Em Máscara de Aço contra Abismo Azul (1989), o filme de Paulo Rocha dedicou a Amadeo de Souza Cardoso, ouve-se a certa altura, aquando da inauguração de uma exposição dedicada ao pintor na Fundação Gulbenkian, uma voz sem corpo (entre tantas que compõem essas vernissages) que diz algo como “muito abstracto, estas coisas não me entram na cabeça”. A verdade é que a tradição do abstracto em terras lusas teve durante largo período ausente dos costumes artísticos, aliás, nos anos 1930 Adolfo Casais Monteiro interrogava-se sobre a impossibilidade de pintores portugueses fazerem obras abstractas (ressalva feita a Amadeo, naturalmente…). O atraso do movimento artístico na sua chegada a Portugal reflecte-se ainda hoje, não tanto na pintura, mas por exemplo no cinema.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.
