1. Cavalo Dinheiro de Pedro Costa – 66 pontos; 2. The Immigrant de James Gray – 57 pontos; 3. E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto – 45 pontos; 4. Only Lovers Left Alive de Jim Jarmusch – 36 pontos; 5. La jalousie de Philippe Garrel – 29 pontos; 6. The Congress de Ari Folman – 28 pontos; 7. L’image manquante de Rithy Pan – 26 pontos; 8. Boyhood de Richard Linklater – 25 pontos; 9. Gone Girl de David Fincher – 21 pontos; 10. The Act of Killing de Joshua Oppenheimer – 18 pontos
Numa comparação com os outros tops do À pala de Walsh (2012, 2013), podemos concluir rapidamente o seguinte: 2014 é o ano do cinema português. É a segunda vez que os nossos walshianos elegem um filme português como o melhor do ano – em 2012 foi Tabu a receber a honra – mas nunca antes contámos com dois filmes falados e produzidos em Portugal no pódio. Cavalo Dinheiro de Pedro Costa é a obra-prima do ano, mas o regresso de Joaquim Pinto à realização, com E Agora? Lembra-me, também deixou a sua marca, merecendo aqui a distinção do terceiro lugar. Entre Costa e Pinto está James Gray que, com The Immigrant, protagoniza a melhor posição do cinema norte-americano entre os nossos tops. Abel Ferrara conseguira um quarto lugar em 2012, lugar que agora também é preenchido por um título norte-americano, de mais um “consagrado”: Jim Jarmusch. Por isso, podemos reformular: 2014 foi o ano do cinema português e do cinema norte-americano. Ainda tivemos filmes importantes de Richard Linklater e David Fincher. Somado a Pinto e ao cambojano Rithy Panh, o texano Joshua Oppenheimer realizou um dos três documentários deste lote – até agora nenhum documentário tinha chegado às nossas listas finais. L’image manquante mistura um registo intimista com uma “promessa de animação”, que, em certa medida, é cumprida em The Congress do israelita Ari Folman. Também aqui se abre uma (boa) precedência: a entrada da animação na elite do que melhor se viu num ano de cinema. Por fim, resta uma palavra para o cinema francês: maior presença no top do ano passado e aqui representado apenas por um veterano no quinto lugar, Philippe Garrel. O futuro é amanhã? Qual quê! O futuro foi (ante)ontem!
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Olhando para o ano passado, constatamos que, em 2014, a nossa “pole position” coincide em dois aspectos e difere num outro. Em comum, o facto de ocuparem o primeiríssimo lugar dois filmes do leste europeu e, muito curiosamente, dois filmes cujo locus, físico e espiritual, é o mesmo: um convento; Deus. Ida é, para nós, um autêntico colosso cinematográfico, que, como todos os colossos, é, também, uma faca de dois gumes (pressão elevadíssima para o próximo filme de Pawel Pawlikowski). Segunda coincidência: a entrega do terceiro lugar do pódio a um represente chinês, no caso, o filme em sala com que fechámos, e muito bem, o ano, conservando muitas expectativas para o próximo trabalho de Yi’nan Diao (e, bem assim, para o do autor de Ilo Ilo) – as duas melhores cenas do ano são dele e passam-se numa pista de patinagem (permitam-nos a remissão – talvez despropositada, talvez não – para a Dorothy Stratten do They All Laughed) e num carrossel. Finalmente, então, a desarmonia: a ausência, do segundo lugar (e de todos os outros…), de um filme português (Cavalo Dinheiro não figura não por falta de oportunidade no seu visionamento; é mesmo, como se diz em futebolês, por “opção técnica”), embora o filme de Pedro Costa e Os Maias, entre outros, pontuem um ano globalmente positivo para o cinema nacional. No segundo lugar, então, dois filmes “totais” (neste preciso sentido) muito semelhantes no seu tema, i.e., a passagem do tempo (se Benning e Linklater geraram um inusitado e interessantíssimo encontro, estamos certos de que Linklater e Edgar Reitz não ficariam atrás) e o crescimento de um jovem em particular. Ambos nos fizeram sair da sala a cambalear, ambos guardaremos connosco para o resto da nossa vida. Algumas, poucas, estreias não vimos e, por isso, em alguma injustiça incorreremos, se bem que, a nosso ver, a graça neste tipo de seriação está também, senão sobretudo, nessa “subjectividade total”, i.e., não só na do gosto propriamente dito, mas igualmente na das circunstâncias da vida do seu autor (e se o gosto não é coisa também definida pelos momentos por que passamos na vida…). Os melhores filmes que vimos em 2014? Douro Faina Fluvial (1931). Não, The Roaring Twenties (1939). Quer dizer, The Servant (1963). Se calhar… Charulata (1964). Para o ano, graças a Deus, há mais. |
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O ano cinematográfico de 2014, no que aos melhores se reporta, parece inscrito numa espécie de “exercício de lapidação formal” e de fantasmagoria, sendo que quimera, no caso de Nebraska é o termo mais adequado. Embora praticamente todos os filmes desta lista sejam de 2013 (com o caso flagrante de A Erva do Rato, que é de 2008!), a lei da distribuição alinhou-os assim ao olhar do espectador português em 2014, e fabricou a sensibilidade (ou não) para essa associação de fantasmas entre os vários filmes – ressalvo apenas que esta é uma conclusão holística e, por isso, preserva toda a fragilidade teórica quando tratado cada cineasta à lupa. Agora que vesti o colete anti-balas, posso continuar: a lista que apresento (com o natural prejuízo e abstração de alguns filmes não vistos) revela uma cada vez maior concentração simbólica ao nível dos planos, e um vapor muito agradável de espectros, sobretudo interiores: Cavalo Dinheiro é disso o exemplo mais duro, fazendo-nos trazer para casa a sombra de Ventura, como quem leva na mão um busto de madeira negra, além do tormento desta personagem essencial de Pedro Costa, um tormento diáfano e indomável, convocado para esconjuro; por sua vez, L’image manquante é uma espécie de “queres que te faça um desenho?” na denúncia histórica do terror dos Khmers Vermelhos (mais uma vez os fantasmas do passado); The Immigrant, um relicário com fotografias ao peito da protagonista, espiritualizando a imagem longíqua da família, numa luz outonal do presente; A Erva do Rato, um esqueleto, Naturezas-mortas por toda a parte, e um rato mais vivo que os próprios humanos; A Vida Invisível, uma magnífica escada-poço, qual Vertigo (com o devido respeito), sendo, no sentido mais puro, uma história fantasma; La jalousie, o preto e branco como só Philippe Garrel, e os fantasmas presentes na motivação de Louis para pegar numa arma e tentar suicidar-se; Only Lovers Left Alive, uma Tilda Swinton como só Derek Jarman, antes, soube ver e… vampiros, esses dead men do cinema de Jarmush; Histoire de ma mort, a noite e palavras mastigadas com romã (uma fruta que tem algo de moribundo); Nebraska, uma paisagem à Bogdanovich (The Last Picture Show) sem mais nada de Bogdanovich, e uma ternurenta cabeça de vento, onde baila a tal quimera do cheque de 1 milhão de dólares; e Night Moves, numa personagem totalmente dostoievskiana, um Raskolnikov que nos passa subtilmente a agonia, com a cabeça de gorro escondida na cratera interior da culpa. Fantasmas e mais fantasmas. São tudo isto imagens que se conservam assim na memória, porque são filmes de uma lucidez e rigor formal exemplares. Se este exercício podia valer para quase tudo? Podia, mas quando se trata de sobressair uma característica plural, não há outra maneira de explicar senão por imagens. |
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Se o ano passado ficou marcado pela possibilidade de assistir às reposições e/ou estreias de alguns clássicos, este ano essa realidade foi alargada aos ciclos de filmes de Ozu, Ingmar Bergman e Satyajit Ray, filmes que só por si davam para fazer um top dos melhores do ano. 2014 fica também marcado pelo re-aparecimento da exibição regular de cinema no centro do Porto, que permitiu assim assistir a ciclos dedicados a Pasolini, Agnès Varda (com a presença da realizadora) e aos festivais de cinema documental Desobedoc e o Porto/Post/Doc, que teve uma promissora primeira edição, com uma programação de alta qualidade – este ano cheguei a ver pessoas a assistirem a filmes de François Truffaut ou Varda em pé, por não haver mais lugares na sala. Foi também o regresso em alta do cinema português depois de um ano díficil, com os novos filmes de Pedro Costa e Joaquim Pinto, reconhecidos e premiados internacionalmente. Finalmente, foi também um ano de destaque para o documentário, afirmando-se como uma forma alternativa de contar histórias, que ancoradas na realidade, parecem explorar novos formatos. Além dos filmes escolhidos para o top, menção honrosa para Nebraska (2013) de Alexander Payne, Only Lovers Left Alive (Só os Amantes Sobrevivem, 2013) de Jim Jarmusch, Boyhood (2014) de Richard Linklater, La jalousie (Ciúme, 2013) de Philippe Garrel, The Babadook (O Senhor Babadook, 2014) de Jennifer Kent e The Double (O Duplo, 2013) de Richard Ayoade. |
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Ao consultar as estreias do ano para compor esta lista, dei-me conta que 2014 não está a ser tão mau quanto pensava. Não há, é certo, um filme que me tenha deixado de rastos como La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 (A Vida de Àdele, 2013) Abdellatif Kechiche ou me cativasse tanto como Da-reun na-ra-e-suh (Noutro País, 2012) de Hong Sang-soo – e, por isso, continuo com a ideia de que o ano passado foi melhor do que este. Ainda assim, The Congress (O Congresso, 2013), o brilhante OCNI (Objecto Cinematográfico Não Identificado) de Ari Folman, anda lá perto. Porém, já não me lembrava de ter tanta dificuldade em escolher os meus dez filmes preferidos de um ano há muito tempo. Ou melhor, lembro-me do esforço para concluir algumas listas, quando os últimos filmes já entravam quase por favor, mas não de excluir tantos de que gostei genuinamente – The Immigrant (A Emigrante, 2013) de James Gray, E Agora? Lembra-me (2013) de Joaquim Pinto; All Is Lost (Quando Tudo Está Perdido, 2013) de J.C. Chandor; Neighbors (Má Vizinhança, 2014) de Nicholas Stoller. |
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Mais uma vez acaba o ano, mais uma vez se não viu que chegasse. Faltaram os novos de David Fincher, de Mathieu Amalric, David Cronenberg, Manoel de Oliveira, Vítor Gonçalves e o último de Alain Resnais. Entre outras coisas por que tinha maior ou menor curiosidade (Chandor, Canet, Woody Allen, o último dos irmãos Farrelly)… Como a mente é limitada e a reflexão demorada, fiquei sem saber que fazer em relação ao penúltimo filme de Resnais (por falta de memória) e ao filme de Joaquim Pinto (por falta de intuição) e a eles terei que voltar um dia. Gostei de muita coisa em Snowpiercer (Snowpiercer – Expresso do Amanhã, 2013), The Expendables 3 (Os Mercenários 3, 2014) e 20.000 Days on Earth (20.000 Dias na Terra, 2014) e deixo-lhes aqui esta menção. Se as regras deixassem, Akibiyori (O Fim do Outono, 1960) e Ohayo (Bom Dia, 1959) estariam ali junto aos maravilhosos filmes de Pedro Costa e James Gray e Higanbana (A Flor do Equinócio, 1958) ao lado do de Clint Eastwood. |
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Arrume-se já a ideia de que o último Gray é uma obra-prima absoluta – vi-o no ano passado mas o efeito perdura. Pois bem, se pudesse resumir o ano numa frase curta diria assim: 2014 foi o ano Uma Rapariga no Verão (1986). Não? Então vejamos. Mais de vinte anos depois, o “realizador” Vítor Gonçalves assina a realização de um filme, um noir existencial, kafkiano-hitchcockiano, com um dos planos mais marcantes que me passaram pelos olhos: A Vida Invisível. O “assistente de realização” Pedro Costa regressa à longa-metragem, também passado bom tempo, para realizar uma das suas maiores obras-primas, Cavalo Dinheiro. O “director de som” Joaquim Pinto põe-nos a reflectir sobre a morte e a vida, num movimento cosmológico de plena sintonia entre o íntimo e o universal, em E Agora? Lembra-me. Mais? Bem, também acho dignos, muito dignos de registo, os seguintes factos: “o produtor” José Bogalheiro edita pela Documenta a sua tese de doutoramento Empatia e Alteridade, um dos densos livros de cinema publicados nestes anos em Portugal; o “outro director de som” Pedro Caldas, que continua com o seu magnífico Guerra Civil suspenso no ar por causa de um problema de produção, ganhou um processo em tribunal por difamação que lhe foi interposto pelo produtor João Figueiras e que envolvia, com ameaças várias, o À pala de Walsh, que sempre defendeu a necessidade – que ainda não foi cumprida – de tornar públicas as suas palavras, mesmo que estas fossem incómodas para terceiros. Para mim, esta foi também uma vitória da liberdade de expressão, pelo que convido todos a lerem este pequeno trecho da sentença do juiz, que dá bem nota do excesso de “sensibilidade paroquial” que (também) reina no meio do cinema português. Por fim, foi também este ano que soube que Uma Rapariga no Verão vai ser editado em DVD no Reino Unido pela mão da excelente Second Run. Outros destaques deste algo decepcionante (desilusões: Jarmusch, Cronenberg, Scorsese e Eastwood) ano de cinema: Centro Histórico (destaque para o filme de Erice que, sozinho, entraria nesta lista), Mr. Turner, L’image manquante, Nightcrawler, The Congress, Boyhood, Grand Budapest Hotel, Ida e Snowpiercer. |
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Foi um muito bom ano para a música. Para mim. Para o cinema, pelo que vi, foi assim-assim. As escolhas reflectem o papel da música nos filmes de que mais gostei. O drone metal no Jarmusch fim de século. A pop britânica com sintetizadores de Pride. |
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Há 46 anos, na revista O Tempo e o Modo, um senhor que ainda assinava como João César Santos escolhia os seus “Dez melhores filmes de 1968”. Essa lista de 10 só continha 3: o Playtime, o Um Soir… Un Train… e o The Big Mouth. Mas o mais interessante é o pequeno comentário que acompanhava essa trindade, passo a citar: “NOTA: Excepção feita aos três filmes que incluiu na sua lista, os restantes filmes que este ano viu não lhe interessaram a ponta de um corno. Moral da lista: cada vez gosta mais de menos filmes”. O azedume do que aqui se alonga ainda não alcançou o ponto de rebuçado como o do senhor Monteiro-ainda-por-ser no ano de 68. Aliás, além dos 12 filmes deste meu Top 10 vários ficaram tristemente de fora: Lego Movie, Snowpiercer, The Grand Budapest Hotel, Jeune & Jolie, The Most Wanted Man, La chambre bleue, Après Mai, Os Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética. E mais tristes são os que não puderam ainda ser vistos, de Bressane a Serra, de Dardenne aos Resnais, de Reichardt a Leigh, de Garrel a Glazer entre tantos mais. Lá vão os tempos em que o tempo se deixava esticar, e os filmes ver sem demora, e a média era próxima dos dois títulos por semana… Mas o certo é que cada vez se gosta mais de mais filmes. Mas devia falar do ano, do que ficou. Se foi melhor ou nem por isso, se foi surpreendente ou feito apenas de confirmações. Para isso creio que a lista diz que chegue: que o que a assina é talvez bipolar, que tem uma queda para os excessos e que se encanta pela sinceridade, mesmo aquela pré-cozinhada de cozedura rápida – como é o caso de Fincher e Côté (indivíduos certamente mortos por dentro). Ficam-me na cabeça as malas de viagem cheias de livros de Jarmusch, as mensagens de telemóvel quebradas de Non-Stop, o fantasma da Hollywood clássica de Cronenberg, o génio de Rithy Panh no tratamento do horror (por oposição ao nojo energúmeno de Oppenheimer), o plano final de Gray – o cinema é um espelho e uma janela -, a fotografia invertida de Fincher, a vespa de Pinto, a cólon-oscopia de Gallienne e todos os instantes de The Congress e Cavalo Dinheiro. |
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Três pontos a reter de mais um ano: 1) Para fazer face ao cada vez maior cataclismo poseur (também quero dizer que o cinema acabou, papá!) da “morte do cinema”, a única resposta possível é ver filmes. Muitos, imensos, até os olhos doerem, ser se importunar muito com síndromas de “autofagia cinéfila”, que os “guardiões da cinefilia pura” (Guardians of the pure Cinephilia, ao cuidado das majors hollywoodianas) tratam de atirar para o ar de quando em quando. Esperar, depois, ser surpreendido. Nunca se viu tanto filme como em 2014: assim de relance, e se a memória não falha, faltaram á chamada apenas A Vida Invisivel e o filme do Fincher. Convém é arranjar tempo. 2) Este ano voltou a demonstrar as visões do mundo e do cinema que possuímos( exemplarmente apresentadas na lista aí ao dispor), e que são as seguintes: não temos nenhumas. Umas generalizações avulsas, umas opiniões pouco cimentadas, nada de muito elaborado. Deixamos as certezas para os outros. Talvez, na melhor das hipóteses, uma visão do cinema baseada nessa grande crença que é o Gosto. Tanta foi a emoção e o gosto de ver o Ventura a abrir uma folha de papel, colocá-la na mesa e apoiar a cara numa das mãos, como a de ver o Tom Cruise a enaltecer-se numa das mais épicas demonstrações de narcissismo dos últimos anos no cinema norte-americano. 3) Serra e Oppenheimer, muita é a nossa vontade de irmos dar um passeio com vocês pela Serra do Gerês. Que belas e tão cintilantes escarpas. Bom ano a todos. |
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Não vou gastar o meu latim (nem, muito menos, a vossa paciência) a dissertar sobre aquilo que toda a gente sabe, nomeadamente: que, se porventura esta lista dos melhores filmes de 2014 tivesse entrado em linha de conta com as várias «estreias intempestivas» que ele nos reservou (três Ozus magníficos; o Charulata e A Grande Cidade de Satyajit Ray…), o resultado seria outro. Com esses «velhos» filmes ombreiam apenas, de igual para igual, os novos trabalhos de Joshua Oppenheimer, Pedro Costa, Joaquim Pinto e James Gray – espécie de «quarteto fantástico» que prova, à saciedade, que 2014 foi, apesar da crise, um ano memorável para o cinema português. De resto (e talvez não por acaso), os melhores filmes de 2014 estão (ou assim me quer parecer) sob o signo do passado e da necessidade de revisitá-lo para interrogar o presente. É esse, de maneira evidente, o caso dos documentários de Joshua Oppenheimer e de Rithy Panh (que resgatam e reencenam a memória da história política da Indonésia e do Cambodja), mas também o do novo filme de Pedro Costa (que convoca os fantasmas de uma revolução que deixou promessas por cumprir, ao mesmo tempo que enceta um magnífico diálogo com a herança do «expressionismo»). Termino com uma nota à margem – não porque faça grande sentido, mas porque me apetece. Numa entrevista que fiz recentemente a Ossama Mohammed (a propósito do belo documentário que realizou sobre a guerra civil na Síria), ouvi-o dizer que a única razão que o leva a fazer filmes é o pressentimento de que, através deles, conseguirá talvez acrescentar um milímetro (“maybe more, maybe less”) à história do cinema. Foi esse desejo e essa ambição que, parece-me, faltou à vasta maioria dos filmes que por cá estrearam ao longo de 2014. |