A expressão “dispensa apresentações” é uma maneira bastante preguiçosa de começar um texto mas não deixa de se justificar em relação ao IndieLisboa. Por esta altura, já toda a gente saberá ao que vai quando frequenta o festival de cinema independente de Lisboa, este ano a celebrar a sua 12.ª edição: primeiras obras, cineastas recorrentes, heróis independentes; sobretudo aqueles filmes que não encontram espaço na distribuição comercial (à excepção das ante-estreias, quase todos os seleccionados para as diferentes secções). O IndieLisboa 2015 abre hoje oficialmente, às 18h30, no Cinema São Jorge, com a exibição de Capitão Falcão (2015) de João Leitão (com o qual falámos acerca do seu filme, com ele e com o “capitão” Gonçalo Waddington), sobre o primeiro super-herói português. E continuará até dia 3 de maio, no São Jorge, na Culturgest, na Cinemateca Portuguesa e no Cinema Ideal.
Este ano, volta em força a secção Herói Independente com a retrospectiva integral da obra e a presença de um dos cineastas mais interessantes e subvalorizados dos últimos trinta anos. Se nenhum filme de Whit Stillman se estreou em sala em Portugal (um ou outro foi directamente para VHS), tem-se gerado muito justamente um fenómeno de culto à volta do seu cinema bissexto – em vinte e cinco anos, apenas quatro longas-metragens -, mais europeu do que norte-americano (há ecos de Rohmer), mais literário do que cinéfilo (a grande ascendência do realizador é a escritora Jane Austen, mais do que qualquer cineasta), esteticamente reaccionário, a reposta “conservadora” a Quentin Tarantino (ou assim escrevia Pedro Mexia há uns anos). Metropolitan (1990), a sua primeira obra, passa dia 1 de maio, às 21h45, no São Jorge; a segunda, Barcelona (1994), dia 2, às 18h00, também no São Jorge; The Last Days of Disco (As Noites Loucas do Disco, 1998), dia 30 de abril, às 21h30, no mesmo cinema; e a última longa, Damsels in Distress (2011), dia 3 de maio, às 19h00, ainda no São Jorge. Não querendo ser injusto para a outra heroína independente, Mia Hansen-Løve, pela qual não consigo ser tão entusiasta (até porque lhe desconheço a obra), este pequeno ciclo Whit Stillman é um dos grandes acontecimentos cinematográficos no nosso país em muito tempo. O cineasta norte-americano dará também uma masterclass no dia 2 de maio, às 17h00, no São Jorge. Parece-me tudo imperdível.
No entanto, o principal atractivo do IndieLisboa é a competição (só de primeiras obras). Cinjo-me à das longas-metragens. Na competição internacional, há dois regressos: Radu Jude e Alex Ross Perry, talvez os dois nomes mais sonantes. O romeno, depois do êxito de Toata lumea din familia noastra (Everybody in Our Family, 2012), traz a sua terceira longa-metragem Aferim! (2015) [exibida dia 1 de maio, às 18h00, na Culturgest; e dia 3, às 18h00, no Cinema Ideal], da qual falou na entrevista que deu a Ricardo Vieira Lisboa. O norte-americano dá um grande passo em frente com Listen Up Philip (2014) [que passará dia 24 de abril, às 21h30, na Culturgest; e dia 28, às 22h00, no Ideal], comédia negríssima (tão negra que já quase nem dá para a considerar comédia) com Jason Schwartzman e Jonathan Pryce (a fazer de “Philip Roth”), em relação ao seu anterior The Color Wheel (2011). Na competição nacional, ressalve-se a presença de Catarina Mourão, autora de Pelas Sombras (2010), documentário sobre a artista Lourdes Castro, com A Toca do Lobo (2015) [dia 28 de abril, às 21h30, na Cultugest; e dia 30, às 16h30, no mesmo cinema].
2015 marca ainda o fim das secções Observatório, Cinema Emergente e Pulsar do Mundo, abarcadas daqui em diante sob a designação Silvestre. Nesta nova secção constam algumas das propostas mais interessantes: Mar (2014) da vencedora do IndieLisboa 2012 Dominga Sotomayor [dia 23, às 22h00, no Cinema Ideal; e dia 25, 18h00, no mesmo cinema]; Le paradis (2014) de Alain Cavalier, realizador entrevistado por Francisco Valente há cerca de dois anos [dia 25, às 23h45, no São Jorge; e dia 3, às 15h00, no mesmo cinema]; La Sapienza (2014) de Eugène Green [dia 25, às 18h45, no São Jorge; e dia 1, 23h45, na mesma sala]; Queen of Earth (2015), que Alex Ross Perry rodou ao mesmo tempo que Listen Up Philip com a actriz Elizabeth Moss [dia 2, às 21h30, na Culturgest]; Trudno Byt’Bogom (Hard to be a God, 2013) de Aleksei German [dia 2, às 17h30, na Culturgest]. Uma nova secção a começar este ano é Boca do Inferno, de mais difícil classificação, na qual se concentram Im Keller (In the Basement, 2014) de Ulrich Seidl [dia 27, às 21h45, no São Jorge], White Bird in a Blizzard (2014) de Gregg Araki [dia 24, às 18h00, na Culturgest], e The Duke of Burgundy (2014) de Peter Strickland [dia 24, às 00h00, no Ideal; e dia 29, às 00h00, na mesma sala].
Outro destaque é o filme colectivo Aqui, em Lisboa (2015), realizado por Denis Côté, Dominga Sottomayor, Gabriel Abrantes e Marie Losier para comemorar os primeiros dez anos do IndieLisboa.
Todas as informações sobre o IndieLisboa 2015 estão disponíveis no site do festival. A programação em PDF pode ser encontrada aqui.