De tudo aquilo que se disse sobre American Sniper (Sniper Americano, 2014), uma coisa – que a meu ver é essencial – nunca foi referida (ou se o foi, não me atravessou a retina): num filme sobre o mais produtivo atirador furtivo da história militar norte americana, Eastwood decidiu que quantidade não era qualidade, e por isso fez um filme que tenta (quase desesperadamente) contar a história de cada bala. Como se ao sabermos o que envolveu cada disparo, ao percebermos a infinidade de variáveis que antecedem o premir do um gatilho, pudéssemos de algum modo compreender o algarismo. No fundo a operação de Eastwood é semelhante à conversão informática de data em meta-data, isto é, a conversão dos factos secos em narrativa. E em Eastwood essa narrativa é redentora (mas nunca salvífica), já que não há cartuxo irreflectido.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.