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Things to Come (1936) de William Cameron Menzies

De Carlos Natálio · Em 25 de Julho, 2014

Ainda nem há uma semana escrevia aqui, a propósito de Snowpiercer (Expresso do Amanhã, 2013), sobre a questão da tecnologia e da relação que o cinema arranjou para se lhe referir, quando me cai em mãos um dos filmes que em toda a história do cinema melhor permite perceber essa relação, com a guerra como elemento de charneira de toda a equação. Esse filme é Things to Come (A Vida Futura, 1936) de William Cameron Menzies. Não sendo uma obra-prima ele marca a estreia na realização a solo do art-director transformado em realizador Menzies. Quando o produtor inglês, de origem húngara, Alexander Korda o chamou a Inglaterra para realizar esta adaptação de uma novela do escritor H. G. Wells, a ideia era fazer concorrência à então Gaumont-British, de Michael Balcon, e à B.I.P. de John Maxwell, trazendo nomes norte-americanos e com eles o seu know-how.

O filme abre com uma sequência, uma das melhores, sobre a eminência de chegada da guerra (estamos em 1940 numa cidade chamada sugestivamente Everytown) sob o pano de fundo do Natal. Nela vemos posters em ângulos oblíquos que nos falam dessa ameaça e vemos luzes e perus de Natal. Esse momento quase abstracto nas formas e na montagem marca o tom técnico do filme, um filme precisamente sobre a vida por vir, uma vida “formal”, de movimentos de força. Contudo, e aqui reside a maior fraqueza do filme, essa dimensão da forma – o Menzies touch, como alguém já disse – perde-se algures na relação entre o drama e o discurso (um discurso sobre a técnica).

O drama anda nos limites da verosimilhança com a metáfora nua de everytown e os saltos sucessivos no tempo: a guerra chega e produz a ruína; nos anos 70, parte da população foi dizimada pela guerra e pela doença (“the wandering sickness”), a civilização está morta, não há combustível e os sonhos de voltar a voar parecem quimeras. A ditadura pós-apocalítica que se vive é então resgatada pelas maravilhas da tecnologia, os homens vindos do Médio Oriente em aviões que impõem um governo ditado pelo progresso e pelo princípio materialista; último salto é para o futuro, 2030 (e é nestes cenários “metropolinianos” que o filme e Menzies mais brilham). Neste futuro, o humor já se foi, as pessoas vivem em cidades subterrâneas e coloca-se a questão de disparar os humanos para as estrelas através de uma “space gun”. A réstia do humano que se impõe quer organizar uma revolução cujo mote é, simbolicamente: “destroy the gun”.

Se parecem muitas peripécias, e são de facto, estas são quase sempre veiculadas não pelo drama mas pelo discurso (as cenas flat e palavrosas das personagens e daí tornar-se claro o under directing de Menzies) ou pela composição que em muitos casos não consegue senão sugerir um ambiente, não entra na carne da acção. É a guerra filmada em planos apertados para não se ver as costuras, por exemplo. Talvez por isso mesmo o futuro não esteja no que acontece, mas apenas no que parece, fazendo de Things to Come um mapa de composições elaboradas que corrobora a mensagem materialista: é o progresso técnico (no filme, no mundo) que deixa a marca, o imprint. Isso é pelo menos verdade, com toda a certeza, para o filme de Menzies. É a materialidade do filme, a bizarria do olhar e suas sequências quase abstractas (penso na sequência que constrói a passagem do tempo para 2030) aquilo que permanece como “vida futura”, embora sem a força tónica (e dramática) das composições eisensteinianas.

Ainda sobre o discurso, muito se passou desde 36. Aqui o filme de Menzies fazia alternar a mobilização total, de orgulho futurista, da guerra como estímulo do progresso e a visão da pestilência, da ruína, do mal do avanço tecnológico. A optar entre a distopia e a utopia, o filme parece fazer optar pela segunda: são os homens do céu os que permitem reiniciar a civilização. Ou na conclusão, o sacrifício “trágico” da descendência da governação ao ser a carne para canhão do avanço técnico, com a revolta a produzir resultados infrutíferos. Em 2014 já não se produzem alternâncias entre a euforia e a disforia técnica no cinema. Se todos os filmes são sobre ela (não no sentido lato em que todo o filme é técnico mas mesmo no sentido forte em que cada um produz veladamente o seu discurso sobre ela, fazendo dessa uma “omni-temática”), todos apresentam o lado negro da tecnologia, seja sob a forma dos apocalipses [voltamos a Snowpiercer ou The Day After Tomorrow (O Dia Depois de Amanhã, 2004)], como exemplos quase ao acaso), seja apresentando a melancolia e seus after effects do que outrora se julgava ser o certo e o humano (discussão bem longa): The Congress (O Congresso, 2013), Melancholia (Melancolia, 2011), 4:44 Last Day on Earth (4:44 Último Dia na Terra, 2011), Only Lovers Left Alive (Só os Amantes Sobrevivem, 2013), para continuar no quase acaso. Ficámos apenas, apenas, com a nostalgia e com os gadgets.

E termino, apercebendo-me que não falei de nenhuma personagem em concreto. Talvez isso seja tanto um sinal da força simbólica do filme – everytown-everyone-the present-the future – como um sinal da sua actualidade, dessa vida futura onde cada um é sinónimo de todos e todos de ninguém.

Things to Come é exibido este sábado, dia 26, pelas 15:30, na sala Dr. Félix Ribeiro na Cinemateca Portuguesa- Museu do Cinema.

 

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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