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La grande bellezza (2013) de Paolo Sorrentino

De Carlos Natálio · Em 19 de Fevereiro, 2014

Quando, contra o mar nocturno, o romance de Jep Gambardella finalmente começa e o filme finalmente termina (spoiler na primeira frase?; mas será possível estragar um filme assim? fica aberta a votação), sei que tudo é um truque. Tudo muito certo é um truque, aliás há mar no tecto do quarto, há girafas evanescentes e flamingos a descansar na varanda antes da migração a comprovar isso mesmo. Mas duas horas e vinte e dois minutos depois não há como não pensar nesta beleza que é grande e que empareda o filme desde aquele plano do céu à noite com as luzes do terraço da festa de anos do escritor e as letras da Martini à direita, até ao segundo momento, final, em que a grande beleza, agora, já é sem néons e tudo está negro e Sorrentino termina as suas prédicas sobre o que é realmente importante e o que são os blá blá blás desta vida. Mas então que beleza é esta que Jep sempre procurou e que nunca achou e que o transformou num escritor que não escreve, presença habitual na noite fashion romana ao estilo Caras? Nestes casos em que é preciso investigar, o melhor é fazer uso dos meus habituais barómetros de beleza, a saber, bolos de chocolate, William Yeats e a Branca de Neve.

Pouco após a apresentação do protagonista de La grande belleza (A Grande Beleza, 2013), ennuyé na decadência das suas festas high society e na sua estagnação criativa, este confessa, como que atormentado, estar destinado à grande sensibilidade. Essa espécie de auto-elogio dissimulado faz do filme de Sorrentino uma busca de algo de “profundo” por entre, ou para além, da desconstrução dos palcos da superficialidade. Estes são as vibrazione da pseudo-artista que Jep entrevista (a sua performance em que cabeceia um muro da Ápia antiga é uma farpa a Marina Abramović), são as reuniões de artistas em que se fala de jazz etíope e penteados “pirandelianos”, são os escritores cheios de convicções desmontáveis como legos ou as crianças, génios contrariadas da action paiting. Mas além desses palcos artísticos há toda a performance social: a dos enterros, a da sedução, das festas com os seus “comboios” de dança que não vão a parte nenhuma. Nesse olhar que vai registando a decadência da vida envolvente como um sinal de “maturidade” há uma ideia que persiste em separar o superficial do profundo, extrair a beleza do caos das vaidades. Mesmo que afinal essa grande bellezza, se diga, não exista, Sorrentino não faz outra coisa que não querer expô-la a contrario assumindo uma posição de um certo pretensiosismo ingénuo. Como se no contra-tipo das imagens de festa e de ridículo, dessa aurea mediocritas estivesse um ideal ascético que fosse preciso desenterrar. E então, aqui vêm os bolos, não é possível deixar de olhar para um bolo de chocolate que se auto-intitula “o melhor bolo de chocolate do mundo” com total desconfiança. O anúncio da beleza como algo visualizável, alcançável, como meta, assim como o anúncio do destino da grande sensibilidade de Jep é o ponto de partida errado para algo que à partida se auto-proclama superior e separado da contingência em que o escritor se move e da qual é parte constituinte.

William Yeats tem um poema sobre a velhice chamado When you are old que fala também da fuga do amor do passado (“how love fled”), da perda de um “soft look”, da adoração verdadeira e falsa da beleza. Mas o mais curioso nesse olhar atrás (“O que há de errado em ser-se nostálgico?”, ouve-se a certa altura no filme) é que o poeta irlandês usa expressões como “slowly read” e “murmur, a little sadly”. O murmúrio levemente triste, a lentidão da leitura fazem parte desse olhar nostálgico e adulto sobre um passado. Ora o que faz da nostalgia de Jep um trucco é precisamente a inabilidade de Sorrentino em articular o registo cómico da decadência da sociedade romana com a passagem, a vagabundagem do escritor por entre uma galeria de personagens anódinas separadas entre os ridículos e os inspiradores. Um bom exemplo desse dualismo fácil está nas “visões de fé”, separadas entre a figura ridícula do cardeal que só fala por receitas de culinária e a santa inspiradora que fala por parábolas e come raízes porque as “raízes são importantes”. Como se a ausência de convicções de Jep esgrimida contra as certezas da sua amiga escritora vendida à televisão só servisse esse diálogo, estando o filme todo ele pejado da mais desmontável das convicções: moldar a procura do escritor numa via sacra do nosso enternecimento pelo seu supremo castigo, o da sensibilidade excessiva. Desta forma, o conteúdo de La Grande Belleza explica-se quase por inteiro nessas mensagens comuns de libertação, como diz a dada altura: “A coisa mais importante que descobri uns dias depois de fazer 65 anos é que não posso perder mais tempo a fazer coisas que não quero fazer.”

Atravancada entre dois ideais fechados, o da suprema decadência e da suprema arte, a realização de Sorrentino parece ter apenas essa tarefa de alavancar a nossa emoção e o nosso riso “superior”, mostrando-se ela como a única “grande bellezza” do filme. Imagino algo do género, quando a bruxa má pergunta ao espelho, “espelho meu, espelho meu há alguém mais bela do que eu?”, ele respondesse: há, sou eu. É um elogio do espelho. A realização do cineasta italiano não dá contudo a ver um reflexo da realidade, dá a ver-se a si próprio como espelho. Assim se explica a constante fluidez da câmara como se movimento=emoção. Ou a sequência em slow motion em que Jep vai ao bar comprar cigarros e contempla a juventude e o adorável do quotidiano. Um truque que na verdade revela: um soft inside para um filme que se vende como tendo um hard outside. Essa fluidez entre a dança dos grotescos e dos sensíveis é orquestrada pela incapacidade do silêncio. É sempre a música, desde as techno-chachadas, às músicas de anúncio de telemóvel, aos momentos lacrimejantes épico-religiosos em modo pseudo-The Tree of Life (A Árvore da Vida, 2011), o que vai cosendo toda esta sedução da nostalgia para um final em que o moto é “reconcilia-te contigo próprio e com a tua arte, antes que morras”.

Nesse vazio há ainda tempo e vontade despropositada de colar tudo isto à história do cinema, em particular ao cinema de Fellini, com a importação de uma ideia de excesso clownesco, o look Mastroianni de Toni Servillo, as cenas na Fontana di Trevi, a personagem de Romano que sai de Roma ou a ideia de uma corrosivo dolce fare niente. Se esta é a obra de maturidade de Paolo Sorrentino, como se vem dizendo (e não esqueçamos que ela começa com um tiro de canhão ao espectador), então ganha peso esta ideia de que o envelhecimento é uma infância ao contrário. No meio de tudo isto, entre as citações de um escritor que nada escreve e nada lê, ressalta a referência a Flaubert que sonhava escrever um livro sobre nada e não conseguiu. Paolo Sorrentino conseguiu: fazer um filme sobre nada, além de si próprio.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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  • Sílvia S. diz: 20 de Fevereiro, 2014 em 9:21

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