O título original é The Homesman (Uma Dívida de Honra, 2014), não “The Homeswoman”, mas assistimos ao arranque e primeira metade do filme e ficamos com a sensação de que o protagonista é ela (Mary Bee Cuddy/Hilary Swank), a mesma que conduz a carroça desta aventura. Ele chega depois dela, torna-se seu cúmplice para salvar o pêlo (e por um bom punhado de dólares também), e mais tarde assumirá as rédeas do filme: que detinha já, obviamente, na qualidade de realizador e actor (Tommy Lee Jones).
Aquilo que começa por parecer a história de uma mulher independente no Oeste do século XIX, torna-se no percurso de redenção de um desertor que preferiu a liberdade ao sentido do dever. O possível estandarte do feminismo (Mary Bee, figura corajosa e compassiva) termina com uma corda ao pescoço – minutos mais tarde de a termos visto inanimada e à deriva no dorso de um cavalo –, não sem que antes tenha pedido ao companheiro de viagem que a livrasse da “dignidade” de mulher em que nenhum homem havia tocado.
The Homesman tem por maior fragilidade não ser nem uma coisa nem outras, em tantos tiros que dá noutras tantas direcções. O twist inesperado quebra uma narrativa de rins já de si pouco firmes. Vislumbram-se a parábola e a paródia mas o propósito parece ser o de um drama um pouco excêntrico. Fica claro que Tommy Lee Jones não é Clint Eastwood [apesar da sequência do anjo vingador que deixa o hotel em chamas, muito ao jeito de High Plains Drifter (O Pistoleiro do Diabo de 1973)], agora que nem o próprio Eastwood sabe usar com propriedade as suas botas com esporas: recorde-se que ambos contracenaram em Space Cowboys (2000), realizado por um Eastwood então em boa forma.
Naquilo que depende do seu rosto, corpo e voz, Tommy Lee Jones cria uma pantomima que se pode medir com o Lee Marvin de Donovan’s Reef (A Taberna do Irlandês, 1963) de John Ford. Isto seria enorme elogio não fosse tratar-se aqui de novo de um actor de uma categoria à parte. O realizador, apesar de reincidente, é mais incerto ou inseguro. Raras são as situações do filme que conseguem criar a sensação de momentum. A montagem pauta-se pela mesma falta de dinâmica, umas vezes atalhando a despropósito – parecendo que o filme se esquiva a mostrar, em duração, a dureza da história –, noutras demorando-se sem real impacto. Vários alvos depois, boa parte deles falhados, deixamos de nos perguntar a quem pertence a história ou se The Homesman é objecto que guardaremos na memória.