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O Tempo e o Modo

De Tiago Ribeiro · Em 2 de Junho, 2015

Apurados estudos e auditorias fez-nos chegar a esta conclusão: esta croniqueta está anquilosada, a precisar de renovações e de novas pinturas. Para começar, e já este mês, não será apenas um filme a ser “analisado”, mas dois. Estamos em negociações para trazer novas atracções para estas bandas, mas já levantamos uma pontinha do véu sobre o que se poderá vir a passar: rifas. Além do mais, esta primeira escolha de dois filmes servirá para colmatar a falha de este escriba não ter redigido palavra alguma sobre a morte de Manoel de Oliveira, algo que aconteceu por influências geopolíticas. Aguardemos as análises serenas e ponderadas do General Loureiro dos Santos e do Martim Cabral sobre tal. E é isto.

Famalicão (1941) é a curta-metragem de Oliveira que precede a estreia na longa com Aniki Bobó (1942), e foi, segundo o mesmo, “obra feita a pedido, para manter o exercício”. Se se estabelecer como ponto de comparação o Douro, Faina Fluvial (1931), de uma década antes, entram logo pelos olhos adentro as diferenças de ritmo e duração dos planos; à excepção de uma sequência, em Famalicão são abandonadas as rajadas e choques de montagem soviética para dar lugar a uma maior contemplação e discrição, embora para o mestre esta abordagem formal só tenha tido o seu “verdadeiro” início quase vinte anos depois, em O Pintor e a Cidade (1956).

A etnografia de Famalicão é ligeira e humorística, com a picaresca banda-sonora de Jaime Dias e a narração de Vasco Santana, cheia de piscadelas de olho meta-referenciais, a criarem divertimento em barda. Uma sequência ficcional vem reforçar ainda mais o lado festivo sobre uma então ainda vila a dar indícios de modernização (bombas de gasolina, espanto) mas ainda imersa na boa e velhinha ruralidade portuguesa. Os costumes de Famalicão, as suas grandes feiras e vindimas, um retrato português, com certeza.

Se também, como em Famalicão, há momentos “rurais” (as inevitáveis feiras, a aqui apanha do trigo em vez da das uvas), em As Pedras e o Tempo o foco está na arquitectura da cidade, o modo como ela molda um espaço social, a luz a bater nos brancos casarios de Évora, as ruínas como testemunho

Planos oblíquos e grandes planos reminiscentes dos mudos de Dovzhenko quase passam invisíveis, ofuscados pela narrativa recreativa, sempre atenta às infinitas particularidades de uma região e de um país de determinada época. Será em vão que se procurem por aqui julgamentos sobre um determinado modo de vida, sejam eles “positivos” ou “negativos”, o que é uma maravilha. Para efeitos de propaganda, é melhor meter os olhos na deliciosa escandaleira de Lisboa de Hoje e de Amanhã (1948), do António Lopes Ribeiro. Em Famalicão, julgamentos só os dos seus intérpretes, sobre a qualidade do gado nas feiras e o da mais valia das uvas.

As Pedras e o Tempo (1961), de Fernando Lopes, é já de outro campeonato. Primeiro filme de Lopes, porventura o primeiro filme da época do Cinema Novo, é uma obra-prima de um quarto de hora. É quase impossível não olhar hoje para esta curta e não ver nela as marcas de um passado que a antecedeu em alguns anos, as marcas do Resnais e do Marker do Les statues meurent aussi (1953), do Nuit et brouillard (1955) ou, sobretudo, do Toute la mémoire du monde (1956), obras onde a passagem do tempo e a as suas memórias eram pasto fértil para criar monólogos e ambiências melancólicas.

Se também, como em Famalicão, há momentos “rurais” (as inevitáveis feiras, a aqui apanha do trigo em vez da das uvas), em As Pedras e o Tempo o foco está na arquitectura da cidade, o modo como ela molda um espaço social, a luz a bater nos brancos casarios de Évora, as ruínas como testemunho. Jacinto Ramos, o narrador, estabelece jogos de palavras com evidentes liberdades poéticas, tranquila e delicadamente tecendo a essência de um espaço e de um tempo. Breves quanto majestosas panorâmicas sobre as colunas e claustros dos monumentos é mais gasolina para o torpor desta genial curta. E a música, sublime, de Filipe de Sousa, notas de piano por vezes cortadas com sons mais abruptos, mas sempre uniforme nos seus lânguidos propósitos.

O “nacional é que é bom” ainda está muito mais ausente em as As Pedras e o Tempo do que em Famalicão. É uma visão encantada e por vezes abstracta sobre as vicissitudes de uma terra, onde tudo está no sítio certo: narração, movimentos de câmara, música e coiso também. É uma das melhores primeiras-obras de sempre do cinema cá por casa. E, voltamos a relembrar: para efeitos de grandiosos nacionalismos, é consultar Lisboa Hoje e de Amanhã, do grande Lopes Ribeiro.

Duas curta-metragens portuguesas separadas por vinte anos mas com um ponto em comum: o de mostrar que por aqui também se sabia fazer “sinfonias sobre cidades” (ou aldeias ou vilas), com as suas devidas particularidades, escalas e necessidades. Cá para a gente: preferimos estas modéstias de tostões aos Ruttmann e Ivens dos anos 20 e 30 (bandido!). Lisboa Hoje e de Amanhã, atenção.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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