Desde que me cruzei pela primeira vez com La prima notte di quiete (Outono Escaldante, 1972: tradução que perde de vista a alusão a Goethe que o título original encerra) que ainda estou para perceber: fui eu que vi o filme, ou foi ele que me viu a mim? Facto: embora não seja o Zurlini de que mais gosto [prefiro-lhe, pelo menos, La ragazza con la valigia (A Rapariga da Mala, 1961)], La prima notte di quiete é um daqueles raríssimos filmes que só consigo interrogar, interrogando-me ao mesmo tempo com ele (nota à margem: não vou ao cinema para ver a minha vida ao espelho, mas, havendo reflexo, não desdenho o efeito). Dir-se-á que é um problema meu: admito que sim, mas suspeito que não, ou melhor, que não serei o único a reconhecer o mundo em ruínas que Zurlini aqui projecta.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.

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