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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Joe (2013) de David Gordon Green

De Ricardo Vieira Lisboa · Em 8 de Maio, 2014

Joe (2013) de David Gordon Green começa assim (e termina assim), com um plano fixo, um jovem de costas (Gary) e um homem velho de frente. O rapaz fala, o homem ouve. Ele diz-lhe que é intratável, um bêbado, irresponsável, miserável, um energúmeno. O velho dá mais um trago na sua garrafa de moonshine, endireita-se e enfia uma enorme bofetada na cara do miúdo que quase o derruba. Faz lembrar alguma coisa? O chapadão que enche a cara de Pedro Hestnes e abre O Sangue (1989) de Pedro Costa? Faça de mim o que quiser. Talvez, mas nada mais há que ligue os filmes, aqui tudo rebenta em grotescas formas melodramáticas como Gordon Green nos habituou – cinema extremado e poderia também dizer cinema estrumado, tudo em Joe é simultaneamente fértil e pestilento. Joe (2013) de David Gordon Green Há semanas esteve por cá o professor e crítico Tom Conley, para dar um workshop sobre o nosso querido Raoul Walsh. O Luís Mendonça e o Carlos Natálio entrevistaram-no e, lendo a transcrição, surpreendo-me: ao que parece eu citei, sem saber – ou, sabendo, não retive nem associei o nome à citação – o próprio Conley no meu texto para o dossier Raoul Walsh, Herói Esquecido. Refresquei a memória. Conley é muito dado a leituras freudianas dos filmes, é capaz de encontrar uma pila ou um ânus em qualquer filme e os do Walsh são ricos nisso – vide o charuto de Gentleman Jim (O Ídolo do Público, 1942) ou a gruta do final Colorado Territory (Golpe de Misericórdia, 1949). Mas o que mais me tocou foi um pormenor de leitura em High Sierra (O Último Refúgio, 1941) salientado por Conley: “Bogart sai do esconderijo porque ouve o seu cão ladrar – não de propósito chamado Pard por ser pardo e por simbolicamente conceder o perdão ao herói/criminoso” – e acaba baleado pelas costas. Também em Joe há um cão – não será ele que operará a regeneração do protagonista (será outro ser sarnento e rafeiro interpretado por Nicolas Cage, o titular Joe) -, chama-se Faith e a certa altura desaparece. Joe e Gary procuram pela Faith, mas não a encontram em parte alguma. Gary lembra-se – num raciocínio fomentado pela bebida juvenil – se eu fosse cão ficava onde me tivesse separado do meu dono, regressam ao local onde a tinham perdido e lá a encontram. A Faith está onde a perdeste! É neste sentido que digo que Joe é tanto fértil como pestilento, porque nele os símbolos borbulham como no caldo primordial, só que cada símbolo, cada metáfora, é de evidente leitura. Não é só a crente cadela, são as árvores que morrem para dar lugar a novas num processo de sacrifício e regeneração, é a ponte como lugar de passagem e local de despertença, enfim, um manancial de auto-explicativos subtextos onde o sub ficou em casa e já tudo é textual. Mas esta é a natureza do cinema de David Gordon Green, a ruralidade infestada pelo grotesco quasi-paródico. Joe é pois, no conjunto dos filmes do realizador, um objecto muito próximo de Undertow (Contra-Corrente, 2004): o mesmo vilão over the top, a mesma figura adolescente perdida no mundo dos crescidos em busca de uma figura paternal (tema fundamental do gordongreenianismo), o mesmo decadente território de hillbillies e rednecks, cheio de prostitutas, bêbados, e homens de caçadeira. E talvez aqui convenha deixar uma nota sobre Jeff Nichols. Embora os ambientes os aproximem, as mesmas pulsões por dramas bíblicos de sangue e tripas, entre filhos e pais – e até partilham o mesmo actor, Tye Sheridan era um dos miúdos de Mud (Fuga, 2012) e é agora o Gary deste filme -, um mundo de tom distancia os dois realizadores. Onde Nichols vive algures entre o clássico e o paisagístico – onde tudo é revestido de uma finura de recorte e de um grande trabalho nas personagens e direcção de actores -, Green vem de um mundo onde se corporiza a estética televisiva e do videoclip, delicia-se com ralentis musicais e adora desenhar a traço grosso. Nesse sentido, Nicolas Cage não podia ser uma escolha mais acertada, porque ele, na sua fisicalidade, manifesta os desejos da obra: tanto Cage como o filme estão inchados ao ponto de rebentar. Joe é pois um filme-estria.

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Ricardo Vieira Lisboa

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1 Comentário

  • Vitor Gomes diz: 9 de Maio, 2014 em 16:09

    “Green vem de um mundo onde se corporiza a estética televisiva e do videoclip, delicia-se com rallentis musicais e adora desenhar a traço grosso”. Pode desenvolver? Especialmente a parte da estética tv e videoclip.

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