No história do cinema português não existe outro filme como O Bobo (1987), de José Álvaro Morais. Sejamos imodestos. São raros os filmes que independentemente do país de origem tenham tirado tão grande partido do que é específico da linguagem cinematográfica: a capacidade de gerar conflitos e rimas entre diferentes formas de expressão artística, que fazem dela o que de mais próximo existe de uma arte total que transcenda os limites do espaço e do tempo. O Bobo tem a transcendência cunhada pela sua atribulada produção de uma década, e fez dessas dificuldades a sua força específica. Chama-se o milagre da montagem, e o modo como José Nascimento (imagem) e Vasco Pimentel (som, música) cozeram este O Bobo tem por resultado a superação da sua natureza estilhaçada ao se atingir algo que é muito mais relevante e definitivo.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.