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Cadences obstinées (2013) de Fanny Ardant

De Ricardo Vieira Lisboa · Em 27 de Março, 2014

Pouco tempo antes de morrer, Roger Ebert ainda escrevia críticas de cinema. Muitas e quase sempre com uma enorme disponibilidade, rara para quem já havia visto tanto cinema. Uma das últimas foi a Movie 43 (Comédia Explícita – Movie 43, 2013). Explicava Ebert nas primeiras linhas dessa crítica, “Since 1999 I’ve been carrying a blue pill in my pocket, holding onto it for the moment when I’d truly need it. The pill, I was told, would instantly erase the memory of any movie — but just the one movie, just the one time”. Confessava-nos poucas linhas depois que, apesar de muito tentado anteriormente (por algumas obras de Adam Sandler e não só), fora com o comboinho dos irmãos Farrelly que se decidira a tomar o químico. Entre os efeitos adversos do comprimido e os efeitos devassos do filme (a meu ver injustamente enxovalhado – não fossem os capítulos de Peter Farrelly e James Gunn de sublime gosto duvidoso), a verdade é que Ebert foi-se destas bandas. Melhor para ele, que deparando–se com este Cadences obstinées (Cadências Obstinadas, 2013)  já não poderia recorrer à dita pílula – usada extemporaneamente – e teria que viver com a memória deste filme de Fanny Ardant para o resto dos seus dias. Que os meus sejam curtos, é o que desejo.

Cadences obstinées (Cadências Obstinadas, 2013) de Fanny ArdantMas falando verdadeiramente sinto que há algo de profundamente onírico neste filme, onírico no sentido de um sonho do qual se acorda sem se saber muito bem o que se passou. Depois do correr dos créditos, Cadences obstinées tem o poder de não deixar memória, de ser profundamente esquecível – de tão arbitrário e banal que consegue ser – como um sonho (ou um pesadelo que não chegou sequer a incomodar ou a deixar uma marca que seja). Retomando a senda dos comprimidos, posso dizer com felicidade que a luz mortiça deste início de primavera que aguardava por mim à saída da sala funcionou como a pequena cápsula rubi (não é azul, eu sei) que Reeves tomava em The Matrix (1999) para acordar da moinha tecnológica induzida pelas máquinas – ou que originalmente Schwarzenegger tomava em Total Recall (1990) com propósito equivalente. Há pois algo de profundamente surpreendente neste filme de Fanny Ardant, tudo é tão inconsequente que sentimo-nos, qual Neo ou Douglas Quaid, num desses mundos onde apesar de as formas nos serem familiares o que as liga soa falso, onde a aparente coesão das coisas se desfaz a cada movimento, a cada enquadramento e a cada raccord.

E porque me parece que a analogia com produtos medicamentosos safira ainda não ficou completamente explorada, prossigo. Talvez o que falta a Cadences obstinées seja de facto um auxílio farmacológico; seria curioso se se oferecesse à entrada de cada sessão (em jeito de campanha de marketing agressivo) um dos outros comprimidos azuis. Talvez aí o coração batesse de facto mais depressa ao deparar-se com o romance entre Asia Argento e Nuno Lopes, talvez as mãos suassem com um Franco Nero de mafioso ou os lábios formassem um sorriso com a bonomia de Gérard Depardieu. Mas nem mesmo assim (como poderiam?) quando Depardieu faz um cameo estendido a personagem de três cenas ou quando Nero representa com o maior dos desinteresses. Sente-se o frete em todos os instantes, tanto dos actores que (salvo Asia e Nuno Lopes) vêem os seus papéis reduzidos a apontamentos (Laura Soveral que não abre a boca, Marcello Urgeghe que surge numa cena toda ela desenhada esquematicamente – que termina em modo reclame com um travelling-lateral-com-motorizada-e-amantes-agarrados -, ou ainda Mika que faz as vezes de mobiliário numa vernissage que faz chorar de tão canhestra), como de tudo o resto, veja-se os encontros entre Nero e o fiscal que devem ter sido despachados numa tarde de rodagem (nem mudam o guarda-roupa, apesar da mudança dos dias) ou as sequências no hotel que se resumem a um quarto e uma sala aos quais se muda a pintura e pouco mais.

Não duvido do amor de Ardant pelo projecto (esse sim, o único sentimento que se sente como verdadeiro) mas sabemos como funcionam as mãos quando o coração as comanda: hesitam, tremem, duvidam. Ardant quer fazer imensos filmes com este filme, quer ter imensos personagens, quer ser poética e teatral (com plumas de plástico esvoaçante e iluminação exagerada) ao mesmo tempo que quer um naturalismo sensível, as explosões de um dramalhão novelesco e a obsessão de um drama psicológico. Tudo em várias línguas, numa torre de babel de géneros e intenções.

Fica-nos (apesar do efeito do comprimido) a memória de uma estranha fixação na figura de um aquário, elemento central do filme, que faz lembrar um outro – em tudo o resto semelhante, e neste pormenor também – onde era um candelabro de cristal que tomava essa função de catalisador patético, Quinze Pontos na Alma (2011): filmes onde a ideia de um realizador a remar contra a corrente ganha um novo sentido e onde o que daí se produziu é cabal prova dessa situação.

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Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

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