Por vezes, as palavras em português já não chegam em primeiro lugar. Rewarding, excited, approach. O português é a sua língua mãe, mas o inglês é a sua língua de trabalho. Gabe Klinger nasceu em São Paulo, mas fez toda a sua carreira no cinema nas terras do Tio Sam. É um jovem crítico de cinema, colaborador de revistas como a CinemaScope, a Film Comment e a Sight & Sound, dá aulas sobre história do cinema e faz curadoria na mesma área. Na entrevista que me concedeu a mim e à Mariana Castro (que assina as fotografias) no fabuloso jardim da Gulbenkian, Kingler conta que estabeleceu os trinta anos como meta para publicar um livro, que veio a ter por tema o cinema de Joe Dante, e realizar o seu primeiro filme, que imortaliza uma das mais fascinantes e improváveis amizades entre realizadores. A nossa conversa informal girou precisamente à volta de este Double Play: James Benning & Richard Linklater (Jogo Duplo: James Benning e Richard Linklater, 2013), produção a cargo de Rodrigo Areias e da sua Bando à Parte, que se estreia em todo o país na próxima quinta-feira (4 de Dezembro), sem complexos por ir beber ao hype de Boyhood (Boyhood: Momentos de Uma Vida, 2014). O filme é distribuído pela Nitrato Filmes, a quem agradecemos a oportunidade desta entrevista.
LM – Sendo tu um crítico, professor e curador, gostava de começar por perguntar se foi a força desta descoberta, de uma amizade diria insólita entre James Benning e Richard Linklater, que provocou o teu salto para a realização ou já andavas à procura de um tema para te lançares nesta nova experiência?
Gabe Klinger – Eu queria fazer uma entrevista. Estava em Berlim, com o Rick [Richard Linklater], aquando da estreia de Before Midnight (Antes da Meia-Noite, 2013). E comecei a pensar em termos de cinema; fazer alguma coisa visual. Gosto muito deles, acho que falam muito bem. Eu também tinha esta ideia de fazer um jogo de baseball entre os dois. Esta imagem de lançar a bola de baseball, trocar ideias. Se conseguisse filmar isso, podia ser alguma coisa. Daí, pensei levar a ideia para André Labarthe, produtor da série francesa Cinéastes, de notre temps [série documental sobre grandes cineastas da história do cinema criada em 1964 por Labarthe e Janine Bazin e que, após terminar em 1971, é refundada em 1988 com o nome Cinéma, de notre temps]. Depois de Berlim, fui para Paris, um amigo meu apresentou-me ao André, consegui algum dinheiro. Ele levou a ideia para a televisão francesa e tornou-se num filme. Não foi uma coisa muito calculada.
LM – Falando da questão do dinheiro, o teu filme mereceu uma forte campanha na Internet, nomeadamente através do site Kickstarter.
GK – Pois, hoje em dia o dinheiro da televisão francesa não basta (risos).
LM – Pergunto-te em que medida o facto de teres sido obrigado a expor – ou melhor, a comunicar – o teu projecto em público te ajudou a pensar de outra forma o filme.
GK – Completamente. Assim tive mais possibilidades de comunicar as minhas ideias a toda a equipa de produção. Se não fosse assim, ia ser um projecto amador. Não tenho nada contra projectos mais íntimos, amadores, mas tinha outra visão. Queria que fosse um filme visto no grande ecrã. Também há uma linguagem que associamos à televisão que não me atrai muito. Mas consegui comunicar essas ideias mais amplas a um público maior. Ainda assim, é um público pequeno, mas acho que é um público que conheço bem.
LM – Queria perguntar-te, enquanto crítico e professor, se procuraste alguma referência passada para te orientar na procura deste formato de pôr em diálogo dois cineastas e se te lançaste conscientemente na aventura de, como James Benning diz no documentário, encontrar uma nova linguagem dentro do género de documentários sobre cinema.
GK – Não é muitas vezes que vemos um documentário sobre duas pessoas. É um formato interessante. Tenho outros exemplos de Cinéastes, de notre temps, que é o da Claire Denis sobre o Jacques Rivette e o Serge Daney. É mais sobre o Rivette, mas acaba por ser sobre o Daney também. Há o filme do Rivette sobre o Renoir e um dos capítulos é sobre o Renoir e o Michel Simon. Esses dois episódios inspiraram-me. A ideia foi também fazer esses dois retratos [Benning e Linklater] pelo preço de um. É sempre bom por uma questão de dinheiro. E alivia um pouco a minha responsabilidade, enquanto entrevistador, de fazer perguntas interessantes. Era colocar os dois num cenário e quase não fazia nada. Às vezes parava e pedia para tocar neste ou noutro assunto, mas em geral deixei que guiassem a conversa.
Mariana Castro (jogando com o seu papel de fotógrafa-entrevistadora ou entrevistadora-fotógrafa) – Foram então eles que fizeram mais ou menos o guião da conversa.
GK – Sim. Durante dois meses antes das filmagens, conversávamos todas as semanas por telefone ou por email. Com o Linklater conversava pelo telefone. Com o Benning por email. O Benning não tem telemóvel, não tem telefone em casa. Às vezes discutíamos. Eu sugeria certas coisas, como irmos visitar alguns dos locais de rodagem [movie locations] de filmes do Linklater. Ele dizia-me: as locais de rodagem não são a vida real [movie locations aren’t real life]. Tivemos pequenas desavenças. Não sabíamos o que podia acontecer: chegar a Houston e os dois podiam não aparecer. De repente, uma equipa de doze pessoas podia ter receio. Mas depois do primeiro dia em que estivemos juntos deu para perceber que ia ser uma experiência muito gratificante [rewarding].
LM – Foi uma vantagem partires para esta experiência tendo já uma carreira no domínio da crítica de cinema? Para muitos críticos e professores, existe uma barreira quase intransponível que os separa da prática…
GK – Muitas vezes acontece o oposto: começa-se como realizador e acaba-se como crítico. Eu sempre desejei fazer cinema, mas faltava coragem. Quando cumpri trinta anos, queria fazer duas coisas: um livro e um filme. O livro que fiz foi sobre Joe Dante. Não é que prejudique, mas às vezes podemos ir pelo lado formal, pode ser uma proposta mais académica. Por exemplo, o filme de Pedro Costa, sobre Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Onde Jaz o Teu Sorriso? (2001), é um filme puro, é um filme de Pedro Costa. É um filme que, dentro de um formato mais limitado, consegue ser uma experiência cinematográfica. O nosso filme não é um filme puro nesse sentido. Tem certas limitações, nós trabalhámos dentro delas. Não sei, é uma outra coisa. Admiro muito a abordagem [approach] do Pedro e acho incrível esse filme. Ele tinha uma relação com eles. Eu tinha uma amizade com Benning, mas é uma pessoa um pouco difícil. Hoje já tenho uma relação de amizade com Linklater, mas na época da filmagem ainda não tinha. Então, quatro dias de filmagem não davam realmente para fazer uma coisa mais formal. Foi aceitar essas limitações e fazer o melhor possível.
LM – Estás a falar de formas puras. Estava a pensar que o filme, que se chama “jogo duplo”, também é um “jogo triplo”: Linklater, Benning e Klinger. Mesmo que invisível, tu és uma espécie de terceiro elemento aqui. Por um lado, pareces jogar o jogo do Linklater, já que há qualquer coisa de hang out movie à Linklater em Double Play. Por outro lado, procuras um bocado a duração ou o lado contemplativo do Benning. Como equilibraste este(s) jogo(s)?
GK – A ideia era um pouco essa. Mais inspirado pelos filmes do Linklater que do Benning, porque era impossível… Só há um plano no filme onde tentamos imitar [o estilo do Benning]. Brincámos com os dois. Mas é impossível também no caso do Linklater, porque os seus filmes são muito pensados, planeados e ensaiados durante meses. No documentário, nunca chegámos… não a uma perfeição, mas ao standard formal do cinema. Acho que conseguimos um pouco assimilar a linguagem dos dois realizadores. Todos os filmes de Linklater conseguem ser hang out movies que nós gostamos de assistir. Estamos com aquelas personagens e parece fácil pegar numa câmara e filmar o Matthew McConaughey ou o Rory Cochrane. Parece fácil, mas é uma coisa muito difícil de conseguir.
LM – Parece-me que o teu filme tem o poder de desorientar os cinéfilos. Por um lado, os mais interessados pelo cinema experimental terão ficado surpreendidos com a empatia entre Benning e Linklater, um cineasta mais mainstream, menos acarinhado no “nicho” apreciador de Benning. Por outro lado, para uma maioria que nunca viu um filme de Benning este encontro terá causado, no mínimo, alguma curiosidade. Tens tomado nota do efeito que este Double Play tem provocado junto do público?
GK – É engraçado. Nós conseguimos vender o filme a uma distribuidora nos Estados Unidos, Time Warner Cable. São cinquenta milhões de casas que têm esse serviço de televisão a cabo. Eu brinco agora que o James Benning se tornou num household name [nome familiar]. Desses cinquenta milhões de pessoas, atingimos, sei lá, dois mil. Não tem um alcance muito grande. De qualquer maneira, a maioria das pessoas que vê o filme não conhece o cinema do Benning e acaba a conhecê-lo. É um resultado bom.
LM – Esse era um objectivo?
GK – Não tínhamos esse objectivo, mas como consequência do projecto eu acho positivo. E para ele também. Ele não se incomoda em ser visto por um grande público.
LM – Curiosamente, do ponto de vista das pessoas “mais do meio”, acho que o teu filme favorece imenso o Linklater. Nomeadamente quando aproxima os dois não só através da paixão pelo baseball, mas acima de tudo pelo facto de nos dois cinemas o grande protagonista ser o tempo. Linklater trabalha sobre ele dramaticamente para trazer uma espécie de tridimensionalidade às vidas das suas personagens (penso na “trilogia Before” mas também em Boyhood). Benning, um cineasta mais de paisagens que de pessoas, trabalha sobre o tempo ao invés de se servir dele: ele parece procurar na experiência da duração de um plano uma espécie de temporalidade perdida. Para Linklater, o tempo é uma ferramenta conceptual. Para Benning, o tempo é todo o seu atelier conceptual. Este filme fez-te redescobrir os seus cinemas?
GK – Sim. Na fase de montagem, voltei a ver todos os filmes. Alguns filmes de Benning não estão disponíveis. Mas revi todos os filmes de Linklater e a maioria dos filmes do Benning. E durante esse processo descobri coisas que não tinha ainda percebido. A questão importante do tempo, de repente vês conexões, passagens, lugares, coisas que os dois filmaram. Por exemplo, o Texas Tower em Austin foi filmado pelo Benning e Linklater várias vezes. Certos temas políticos também. Numa conversa – que não chegou a entrar na montagem final – eles falaram sobre a sua visão da política. Os dois acreditam que o mundo é controlado por elites. O seu cinema tem um certo lastro de resistência. Isso é importante para mim. Eu gosto de muitas coisas americanas… Por exemplo, o Fincher. Ele é um cineasta extremamente inteligente, o craft dele é impecável, ele pensa e subverte o público, mas politicamente não sei onde situar o Fincher. Isso acontece com muitos cineastas americanos. Quando vejo os filmes de Linklater, é muito fácil de situar a política dele. É um cinema democrático. Por exemplo, The School of Rock (Escola de Rock, 2003). O Benning acha o filme radical. Tu vês o filme e pode ser hoje em dia visto como tal, porque propõe uma visão sobre o sistema educativo americano que está em crise, numa situação terrível. The School of Rock tem outra visão sobre o que pode ser a educação americana. É uma coisa que, de outra forma, os filmes do Benning também propõem. Ele não só foi professor de matemática como também trabalhou com vários indígenas americanos para os ajudar a reclamar pelos seus direitos civis. O filme mais político do Linklater é o Fast Food Nation (Geração Fast Food, 2006). É um filme muito interessante, quase um agitprop. É um filme muito estranho: por um lado é comercial; por outro lado, é um filme militante. Uma das coisas que lamento é que o meu filme não entre tanto neste lado político. Mas, bom, o Linklater convidar o Benning a participar [como cineasta homenageado no Austin Film Society, fundado por Linklater em 1985] já é um acto radical, já é um acto político.
LM – Há outra coisa que não é surpresa para quem mergulhou a fundo no cinema do Benning, que é o seu lado meticuloso, quase sistemático ou mesmo matemático. Tal como, precisamente, o cinema do Linklater é: muito metódico, muito trabalhado. Haverá aqui uma proximidade de método entre os dois?
GK – Existe uma ética do trabalho muito forte. O Benning em 13 Lakes (2004) ou 10 Skies (2010), 13 planos de lagos e 10 planos do céu… Isso parece fácil, mas na realidade ele trabalha muito para chegar a esses lugares. É um processo muito solitário, tem de viajar muitas horas, às vezes é perigoso, porque está no meio do nada. No caso do Linklater, também. Quantos filmes tem ele? Uns dezanove ou vinte. Quantos tem o Tarantino, um realizador da sua geração? Uns 7 ou 8. A produtividade dele… Na época em que ele fez o Slacker (1991), não havia praticamente cinema independente americano. Jarmusch, Hartley… Existia mercado para um filme estranho. Houve muitos como ele que não conseguiram.
LM – Outra ponte que encontro entre os dois, que acaba por vir ao de cima pelo bom feel entre os dois, é o humor, aspecto a meu ver algo descurado no estudo do cinema de Benning. Quanto a mim, encontramos nele algum do humor mais subtil, exemplo das intromissões tecnológicas na paisagem em filmes como 13 Lakes ou RR (2007). Twenty Cigarettes (2011), por exemplo, parece uma blague entre amigos. Linklater, por sua vez, gosta por vezes de se apresentar como um comediante, diria que é um comediante sentimental. Como é que o humor, no teu entendimento, pode explicar esta irmandade (“brotherhood”) inesperada entre os dois?
GK – Há um clima muito divertido [entre eles]. Mais do que humor, é amizade. Mas é verdade que brincam muito. Não é aquela coisa do filme do “vamos conversar…” Eles falam sobre coisas interessantes, mas é uma relação quase de pai e filho. [Hesita] O Linklater já alcançou um certo nível, ele já não é bem um filho, mais um irmão mais velho. Mas o Linklater quer muitas vezes parecer inteligente para impressionar o Benning.
LM – Gostava de introduzir na conversa o tema Boyhood. Quando Double Play foi filmado este projecto de Linklater, que demorou mais de dez anos a ser completado, estava ainda em fase de montagem. Vemos Linklater a mostrar a Benning alguns excertos do filme. Em Portugal, o filme estreia no dia 27 de Novembro, no mesmo dia os portugueses também poderão ver o teu filme [o filme teve estreia inicialmente marcada para o dia de estreia de Boyhood]. Por isso mesmo, gostava de te perguntar se não tens receio que Double Play acabe devorado pela dimensão popular e comercial de Boyhood? Dito de outra maneira: não tens receio que perca a sua própria identidade e se transforme num “apêndice” histórico, um mero “extra”?
GK – Existe uma expressão americana: riding the tuxedo tail [andar na cauda do smoking]. Se andares na parte de trás do smoking vais ser levado no tapete vermelho. O nosso filme é frágil e sem dinheiro. Se o sucesso do Boyhood o puder carregar um pouco não acho mal. Até acho que tivemos sorte.
LM – Digo isto, porque quando vi o teu filme no IndieLisboa [escrevi crítica aqui] tive essa experiência de o poder ver como um filme que não devia nada a nenhum outro. A tentação agora é vê-lo como suplemento…
GK – Eu vejo isso com humildade. Se é visto como suplemento, será um bom suplemento (risos).
LM – Uma coisa parece-me certa: Boyhood aproxima Linklater a Benning como nunca antes, como é aliás reconhecido por este último em Double Play. Em certa medida, é o American Dreams: Lost and Found (1984) de Linklater por acompanhar a história de uma “personagem” ao longo do tempo, ainda que One Way Boogie Woogie/27 Years Later (2005) possa ser comparado ao gesto de “eterno retorno” às personagens de Before Sunrise (Antes do Amanhecer, 1995). Relacionando Benning com Linklater, pensaste o teu filme como uma muito moderna peça crítica?
GK – No processo de montagem, sim. Não muito nas filmagens, em que fui mais levado por eles. Mas na montagem havia uma responsabilidade crítica de comentar os cinemas deles. É excitante [exciting]. É outro formato. Gosto muito de escrever, mas agora estou a descobrir outra linguagem. Todos os críticos de cinema deveriam tentar fazer cinema nalgum momento.
LM – Há cada vez mais críticos a fazê-lo.
GK – É o futuro.
LM – Vês-te a caminhar para aí ou para o cinema puro, como estavas a falar em relação ao Pedro Costa?
GK – Agora vou filmar a minha primeira longa-metragem de ficção. Vai ser filmada aqui, em Portugal, no Porto, com o Rodrigo Areias [também produtor de Double Play]. Fiquei com vontade de fazer uma coisa mais formal. É um argumento original que escrevi com Larry Gross e que está a ser produzido, nos Estados Unidos, pelo Jim Jarmusch. E vai ter Anton Yelchin, que é um actor do Star Trek (2009) e um grande cinéfilo. É uma história de amor, amor de perdição sem referência ao filme do Oliveira (risos). Vai ser filmado em Super 8, 16mm e 35mm. É a mesma história filmada três vezes, em três espaços de tempo diferentes. A primeira parte, em Super 8, conta a vida inteira das personagens, começo até ao final. A segunda parte, em 16mm, conta o primeiro encontro das personagens e depois a separação deles e depois o reencontro. E depois a parte final do filme, em 35mm, dura uma hora e é só uma noite na vida das personagens. Também é um trabalho sobre o tempo…
LM – Parece uma fusão entre Linklater e Benning!
GK – Sim (risos). Mas quando escrevi o filme não estava ciente disso. Agora converso com as pessoas e muita gente faz o mesmo comentário.
LM – E vais recorrer outra vez a campanhas de crowdfunding?
GK – Não, desta vez não. Vou procurar dinheiro privado e alguns fundos públicos para a pós-produção. A parte mais cara vai ser a de 35mm. São 40 000 euros. É preciso lutar! Em digital podia fazer de graça… Mas isso seria uma traição. Não faz sentido. Voltando à pergunta, este é um passo que eu preciso de fazer para voltar a dar aulas, a escrever, a pensar o cinema. Queria outro tipo de experiência para poder crescer.
LM – Outra coisa que me aconteceu com o Double Play foi ter ficado com vontade de ver mais. Não só mais da relação Linklater-Benning como do próprio formato, tentando provocar encontros inesperados, quase blind dates entre cineastas. Gostarias de ver mais experiências destas?
GK – (Risos) Sim, eu adoraria.
LM – Por exemplo.
GK – Michael Powell e Scorsese. No filme do Labarthe sobre o Scorsese aparece o Michael Powell numa cena, mas o filme deveria ter sido sobre Scorsese e Michael Powell. Há também a entrevista de Truffaut a Hitchcock. O livro e a gravação áudio. É incrível, adoro… O Paul Thomas Anderson tem uma grande amizade com o pai do Robert Downey Junior, que é um cineasta importante. Um amigo meu vai fazer uma retrospectiva do Robert Downey Sr. e vai convidar o Paul Thomas Anderson para apresentar.
LM – E encontros mais estranhos? Como James Cameron e Pedro Costa ou Straub e Verhoeven?
GK – (Risos) Michael Bay e Lav Diaz! (Risos) Michael Bay e Leos Carax! Eles têm uma noção… uma vontade de espectáculo…
LM – Uma certa megalomania?
GK – Sim, seria interessante falar sobre esse tema em concreto.
MC – O Carax não é uma pessoa muito faladora.
LM – Nem o Michael Bay, segundo é público.
GK – Ele não é muito inteligente. (Risos) Ele é uma pessoa abusiva, muito insegura. Conheço pessoas que trabalharam com ele. Ele não sabe nada tecnicamente – não é como o James Cameron – e ele ataca todos. Já o Carax é tímido, mas muito amável.