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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

La jalousie (2013) de Philippe Garrel

De Carlos Natálio · Em 30 de Julho, 2014

Do Otelo de Veneza ao senhor Leonel de Vila Franca de Xira, o ciúme sempre foi um sentimento capaz de arrebatar as mais iradas tropelias. Até certo ponto, La jalousie (Ciúme, 2013), o último filme de Philippe Garrel, é portador dessa mesma ira, mas carrega-a de forma velada, serena. Não é contudo fácil de diagnosticar essa serenidade. Ela pode vir de muitos lados e chegar-nos aos olhos e transformar-se em ironia que passa com a espuma dos dias. A fórmula “a girl and a gun”, com que Godard descrevia o cinema reportando-se a Griffith, verte-se aqui numa espécie de melancolia francesa de “a guy and a girl… and another girl… and a gun… and a daugther”. Mas aqui a arma não mexe com a excitação do filme, ela é apenas ponto de viragem, que é como quem diz, de acalmia dos deuses da jalousie.

Parando de falar em código diga-se que este pequeno (77 minutos) grande filme surge a partir de duas contrariedades da carreira de Garrel. Uma menor – a falta de financiamento para uma continuação de Un été brûlant (2011) onde entrava o seu filho (Louis) e o seu pai (Maurice) – e uma maior, a morte deste último antes de completado o filme. Assim a memória de Maurice é o eixo desta sua última obra quer recriando um episódio da sua infância – o pai deixou-o a ele a à sua mãe quando era criança por outra mulher [evento que Garrel já havia filmado aos 17 anos numa curta chamada Droit de visite (1965)] – quer fixando, de forma directa e autobiográfica, como é marca de todo o seu cinema, um lamento pelo desaparecimento da pessoa que mais amava.

É em toda esta trama autobiográfica – com o seu filho a representar o seu pai (com toda a marca freudiana que isso implica) entre duas mulheres, e a pequena Charlotte (Olga Milshtein) no lugar do próprio realizador, em criança – que toda a questão do ciúme se coloca. Não admira pois que este seja posto de forma complexa, isto é, como realidade que habita, naturalmente, o dia-a-dia. Louis começa a sentir ciúmes da sua actual companheira, Claudia (Anna Mouglalis), pela qual deixou a sua anterior esposa, quando aquela se resolve mudar para um apartamento oferecido por um amante. Esse envolvimento é por sua vez espoletado pelo receio de que Louis a deixe, como fez com a mãe de Charlotte, Clothilde (Rebecca Convenant). O ciúme sente-o, à sua maneira, infantil, a filha em relação ao pai, quando à mesa pergunta a Claudia de quem ela acha que o pai mais gosta. A resposta é surpreendente: “Do pai dele”, responde ela.

É aqui que o ciúme se abre, como conceito, a uma noção mais lata, próxima da melancolia de uma perda. O ciúme como vontade de manter no presente uma posse que se tinha no passado. Philippe sente falta de Maurice e quer relembrar o seu passado com ele, transferindo esse sentimento para uma geração a seguir, como que perpetuando os sentimentos de alegria com o pai. Essa jalousie como “falta de” está próxima de uma necessidade de fixar o tempo e por isso se tem falado de Proust e À la recherche du temps perdu, em que o movimento é o mesmo. Mas Garrel tem ao seu dispor as imagens e é nelas, nos tableaux a preto e branco captadas num limpidíssimo widescreen, que os rostos e as paisagens se imortalizam num raro sentimento de pureza e de tranquilidade mesmo ante a tragédia da perda. As promenades, os beijos, os abraços a tiritar de frio nas paragens de autocarro são testemunhas imortalizadas dessa ausência filial e familiar que se converterá para sempre, no cinema de Garrel, em presença fecunda.

Talvez por isso, e volto à questão da serenidade do início, La jalousie encerre, como poucos filmes, uma ideia serena de tragédia via uma simplicidade de meios e imagens que não se fecha, paradoxalmente, no gueto da nostalgia de um cinema de antanho. Seria apressado falar aqui de uma homenagem a um cinema finito, uma vez que o efeito é sempre o de transferência entre a vida e a arte. A Louis dizem-lhe que ele, como actor, compreende melhor as personagens de ficção do que as reais. Se é possível ver aqui o método de Garrel pai talvez este encerre o paradoxo fundamental de onde afinal de contas emerge a serenidade na mais pura das tragédias. É que La jalousie filma com uma extrema eficácia do olhar e uma precisão invulgar na mise en scène as ineficácias da vida. Não por acaso são os quadros de quotidiano, aparentemente soltos entre si, a maneira mais justa (justa como verdadeira) de filmar o todo, a consistência.

Essa é uma consistência que se instala no centro do cinema de Garrel e que sobretudo coloca na devida perspectiva o desaparecimento dos entes mais queridos. Essa é a dimensão mais densa e rica de toda e qualquer tragédia, passional ou não.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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1 Comentário

  • L’ombre des femmes (2015) de Philippe Garrel | À pala de Walsh diz: 4 de Abril, 2016 em 19:47

    […] des femmes (À Sombra das Mulheres, 2015), 73 minutos [algo que já vem do seu anterior filme La Jalousie (Ciúme, 2013), 77 minutos]. Filme curto, depurado, mas cuja explicação fica, creio, aquém de um […]

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