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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

The Salt of the Earth (2014) de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders

De Carlos Natálio · Em 9 de Abril, 2015

Sabendo do gosto por uma certa “necro-ciné-filia” de Wim Wenders (quem não se lembra do filme com um moribundo Nicholas Ray ou a homage à falecida Pina Bausch), confesso ter temido pela saúde do fotógrafo Sebastião Salgado, quando soube que o alemão ia fazer um filme sobre a sua carreira. Nada de mais errado pois o brasileiro está de viva saúde e recomenda-se, aliás vem este mês de Abril a Lisboa para apresentar a sua mais recente exposição “Génesis”. Se o ímpeto da génese para Salgado surge como indagação da natureza e do universo animal e como corolário do trabalho de um homem que sempre construiu o seu olhar no social e no antropológico, para Wenders a génese surge com essa curiosidade por alguém que, através das imagens que produzia, se via que queria saber das pessoas, pois elas, são como diz a bíblia, “o sal da terra”. Ainda para Juliano Salgado, filho mais velho de Sebastião e co-realizador, a génese estaria provavelmente nessa possibilidade de partilhar as aventuras de um aventureiro que aprendeu a ver ausente.

The Salt of The Earth (O Sal da Terra, 2014) de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado

Já a génese do filme é no negro e de outra forma não podia ser pois esta e o branco são as cores de Salgado. The Salt of the Earth (O Sal da Terra, 2014) abre-se assim progressivamente do breu à sombra e desta à luz, processo da fotografia, o de escrever com luz e sombras. Embora ele comungue com outro documentário biográfico em sala Che strano chiamarsi Federico (Que Estranho Chamar-se Federico, 2013) um mesmo plano de apresentação do homenageado (Fellini num caso, Salgado no outro) – de costas para a câmara como que a mostrar que ambos são homens que viam o que nós não víamos, viam mais longe – logo Wenders percebe que o fotógrafo possui, aos 70 e tal anos, um “rosto de poesia” cujas linhas contam tanto as viagens que fez como as imagens que de lá trouxe. Ao perceber isso filma-o sempre de frente, centralizando o nosso olhar.

Esta opção, a de colocar em diálogo, em campo contra-campo as fotografias e o seu autor tem a vantagem de aligeirar a didáctica progressão cronológica do propósito biográfico além de permitir ao espectador juntar-se a Wenders e a Juliano, nessa descoberta de um homem e seu trabalho. Sente-se que estamos numa visita guiada e que é o autor que contextualiza cada fotografia. Se parece uma descrição museológica do que deveria ser cinema, não deixa de haver coisas de filme que intrigam.

em The Salt of the Earth são as imagens fixas aquelas que mais se movem. E movem-se precisamente porque ao contrário da flutuação dos olhares dos cineastas, o olhar de Sebastião Salgado é de uma natureza implacável, quase feroz.

A instauração de um circuito de olhares (Wenders a filmar Sebastião, por sua vez fotografado pelo pai, ou outros emaranhados criativos), e consequentemente um duelo de objectivas, é mais set up intencional pelo qual aquelas pessoas partem para o filme do que objecto de grande reflexão. O certo é que, poderá soar a cliché mas quem vir o filme dificilmente o desmentirá, no duelo entre imagens fixas, “mortas” com muita aspa (as de Sebastião), e as imagens em movimento (de Wenders e Juliano) nós sabemos quem leva a melhor. Dito por outras palavras, em The Salt of the Earth são as imagens fixas aquelas que mais se movem. E movem-se precisamente porque ao contrário da flutuação, hesitação dos olhares dos cineastas, o olhar de Sebastião Salgado – seja a mostrar como a pata de uma iguana nas ilhas Galápagos pode ser a prefiguração darwiniana de uma armadura medieval ou a expressão ávida dos garimpeiros na mina de ouro da Serra Pelada no Brasil – é de uma natureza implacável, quase feroz. E a essa implacabilidade Wenders soube responder e bem filmando-o, como se disse, em plano central, dando a esse olhar uma resposta cristalina. Um olhar atento outro reclama.

A dada altura surge a ideia, um tanto ou quanto banal, de que o rosto, o olhar das pessoas, quando captado em fotografia “abre” como revelação para o interior das mesmas. O mesmo se poderá dizer das vozes off do filme, sobretudo o delicodoce de Wenders que instaura uma dimensão pessoal tão ao contrário de por exemplo vozes entusiasmadas como a de Mark Cousins no seu The Story of Film: An Odyssey ou a célebre dureza do timbre dos documentários de Werner Herzog. A voz de Sebastião Salgado, por sua vez, carrega uma limpidez que complementa o seu próprio discurso, forma e conteúdo em uníssono, e, ao ouvi-la, começamos a acreditar naquilo que lhe contou um camponês equatoriano de nome Guadalupe. Disse-lhe que cria que o Sebastião tinha sido “enviado dos céus”, pois segundo a lenda dos Saraguro, povo índio do Equador, Cristo ou os seus enviados vinham à terra para os observar e ajuizar se mereciam ou não o céu. Está lançada a metáfora do fotógrafo-Cristo que veio ao mundo para observar as pessoas.

Essa metáfora crística embora obviamente adense o tom de homenagem do documentário permite reavaliar o que muitos apontam ao trabalho do fotógrafo: uma certa esteticização da pobreza. Sobretudos os trabalhos que fez em África, a descida ao “coração das trevas”, mostrando a fome na Etiópia, ou os refugiados Tutsi, colocam a questão ética de fotografar corpos de crianças magras como cabides, mortas no meio da estrada. A tarefa de sangue frio da composição, que em Salgado vem antes das lágrimas, parece sempre surgir ao abrigo de um propósito mais largo de observação do mundo, e sobretudo, numa obrigação qualquer de dar a ver o que acontece àqueles que não sabem que tais horrores acontecem de facto. Essa passagem da “mera” fotografia ao testemunho parece fundamental para perceber o alcance social e político de tal trabalho.

À medida que Sebastião envelhece e que se fascina pela natureza e o universo como todo, poder-se-á dizer que o seu trabalha se “banaliza” um pouco, acontecendo o mesmo com The Salt of the Earth que termina numa nota quase new age sobre o fascínio da chuva ou um certo discurso sobre a possibilidade de travar a destruição ambiental. É o Génesis como fim, como origem mais apaziguada ou quiçá, um certo tom de resignação. Contudo, não sendo um objecto cinematográfico original, o percurso que traça mostra bem (comercialmente bem entenda-se), para quem não conheça, o trabalho de um dos mais prolíficos fotógrafos da actualidade.

 

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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1 Comentário

  • Crisitna diz: 10 de Abril, 2015 em 10:52

    O filme é tão mau como este texto. Já agora, o que é um clichet?

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