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A palavra é uma arma

De Tiago Ribeiro · Em 5 de Janeiro, 2015

Nada que me provoque grandes constrangimentos ou indignações, mas não deixa de ser curioso que por qualquer ordem de razões, o cinema de Takeshi Kitano tenha desaparecido das salas nacionais há coisa de uma década, após a estreia de Zatôichi (2003). Daí para cá, cinco filmes, e Portugal Continental e ilhas ao largo. Se nos dissessem, há uma vintena de anos, que tal iria suceder, iríamos dar mergulhos de riso para as águas do mar ali na Fonte da Telha. Eram os tempos do Kitano “consensual”, darling de festivais e críticos, presença regular nas listas de melhores do ano e da década, uma fartura de encómios. Agora são os tempos em que um filme de um padeiro romeno tem muito mais hipóteses de ser bem recebido e ter mais divulgação do que um do mestre da cicatriz.

Outrage

Autoreiji (Ultrage, 2010) marcou o regresso de Takeshi ao mundo yakuza que o celebrizou, depois das aventuras meta-cinematográficas de Takeshis (2005) e Kantuku-Banzai (2007), filmes onde Kitano questionava o ícone que tinha construído em quase duas décadas, sobrando ainda tempo para se rir de si próprio e de também nos colocar a gargalhar, embora tal não seja grande novidade nos filmes do homem, cada um deles com motivos mais do que suficientes para festivais de risadas em menor ou maior quantidade. Mais motivos de riso: Takeshi fez Autoreiji para ganhar dinheiro; integridade e dignidade económica exemplares.

Autoreiji também poderia ser o filme que Kitano devesse ter feito a seguir a Hana-Bi (Fogo de Artifício, 1997) e a Kikujirô no natsu (O Verão de Kikujiro, 1999), como resposta directa a algumas acusações de “sentimentalismo” (que horror!) que se cunharam aos dois filmes em questão, sobretudo ao segundo, esquecendo-se os sujeitos e sujeitas de tais diatribes do absoluto e maravilhoso pudor de Takeshi em se abrir a tanta demonstração de afectos; basta pensar naquele abraço final entre o seu Kikujiro e Masao. Autoreiji, na sua “desumanidade”, seria um esclarecer perfeito de Kitano como homem que não cede a essas parvoíces dos sentimentos e das emoções mais lacrimejantes, uma vergonha.

O realizador japonês, numa entrevista dada algures a alguém, afirmou que era normal as pessoas no Japão (ou apenas em Tóquio?) se tratarem por “idiota” (Baka), perguntando coisas como “Que horas são, idiota?”, “A que horas é o autocarro, idiota?”, ou “Deus nos livre de alguma vez termos o idiota do Von Trier a filmar aqui, idiota”. Custa a crer em tanta informalidade, e desconfiamos que Takeshi exagera, mas o relativismo moral e sociológico é algo que existe e anda por aí, portanto não metemos a mão no fogo na negação de tais costumes. Seja como for, é dessa informalidade elevada a 1000% de blasfémia e profanação que se faz a essência de Autoreiji, onde todos se insultam mutuamente num festival de asneiredo só comparável ao bonito circo de balas e armas brancas que o acompanha.

Exemplar das metralhas verbais que por aqui passeiam, está essa cena onde Takeshi parece ter concentrado todos os tiques e clichés dos seus yakuzas num espaço e tempo bem delimitados. Que o próprio cineasta esteja lá e a rir, não espanta: não só a cena é cómica, como também a mise-en-scène da mesma o deverá ter sido, com actores a cuspirem alarvidades na cara uns dos outros sem pathos  a atravancar o caminho  em direção ao aparecimento de um x-acto que já é em si autêntica irrisão. Talvez seja esta a cena-chave do filme, onde se conjugam violências físicas, verbais e mentais, sem lugar a lirismos e comoções, a não ser as do riso. Raramente as palavras e suas propriedades onomatopaicas (para nós, “estrangeiros”) contiveram em si tanta apelação ao acto de rir.

Autoreiji e a sua sequela Autoreiji: Biyondo (2012) provam que Takeshi Kitano, embora longe dos holofotes “culturais” da década de noventa, ainda continua por aí, seja nesta sua zona de conforto como nos tais filmes de mise-en-abyme, mas todos eles unidos pelo mesmo desejo de fúria irrisória que só nos poderá agradar. E as notícias da sua “menoridade fílmica” só nos fazem lembrar do que disseram de Coppola após Apocalypse Now (1979), esse tempo em que homens de barba rija e pêlos no peito andavam a chorar pelas esquinas pelo facto do barbudo andar a fazer One From The Hearts e Peggy Sues e Rumble Fishs, etc, também ainda choro se não páro de me lembrar disto. Um electricista romeno terminou um filme e vendeu os direitos de exibição ao nosso país durante o período em que este texto esteve a ser “pensado” e teclado.

https://www.youtube.com/watch?v=PF5n_P-wlvk

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Francis Ford CoppolaTakeshi Kitano

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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