o caminho deste iraniano, pela primeira vez a filmar fora do Irão, numa Paris irreconhecível (apagada da cultura), é percorrer esse trajecto da materialidade do espaço de confronto emocional ao toque ascético das mãos e da fragrância. Eu cheiro-te, tu cheiras-me. Eu toco-te, tu tocas-me. E é tudo.

Nesse sublime percurso, Farhadi filma e gere a frieza, o silêncio, as lágrimas, o amor, como poucos no cinema contemporâneo. Obra-prima a fechar o ano de 2013.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Asghar FarhadiBérénice BejoÉric RohmerIngmar BergmanIngrid BergmanLiv UllmannOs Filhos de BénardRobert Benton

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

Artigos relacionados

  • Críticas

    “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

  • Contra-campo

    “Aftersun”: a tensão suave da memória

  • Cinema em Casa

    “Time to Love”: amor, um caminho interior

1 Comentário

  • The President (2014) Mohsen Makhmalbaf | À pala de Walsh diz: 9 de Setembro, 2015 em 15:20

    […] que estreou em Portugal um grande filme iraniano: a família sob o bisturi de Asghar Farhadi em Le passé (O Passado, 2013). Entretanto, já este ano, o Indie pôs em competição o equívoco hitchcockiano Melbourne (2014) […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

      9 de Janeiro, 2023
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.