Alguém me dizia, depois de ver o Cavalo Dinheiro (2014), que “o último filme dele é sempre melhor que o anterior”. Esta ideia, independentemente da expressão qualitativa, tem um enorme teor cumulativo, de vínculo imediato com uma referência anterior. E afirmar isto não é cair na facilidade teórica dos enunciados post-it “cada obra de um realizador é o seu crescimento enquanto autor” ou “sabemos que este é um filme de fulano de tal, porque esta maneira de filmar é muito na linha do que ele já fez”… De facto, se ne change rien, como diz o outro – o outro, que é um documentário de Pedro Costa com Jeanne Balibar, Ne Change Rien (2009) – é no sentido da construção e da sintaxe de um projecto, e esse projecto é algo que parte de uma consciência muito forte e artesanal de trabalho, baseado em rotinas, repetições, e sem desperdícios. Não terá sido por acaso que Pedro Costa recebeu o Leopardo de Melhor Realizador em Locarno por Cavalo Dinheiro. A unidade dos filmes, o plano, os seus planos são cada vez mais apurados, há uma economia crescente nas imagens que não se deixam inflacionar. Desvaloriza-se o dinheiro, fica o cavalo.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.
