Olho bem – foi assim que, provocativamente, sabiamente, respondeu Carlos Melo Ferreira sobre a forma como via, passados 65 anos, o final de Stromboli (1950). Mais do que o humor fino, está latente na resposta o modo como, visionamento após visionamento, o cinema de Rossellini se afigura, para o espectador, uma constante redescoberta, um constante aprimorar do olhar sobre as tensões (sociais, políticas, morais) da guerra, sobre a Itália (e que Itália) saída de 1945, sobre a mulher (mais do que a actriz) Ingrid Bergman e, naturalmente, sobre o próprio Rossellini. Mas, acima de tudo, sobre o cinema, não fosse Rossellini um dos responsáveis maiores por alguns dos cortes “epistemológicos” mais importantes da sua história, de que a transição do neo-realismo para o cinema moderno é apenas um exemplo. Numa Conversa muito rica, que contou com Carlos Melo Ferreira e Paulo Cunha, ambos professores e investigadores de cinema, falou-se um pouco de tudo o que gravita à volta da obra de Rossellini, desde o ciclo da Gulbenkian à famosa mesa-redonda de Bénard da Costa e companhia, passando pelos cortes da censura, pelo percurso televisivo e, ainda, pelos aparentes (?) e fecundos paradoxos no percurso do Mestre italiano. Penso sempre que ela não volta para trás, que continua a atravessar…
O À pala de Walsh agradece a colaboração e gentileza da Medeia Filmes, Teatro Municipal do Campo Alegre e Câmara Municipal do Porto, bem como da Sara Campino (responsável pelo cartaz de divulgação do evento).
Vídeo: Catarina David. Operador de Câmara: David Antunes.