No passado dia 19 de Setembro, o Governo da República Portuguesa decidiu proibir a pesca da sardinha até ao final do ano, por, segundo esta entidade muito estimada, ter sido atingido o limite de pesca de tal peixe nas águas portuguesas e espanholas. Os pescadores, sem visão de longo prazo, logo vieram com queixumes mesquinhos, como a impossibilidade de, sem sardinha, não terem rendimentos que lhes providencie a paga das rendas de casa, prestações de carros, despesas com filhos, caixas de Blu Ray do Stroheim, lingerie para as esposas, e demais assuntos menores. O que os nossos pescadores de traineiras deviam antes fazer era apontar os dedos aos seus antepassados, que esgotaram as reservas piscatórias dos oceanos, numa gula imperdoável, e não enviar diatribes para com o nosso sensível e responsável Governo, que, além do mais, trata de salvarguardar os interesses das futuras gerações, que poderiam ficar sem sentir o sabor da sardinha a pingar no pão se os malvados pescadores levassem a deles avante.
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