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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

Snowpiercer (2013) de Bong Joon-ho

De Carlos Natálio · Em 23 de Julho, 2014

Numa altura em que a aceleração técnica continua a produzir sentimentos de culpa pela extinção da raça humana avant la lettre, o cinema aproveita-se para seguir vendendo distopias que nem castanhas quentes. Neste Snowpiercer (Expresso do Amanhã, 2013) – que tradução para português tão bonita, não é? – aquilo que salta mais à vista é o aproveitamento da já estafada metáfora da marcha do progresso do Modernismo simbolizada na força do comboio e a conversão desse símbolo em algo do domínio do refúgio (nostálgico?) do que resta da vida biológica.

Aqui a marcha do progresso já não é em frente mas sim em contenção circular: uma experiência mal sucedida para combater o arrefecimento global levou a terra ao gelo global. A pouca vida que resta sobrevive a bordo do comboio-Arca-de-Noé Snowpiercer que, lá está, anda perpetuamente sem parar num circuito que percorre o globo à espera que haja condições para sair. Lá dentro o comboio é a metáfora da sociedade, onde o povão comedor de caca vai nas traseiras e a classe rica burguesa e branca vai à frente encabeçada pelo divino criador. O criador da máquina, entenda-se: “Wilfred is divine” é um dos slogans do endoutrinamento da micro-sociedade.

Há dois anos Leos Carax já nos tinha mostrado que os motores eram sagrados. Aqui a expressão é “the engine is sacred” e é por isso que a nova revolta dos pobres tem o objectivo de ir à frente do comboio e controlar o mecanismo. Quem controla o mecanismo controla o futuro. Essa expressão do poder parece ter mudado radicalmente com o cenário pós-apocalítico, isto é, com a experiência das duas guerras mundiais. Entre estas, Walter Benjamin escrevia: “Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história universal. Mas talvez as coisas se passem de maneira diferente. Talvez as revoluções sejam o gesto de accionar o travão de emergência por parte do género humano que viaja nesse comboio.”

Pelo contrário, o filme de Bong Joon-ho mostra como o comboio (a técnica) é aqui a expressão da opressão e não da revolução e também que travar não é a solução (uma das revoltas passadas, intitulada a “revolta dos sete” tinha precisamente esse intuito e fracassou rotundamente). Se a mensagem parece ser materialista q.b. (é ir ver o filme) já o invólucro é também uns furos acima do expectável deste tipo de evangelhos mainstream da luta pela dignidade do humano quando tudo o mais já foi para o beleléu.

O realizador coreano do extraordinário Gwoemul (A Criatura, 2006), agora a filmar pela primeira vez em língua inglesa, consegue gerir bem a progressão da revolta pelas sucessivos compartimentos do comboio (como se por níveis dos videojogos se tratasse) de forma a não deixar morrer a tensão. Ou outros pormenores como a celebração do ano novo já não se fazer no tempo mas no espaço ou a sequência de luta entre a claridade natural e a escuridão dos túneis pelos quais passa o “Snowpiercer”. No elenco, John Hurt – já habitué noutras distopias como o próximo Ninety Eighty Four (1984) ou V for Vendetta (2005) -, Tilda Swinton (em registo caricatural) ou Song Kang-ho [Boksuneun naui geot (Sympathy for Mr. Vengeance, 2002)] a destilar estilo – emprestam credibilidade e talento a um bom e gelado filme de acção mais do que apropriado para o quente do Verão.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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2 Comentários

  • Things to Come (1936) de William Cameron Menzies | À pala de Walsh diz: 25 de Julho, 2014 em 14:48

    […] nem há uma semana escrevia aqui, a propósito de Snowpiercer (Expresso do Amanhã, 2013), sobre a questão da tecnologia e da relação que o cinema arranjou para se lhe referir, quando me […]

    Inicie a sessão para responder
  • Chacun seu marisco | À pala de Walsh diz: 12 de Abril, 2020 em 14:52

    […] de coisas como Saw (Saw – Enigma Mortal, 2004) ou Cube (Cubo, 1997), é ele uma espécie de Snowpiercer (Expresso do Amanhã, 2013) ou o já referido Gisaengchung. Depois também porque ele oscila, na sua […]

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