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À pala de Walsh
Festivais, Harvard na Gulbenkian 0

Tren de Sombras (1997) de José Luis Guerín

De Carlos Natálio · Em 8 de Janeiro, 2015

A noite corre as cortinas que o Sol abre.

Música e luz acompanham o nosso entendimento.

Todas as coisas são amáveis com a nossa carne. (…)

(…) O homem é um mundo,

e tem outro para o servir.

George Herbert

Quando se monta uma imagem a outra e se sabe que se quer fazer (ou chegar) a um filme há sempre uma dupla dinâmica que se abre. Uma, a do procurar e do encontrar. Duas, a do construir e do destruir. Sendo esses movimentos próprios do comboio fílmico são também temas centrais no que move o cinema de José Luis Guerín. Esse espanhol, que vai dialogar este fim de semana com o português Vítor Gonçalves no ciclo Harvard na Gulbenkian, mostra em Tren de Sombras (Comboio de Sombras, 1997), o seu melhor filme [talvez só atrás da obra-prima En construcción (Em Construção, 2001)] o nó onde estas dinâmicas se encontram e se tornam mais visíveis.

Os outros dois filmes do espanhol que compõe esta “conversa” – Unas fotos en la ciudad de Sylvia (2007) e En la ciudad de Sylvia (2007) – são aqueles onde a procura (com figuração feminina ou sem ela) é o motor para a viagem urbana ao estilo goethiano e onde as sombras do espaço de Estrasburgo se confundem com as sombras que só aparentemente têm carne e osso e que um dia se encontraram para só depois se dissolverem e para sempre se buscarem. Essa procura, cujo encontrar apenas serve para preencher a constante flânerie do observador e a hipótese de uma “vida invisível”, tem um contraponto no olho de Guerín sobre o desaparecimento do Barrio Chino em Barcelona no filme de 2001. Como os espectros de Pedro Costa, também o espanhol apanha a construção da nova brancura das paredes dos edifícios que os homens das obras estão a construir e que significam a demolição da parede na qual a prostituta desenha.

Estranha “ventura” a do cinema português, também ela a remoer entre o ficar e o partir, entre o olhar o que há do lado de lá da janela e os desenhos principescos feitos de sombra que a luz ténue arranca às paredes de uma enxerga. De invisibilidade, de sombra e viagem (interior e exterior) se fará certamente este encontro entre Guerín e Vitor Gonçalves. En construcción apela sobretudo à exploração de um movimento que é sempre de em construção e de em desconstrução. Umas paredes erguem-se aqui outras acolá se desmoronam, mortos desenterram-se mas têm dentes mais perfeitos do que muitos vivos, a obra artística é por definição aberta mas também a obra dos mestres de obras e, claro, a Obra do “Obreiro” mais aberta não podia ser.

Tren de Sombras, o filme mais assumidamente experimental e meta-cinematográfico de Guerín, procura conversar com as imagens que o advogado parisiense e amador do cinema Gerard Fleury deixou nos anos 30 quando subitamente morreu em circunstâncias misteriosas quando buscava a melhor luz para a sua obra. Este diálogo é feito de uma procura, no(s) seu(s) cinema (s) (no de Fleury e no de Guerín), uma procura que não quer encontrar, de uma construção por sobre a destruição (as sombras que o cinema ontologicamente é e o desbotar das imagens que Fleury nos deixou como retratos familiares de um cinema campestre-  à melhor tradição de Méliès, as gravatas dançantes mas também os gags de jardim e mangueiradas como em Lumière ou mesmo, porque não, o idílico rural que Renoir faria meia dúzia de anos passados – que agora são herdados pelo cineasta espanhol como marcas de experimentalismo e found footage.

Nesse comboio de sombras sempre em movimento que é o cinema, Guerín é bastante claro. Primeiro dá-nos a reconstituição dos filmes de Fleury para depois procurar os espaços na Normandia, na vila de Le Thuit, onde os filmes foram captados. Nessa procura o que era antes um espaço a negro e branco, de música insuflada na aventura familiar de danças, mergulhos e jogos, é agora um caminho de ferro abandonado, cheio de vegetação, um pachorrento quotidiano onde as crianças vão para a escola e um homem apanha folhas no passeio. Guerín herdou um espaço com cor, onde ficou apenas a música do mundo (o pisca do autocarro, a chuva, as bicicletas, os barcos que passam no rio, as máquinas no seu constante trabalhar), uma tela sob o qual se ergue novo muro, isto é, nova construção.

Na segunda metade do filme, quiçá a procura da emoção e da ternura originais do “primitivismo” no cinema de Fleury leva Guerín à reconstrução da figura do cineasta num paisagismo onírico sem narrativa e a uma manipulação das imagens que aquele filmou. Neste acto de (re)construção/desconstrução, as imagens filmadas pelo francês ganham novo fôlego além da paragem do comboio da história do cinema (vista como artefacto dos seus inícios e potencialidades) e abre-se como novo possível na mesma procura do mistério da vida quotidiana, no real onde uma estátua observa um carneiro e os habitantes da cidade entram e saem dos planos de Guerín nesse jogo manifesto entre o material e o imaterial, entre a vida visível e a vida invisível. Tudo contínua aí no mesmo jogo de sombra, o único lugar onde podemos significar sem ter receio de errar por excesso ou defeito.

O filme Tren de Sombras de José Luiz Guerín passa este sábado dia 10 de Janeiro na Fundação Calouste Gulbenkian (sala polivalente do Centro de Arte Moderna), às 18:00, integrado no Programa “Topografias Cinematográficas” da iniciativa Harvard na Gulbenkian.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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