Decorre nos próximos dias 4 a 13 de Dezembro a primeira edição do Festival Porto/Post/Doc, o novo festival de cinema da cidade do Porto. Dividindo-se em três locais de exibição próximos e perto do coração da cidade, o Teatro Municipal Rivoli, o Cinema Passos Manuel e o Espaço Cultural Maus Hábitos, um dos objectivos do festival será trazer de novo o cinema e o público a uma cidade onde os cinemas foram desaparecendo. O nome, além da cidade, remete para o género do documentário sobre o qual incide o festival, e as histórias do real que pretende apresentar, que permitem também uma exploração da fronteira cada vez mais ténue entre o documentário e o ficcional. “Onde está o real?” é a pergunta e o nome do Fórum a realizar-se no dia 10 (Foyer do Teatro Rivoli, entrada gratuita), quando um painel de personalidades ligadas ao cinema, como Augusto M. Seabra e Cíntia Gil (directores do DocLisboa), João Canijo e João Rui Guerra da Mata, irá debater essa linha divisória entre ficção e documentário, que será acompanhado por uma selecção de filmes a exibir durante o festival.
O primeiro grande destaque da programação pertence ao filme da sessão de abertura oficial, Concerning Violence (A Respeito da Violência, 2014) de Göran Olsson [dia 6 no Grande Auditório do Rivoli às 21h]. O realizador de The Black Power Mixtape 1967-1975 (2011), filme onde recorria a imagens de arquivo para lembrar a história ignorada e muitas vezes mal contada do movimento Black Panthers na América, volta a pegar em imagens de arquivo aliadas a um texto, para explorar outra história esquecida que é o problema da colonização, e das relações entre europeus e africanos, aqui com especial incidência nos países africanos que foram colonizados por Portugal. Concerning Violence será exibido no âmbito da secção Persona, onde estão programados filmes ligados às questões dos direitos humanos, através de uma visão crítica e social, tal como o filme da sessão de encerramento, The Salt of the Earth (O Sal da Terra, 2014) [dia 13 no Grande Auditório do Rivoli às 21h], colaboração entre Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders, que seguem o fotógrafo Sebastião Salgado à medida que este parte à descoberta de uma fauna e de uma flora selvagens, numa homenagem ao nosso planeta. Destaque ainda nesta secção para a exibição de Fu Yu Zi – Father and Sons (Pai e Filhos, 2014) de Wang Bing [dia 10 no Grande Auditório do Rivoli, às 19H], filme que recentemente venceu o prémio para a competição internacional do DocLisboa.
Apesar de não haver uma competição exclusivamente nacional, já que outro dos objectivos do festival será colocar os filmes portugueses no mesmo plano que os internacionais, não faltarão documentários portugueses na programação, com direito a uma secção própria, Cinema Falado. Três desses filmes foram seleccionados na secção de competição: João Bénard da Costa – Outros amarão as Coisas que eu amei (2014) de Manuel Mozos [dia 8 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30; repete dia 11 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h], estreado este ano no DocLisboa, que através de uma conversa com João Bénard da Costa e das suas ideias sobre o cinema português, estabelece uma interacção entre a construção do documentário e as imagens e sons de alguns filmes; As Cidades e as Trocas (2014) de Luísa Homem e Pedro Pinho, [dia 9 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h, repete dia 11 no Pequeno Auditório do Rivoli às 15h], que fazem um registo silencioso da chegada de uma economia de escala, dos seus fluxos e dos seus efeitos na transformação da paisagem de uma cidade; Volta à Terra (2014) de João Pedro Plácido (dia 7 no Pequeno Auditório do Rivoli às 15H, repete dia 13 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h) sobre uma povoação isolada nas montanhas do Norte de Portugal, onde vivem quatro gerações que perpetuam um modo de vida ancestral. Ainda na secção dedicada ao cinema português será possível festejar o aniversário de Manoel de Oliveira no dia 11 [no Grande Auditório do Rivoli às 21h], numa homenagem ao realizador com a exibição de quatro dos seus filmes, incluindo o primeiro Douro, Faina Fluvial (1931) e a estreia do seu filme mais recente, O Velho do Restelo (2014), além de O Pintor e a Cidade (1956) e Painéis de São Vicente de Fora – Visão Poética (2010). Entre os filmes portugueses programados, será possível ainda assistir a Dreamocracy (2014) de Raquel Freire e Valérie Mitteaux [dia 10 no Grande Auditório do Rivoli às 21h] e Acima das nossas Possibilidades (2014) de Pedro Neves [dia 10 no Passos Manuel às 22H30].
Na secção Competição, um dos destaques vai para o novo documentário de Lav Diaz, o celebrado realizador filipino, cujo recente Norte, hangganan ng kasaysayan (2014), um épico intimista de quatro horas sobre como três personagens reagem ao desabar da sua realidade, tem acumulado elogios pela crítica depois da passagem em Cannes e surpreendido, pela possibilidade de uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Aqui Lav Diaz apresenta Mga anak ng unos – Storm Children (Tempestade Crianças, 2014) [dia 6 no Pequeno Auditório do Rivoli às 14h, repete dia 12 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30], um documentário sobre a passagem do tufão Yolanda (Haiyan), considerado a mais forte tempestade da história, e os efeitos devastadores sobre a população das Filipinas. Ainda na secção competição, há a oportunidade para ver Waiting for August (À Espera de Agosto, 2014) de Teodora Ana Mihai [dia 8 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h, repete dia 10 no Pequeno Auditório do Rivoli às 15h], sobre uma adolescente romena encarregue de tomar conta dos irmãos enquanto a mãe ausenta-se à procura de trabalho, e que é um dos nomeados para Melhor Documentário nos European Film Awards; Letters to Max (Cartas para Max, 2014) de Eric Baudelaire [dia 8 no Pequeno Auditório do Rivoli às 15h, repete dia 13 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30], registo de uma troca de correspondência entre o realizador e um ministro dos negócios estrangeiros de um país, uma região da Geórgia, que nunca foi reconhecido pela comunidade internacional; já Atlas (2013) [dia 5 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30, repete dia 12 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h] é uma nova incursão do fotógrafo Antoine D’Agata no documentário; Danger Dave (2014) de Philippe Petit [dia 9 no Pequeno Auditório do Rivoli às 15h, repete dia 11 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30] mostra-nos um retrato próximo, sobre a ascensão e queda de um famoso skater; e L’Abri (O Abrigo, 2014) de Fernand Melgar [dia 7 no Pequeno Auditório do Rivoli às 18h, repete dia 10 no Pequeno Auditório do Rivoli às 21h30] sobre um abrigo nocturno em Lausanne, onde todas as noites, e sobre os sem-abrigo que lá procuram refúgio, mas onde nem todos têm lugar.
Uma das iniciativas originais do festival foi a atribuição de convites a outros programadores, sob a forma de cartas brancas, para assumirem parte da programação do Festival. Além das colaborações com o CPH:DOX (Copenhagen International Documentary Film Festival) e o FID Marseille (Festival International de Cinéma de Marseille), Dennis Lim (programador de cinema do Lincoln Center New York) apresenta uma selecção de filmes – destaque para Mille soleils (2013) de Mati Diop [dia 5 no Passos Manuel às 19h], vencedor do prémio para melhor curta-metragem no IndieLisboa 2014; e o realizador galego Lois Patiño, que apresenta uma mostra de alguns documentários espanhóis recentes, que permitirá conhecer uma nova geração de cineastas do país vizinho – destaque para Costa da Morte (2013) [dia 9 no Passos Manuel às 22h30], do próprio Lois Patiño. No meio desta programação diversificada, há ainda espaço para uma secção ligada à música, que pretende dedicada conciliar a exibição de documentários, com concertos e outras actividades – destaque para a exibição de Duran Duran: Unstaged (2011) do realizador David Lynch [dia 5 no Passos Manuel às 22h30].
A programação completa do Porto/Post/Doc pode ser consultada aqui. A mais recente Conversa à Pala teve como convidado o director do festival, Dario Oliveira, e está disponível aqui.