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Bark, you’re sweet

De Tiago Ribeiro · Em 2 de Janeiro, 2014

Começa-se o ano de 2014 a escrever sobre o melhor filme visto em 2013 produzido em 1937, um filme que teve algum azar na sua data de produção e estreia, pois se tal tivesse sucedido dois anos mais tarde, no “ano mágico da história do cinema de Hollywood”, certamente que a sua fama seria um pouco mais notória. Sendo assim, tem de se limitar a ser considerado um dos melhores opus cinematográficos de sempre, o que não é coisa pouca. É como o seu realizador, que, sendo dos maiores da História, nunca anda lá por cima nos tops e preferências pessoais dos ensaístas e historiadores do cinema. Por falar em ensaístas, só há dias descobri que Nicole Brenez é uma mulher. O que mais me espanta nisto tudo é ter associado “Nicole” a nome masculino. Maldito vinho.

Se é possível combinar com harmonia celestial extrema leveza e graciosa gravidade num só filme – tarefa hercúlea para a maioria dos realizadores, caminho escorregadio para 97% dos argumentistas -, então Make Way for Tomorrow (1937) entrará directamente para os exemplos cimeiros de tal demonstração. Nesta história de pais, filhos e netos, de memória e dos “tempos que correm”, não há lugar para negrumes desnecessários nem comédias exageradas; tudo flui com o equilíbrio não-natural do Cinema, que isto não é vida. Não admira que o Ozu tenha aqui vindo beber suor, inspiração e cristalina claridade para o seu contraponto japonês, o eterno e mais famoso (mas não melhor, pardonnez- moi) Tôkyô monogatari (Viagem a Tóquio, 1953).

Se, como dizia o Renoir, “cada um tem as suas razões”, então, em Make Way for Tomorrow, o que mais espanta é o facto dessas mesmas razões individuais nunca se chocarem intempestivamente umas contra as outras, antes abrirem terreno para doces embaraços e tensões com um sorriso nos lábios. Isto é um retrato geracional e social que certamente não faria parangonas jornalísticas e televisivas; se um jornalista do Correio da Manhã viesse aqui procurar pancadaria, levaria não com uma porta nos costados, mas antes com um sorriso bondoso e um “vai em paz, meu filho, que nós compreendemos a vida que tens”. Embora uma porta nos costados fosse mais avisado, supomos.

A prova da celestialidade do filme de McCarey surge no último terço, quando o casal, formado por Victor Moore e Beulah Bondi, fica sozinho na grande cidade após milhares de anos sem lá terem posto os pés, como um George O’Brien e Janet Gaynor envelhecidos que vêm recordar por um dia, antes da despedida final, aquela sua louca e prazenteira vida citadina, com o deslumbramento de quem vê coisas mágicas. É uma meia hora (ou coisa que o valha) final em profunda suspensão dramática, onde não há mais nada que dois velhos e as suas memórias. E se mentes maldosas podem ver condescendência no modo como as gentes mais jovens observam este casal, os mais justos apenas têm de ter os melhores kleenexs ao lado, que isto, como disse o monstro Welles, “até faz uma pedra chorar”.

Num dos belos momentos desse espaço e tempo para dois, há um jantar num “luxuoso restaurante” (já parecemos aqueles jornalistas socialite para quem os restaurantes são todos “luxuosos” e as férias dos “famosos” são todas “luxuosas”), e um plano que apanha os nossos mui queridos de costas. No “luxuoso” salão do restaurante, em permanente desfoque, outros casais vão dançando ao som da orquestra, também desfocada. É um plano tão breve como extraordinário, definindo todo um contexto de “nós os dois e o resto”; não se afasta a “sociedade”, mas dá-se a primazia a um momento namoradeiro que provavelmente será dos últimos a suceder. A quatro dimensões e tudo.

Voltamos a Renoir, que afirmou que o McCarey “entendia as pessoas, provavelmente melhor do que toda a gente em Hollywood”. Vendo e revendo Make Way for Tomorrow (filme que era o preferido de Leo, que foi um fracasso e que lhe valeu um pontapé no rabo para fora da Paramount), como Love Affair (Ele e Ela, 1939) ou An Affair To Remember (O Grande Amor da Minha Vida, 1957), Once Upon a Honeymoon (Lua Sem Mel, 1942) ou Going My Way (O Bom Pastor, 1944), entre outros, só espantamos que tal frase não esteja escrita a bordões de ouro na sua lápide, que se encontra no cemitério Holy Cross, em Los Angeles. Trataremos de lá ir, antes de Malibu.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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