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Cluny Brown (1946) de Ernst Lubitsch

De João Palhares · Em 6 de Outubro, 2014

Cluny Brown (O Pecado de Cluny Brown, 1946) é o penúltimo filme creditado a Ernst Lubitsch. O último é The Lady in Ermine (A Dama de Arminho, 1948), que foi terminado por Otto Preminger (Lubitsch morreu antes de terminar as rodagens, mas toda a preparação e pesquisa de pré-produção são de sua autoria). Sabe-se do destino dos últimos filmes de grandes realizadores: se não cheiram a “testamento” por tudo quanto é lado, não se lhes presta grande atenção. Ainda agora é assim (basta olhar para o caso de Clint Eastwood), porque é que há 70 anos havia de ser diferente? (Ainda não vi o novo Eastwood, é o primeiro em muitos anos a não ter uma estreia geral em Portugal – ele que costumava estrear em todas as cidades do país; e se não era assim, muito perto disso era); Mas não é importante, há filmes que teimam em resistir e chegam até nós – ou mais cedo ou mais tarde – doutras maneiras. São sinuosos e insondáveis os caminhos do Senhor e os filmes “menores” para uns, podem ser filmes maiores para outros. E enorme é Cluny Brown, monumento erigido à graça e aos gestos de Jennifer Jones, como o fora, três anos antes, o glorioso The Song of Bernadette (A Canção de Bernadette, 1943) do grande e tão saudoso Henry King.

Cluny Brown parece-me, com Angel (O Anjo, 1937), das obras mais misteriosas de Ernst Lubitsch, dessas com um travo muito amargo e que contêm mil segredos que nem com algumas revisões se parecem revelar. Como essas portas fechadas que dão azo a tanta confusão nos melhores filmes do alemão, de Die Austernprinzessin (A Princesa das Ostras, 1919) a The Merry Widow (A Viúva Alegre, 1934), como essa “closed door that leaves us guessing” de que falou Pedro Costa nas suas palestras na Tokyo Film School e cujo “guess”, em Lubitsch, depende da imaginação do espectador; só o safado piscar de olho do realizador é que é o mesmo para todos e a todos deixa um também safado sorriso na cara. E como já se falou tanto e tão melhor dessas portas para descrever a obra de Lubitsch, e em Cluny Brown há muitas mais coisas a merecer menção, escrevo já só sobre os movimentos anárquicos de Bluebeard’s Eight Wife (A Oitava Mulher do Barba Azul, 1938), essa maravilha sonora em que se abrem e batem mais portas do que em qualquer outro filme que conheça, ora pelo Michael Brandon de Gary Cooper (que aprende com o Taming of the Shrew de Shakespeare, lido nas noites em que não vai para a cama) ora pela Nicole de Loiselle de Claudette Colbert, nessa dança eterna recheada de provações e provocações, que também dá pelo nome de namoro, e leva homens e mulheres para trás de portas fechadas. E já disse demais. Afinal, tem que ser possível falar de Lubitsch sem insistir demais no tal “touch” e nas portas fechadas e em Billy Wilder e toda essa cadeia de temas e associações que fazem os textos escreverem-se sozinhos. Basta.

O que nos leva finalmente à bela Jennifer Jones, musa do King já citado, de William Dieterle, Vincente Minnelli e King Vidor, mas acima de todos, de David O. Selznick, produtor louco que de presentes lhe dava filmes. Lubitsch, pela luz atordoante que a fez reflectir neste filme, não a deve ter amado menos. Aqui e em The Song of Bernadette, apetece pegar naquela dedicatória de Honoré de Balzac à sua sobrinha, em Ursule Mirouet, título do livro e nome dessa inocente e bela personagem envolvida na teia de conspirações de herdeiros mercenários e que podia perfeitamente ser interpretada por Jones: “(…) Vous autres jeunes filles, vous êtes un public redoutable; car on ne doit vous laisser lire que des livres purs comme votre âme est pure, et l’on vous défend certaines lectures comme on vous empêche de voir la Société telle qu’elle est.” Almas puras que “don’t know their place” e vão arranjando problemas por quererem “feed squirrels to the nuts” em vez de “nuts to the squirrels“. “Cluny Brown, you don’t know your place”, “think of your place”, “Cluny Brown, you ought to know your place”, diz-lhe o tio Arn – que é “conservative, though he votes Labour” – sempre que pode. Quando o Belinski de Charles Boyer, nesses primeiros minutos do filme, em casa de Ames, lhe pergunta onde é que o tio Arn acha que é o “place” de Cluny, ela responde-lhe que não lhe disse. E é aí que Boyer fala das pessoas que preferem dar esquilos às nozes, expressão que Peter Bogdanovich foi buscar para o título do seu novo filme, que, aqui num aparte e entre nós, está já a demorar demais a estrear. E é aí que começa a paixão desses dois exilados sociais (que desde logo se entendem), em vésperas de guerra mundial, exilados pelas regras de conduta e pela máxima do “respeitinho é muito bonito” que imperam no reino de Inglaterra e nessa mansão vitoriana em que os que sabem o seu lugar perdem a compostura e se queixam em privado por terem sido tratados “as an equal” e por estrangeiros que nem sequer pertencem ao corpo diplomático. Com o leve acento em “estrangeiro”, fica a dúvida sobre quem se achava mais igual que quem, nessa situação. E depois de muita argumentação de Boyer, de muito toque na campainha do farmacêutico dessa vila, a quem compara a um barco para sempre atracado no mesmo porto, de citações de The Merchant of Venice e de um brinde ao autor, William Shakespeare (que a filmes de Lubitsch, sempre regressa), de confusões sempre geradas por maus olhados e a santa e senhora coscuvilhice, de humilhações várias por Cluny voltar a não saber qual é o seu lugar, Boyer leva-a consigo no comboio para a “empêche de voir la Société telle qu’elle est” ou para, juntos, “feed squirrels to the nuts”, até que a morte os separe. As you like it. Para longe de senhores e senhoras, farmacêuticos, respectivas mães tossiqueiras, mordomos e mordomas.

E a forma, se estão já descritos com pouca arte, os desenhos narrativos? Uma e a mesma coisa, coisa que é só possível quando se tem um entendimento absoluto das implicações do drama e do que se pode fazer com os planos – ou só com os planos – para as enunciar. Exemplos: o fim da festa e o princípio do fim do noivado de Cluny com o farmacêutico, em que depois de um plano de conjunto das despedidas muito respeitáveis e muito bonitas (“pois, que o respeitinho é muito bonito”), Lubitsch se aproxima com a câmara e enquadra a criança e Cluny – que são os únicos que não perceberam o que ali se passou e até se tinham divertido bastante – surpresos e atónitos, e ida a criança, capta ainda essa troca de palavras estranhíssima e horrível entre noivo e noiva, rematada com a frase “I’d rather not discuss anything until you make yourself presentable”, dita de maneira senhorial e terrivelmente vitoriana quando a câmara acompanha o noivo para a sua cadeira, sem que este se digne a olhar para ela. Prodigioso; ou o plano geral em que suas mordomias os mordomos, em segundo plano mas no topo dumas escadas, vêem, em primeiro plano, Boyer a sair do quarto de Cluny e a cumprimentá-la, imaginando que alguma coisa se há-de ter passado quando ouvem o “Bang, Bang, Bang!” dito pela rapariga.

E se não basta isto, olhe-se para Cluny Brown. Garanto que é impossível resistir ou esquecer esses risos e esses sorrisos, esses melódicos gestos de Jennifer Jones, nem esquecer que ela “déployait la grâce innée que les femmes gracieuses mettent à s’acquitter des choses difficiles de leur joli métier de femme. Si la pensée se révèle en tout, il est permis de dire que ce maintien exprimait une divine simplesse.” E a última frase vale também para o cinema do senhor Ernst Lubitsch.

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João Palhares

"You are truly a pile of dog shit, Cardinal."

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