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Bairi yanhuo (2014) de Diao Yinan

De Helena Ferreira · Em 12 de Dezembro, 2014

A estreia de um filme chinês nos cinemas portugueses é um acontecimento pouco frequente mas, de vez em quando, verdadeiros tesouros chegam às salas. Bairi yanhuo (Carvão Negro, Gelo Fino, 2014), de Diao Yinan, é um deles. Uma das melhores produções da China continental dos últimos anos, Bairi yanhuo tem acumulado uma série de prémios no circuito internacional de festivais, nomeadamente o Urso de Ouro em Berlim. Consagração merecida para um dos melhores autores do cinema chinês actual e para uma das mais sólidas reimaginações do género noir dos últimos anos.

Fazendo jus ao seu título internacional, o plano de abertura de Bairi yanhuo é de uma pilha de carvão a ser transportada num camião em movimento. Mais importante do que o produto é o que nele está escondido e que a câmara mostra só para nós: o pedaço de um corpo, qual primeira peça de um puzzle que será eximiamente montado ao longo do filme. Segue-se uma cena num quarto em que um homem e uma mulher jogam às cartas (afinal de contas, é tudo um jogo). Seguimos o pedaço do corpo morto e os corpos vivos do homem e da mulher que (ainda) não sabemos quem são. A cadência do ritmo industrial de uma exploração carvoeira e dos gestos maquinais das relações humanas. À linha de montagem segue-se a linha de um comboio. O homem tenta deter a mulher quando esta lhe entrega a certidão de divórcio. É violento. Não nos admiraríamos se fosse o perpetrador do crime que o plano inicial sugere. Mas o homem irascível revela-se brevemente: é Zhang (Liao Fan, numa composição soberba), o polícia encarregue de deslindar o mistério das partes de um corpo que aparecem um dia espalhadas por uma província. Como muitos anti-heróis do noir, Zhang é ambíguo quanto baste.

Do corpo desfeito surge uma identificação e esta conduz a uma mulher que tapa a cara quando lhe anunciam a morte do seu marido, cujas cinzas ela enterra na árvore em frente à lavandaria onde trabalha. Zhang procura o culpado por entre as luzes artificiais da China moderna, num cabeleireiro que é talvez um bordel (haverá outras luzes do género, como as do clube “Fogo-de-artifício diurno” que dá o título original ao filme). Um brutal tiroteio – brutal ainda mais pelo sentido de timing traiçoeiro de Diao Yinan – mata-lhe os camaradas e enterra o caso numa estrada de neve. Até cinco anos depois.

Um arrojado plano sequência que parte de um carro em que Zhang viaja num túnel em 1999 e sai numa estrada coberta de neve cinco anos depois, onde encontramos o mesmo Zang caído de bêbado ao lado da sua mota, dá o salto temporal que separa uma espécie de prólogo do resto do filme. Cinco anos passaram e Zhang é agora guarda de segurança numa fábrica, continuamente alcoolizado e intratável. Um ex-colega, o detective Wang, conta-lhe o caso que têm em mãos: duas vítimas, uma em 2001 e uma nesse ano de 2004. A ligação entre ambas: Wu Zhizhen (interpretada pela conhecida actriz taiwanesa Gwei Lun-Mei, tão capaz de emprestar o rosto sorridente a uma banal campanha publicitando cafés de uma loja de conveniência como de o mostrar esfíngico em produções cinematográficas de alguma exigência). A mulher do morto de 1999, ainda empregada na pequena lavandaria. Essa mulher-problema, de quem todos os homens que se aproximam acabam mortos. Se Zhizhen já foi vista como uma versão da clássica femme fatale dos filmes noir, é preciso notar que a figura da mulher mistério que causa perdição não é um ser estranho a tradições literárias chinesas.

Zhang começa por seguir Zhizhen, procurando juntar os pontos desse rasto de morte que a ela vai dar. Há nessa perseguição de silêncios e tensões momentos de cinema prodigioso, da viagem de comboio à noite à cena magnífica no ringue de patinagem no gelo, quando um desajeitado Zhang tenta chegar à gélida e serena Zhizhen ao som de Strauss. A busca de Zhang vai revelando outras peças do puzzle, como um casaco deixado há anos na lavandaria onde ele trabalha – uma das piscadelas de olho às obras anteriores do realizador, neste caso ao seu primeiro filme, Zhifu (Uniform, 2003), onde a camisa de um uniforme de polícia deixada por levantar numa lavandaria precipitava a acção. A busca por Zhizhen conduz a outra, pelo assassino desaparecido, um homem do gelo que mata com a lâmina de patins. Os momentos dessa busca são de uma exímia construção de suspense. Diao tira partido dos tons do cinzento industrial diurno e das sombras da noite provinciana do Nordeste chinês, de elementos como o gelo ou o vapor, compondo enquadramentos e algumas opções de montagem que criam um ambiente de cortar à faca. Zhang vai embrenhando-se cada vez mais na aura de Zhizhen mas quanto mais fundo mergulha mais claro se torna o mistério dos crimes que procura deslindar, sem que se quebre o mistério dela. Quando Zhang está mais próximo de Zhizhen está também o mais longe possível, porque se torna evidente o quão ele nunca a conseguirá alcançar totalmente, a ela, que vive presa a um fantasma. Veja-se a cena em que ambos estão no cubículo de numa roda gigante em que, com mínimos mas certeiros efeitos sonoros, é sugerida uma sensação de claustrofobia e terror, um momento em que proximidade e distância se conservam insolúveis.

Bairi yanhuo é apenas a terceira longa realizada por Diao Yinan, que também assina o argumento. Que um autor atinja este pico de excelência tão cedo não surpreende tendo em conta a qualidade das duas obras anteriores, Zhifu e Ye che (Night Train, 2007), onde já era evidente o olhar de Diao sobre certos solitários invisíveis da China contemporânea. Sempre com uma reflexão sobre as complexidades de figuras de autoridade (o poderoso símbolo transfigurador do uniforme de polícia em Zhifu, a guarda prisional protagonista em Ye che, e Zhang em Bairi yanhuo) e convivência, quase atracção, por um lado de sombras em busca algo de puro. Em todos os filmes existe um retrato, poderoso na sua subtileza, fascinante no seu detalhe, dos espaços desolados de uma qualquer modernidade inóspita, neste último filme potenciados pelos cenários gelados. Esse retrato é pontilhado, ocasionalmente, por um quase humor do absurdo (veja-se a reconstituição final do crime para a câmara), mas é o tom sombrio que impera, mesmo que a Diao interesse o inexplicável fulgor de uma empatia humana por entre toda a violência que impera.

Certamente menos conhecido entre o público português do que outros autores seus conterrâneos e contemporâneos, Diao Yinan é, no entanto, um dos mais interessantes cineastas chineses da actualidade, um mestre do ambíguo que constrói com este filme uma das incursões mais atmosféricas em terreno do noir deste século.

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2010'sDiao YinanGwei Lun-MeiLiao Fan

Helena Ferreira

“Maybe, too, the screen was really a screen. It screened us... from the world” (The Dreamers)

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